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Cietec: um criadouro de ideias e empresas de vanguarda

Publicado em 01 setembro 2018

O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia - CIETEC é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/IPEN. Localizado estrategicamente no campus IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) da USP (Universidade de São Paulo), foi criado na forma de associação civil sem fins lucrativos de direito privado, com o objetivo de promover o empreendedorismo inovador, incentivando a transformação do conhecimento em produtos e serviços de valor agregado para o mercado.

Ao longo de seus 21 anos de existência, o Cietec vem gerando indicadores que mostram marcos de desempenho que o identificam como referência para o setor da inovação e do empreendedorismo no Brasil e internacionalmente. Na Incubadora USP/IPEN- Cietec são oferecidos suporte e apoio nas áreas tecnológicas, empresarial e na captação de recursos de fomento e investimento, além de infraestrutura física e ambientes de convívio compartilhado e sinérgico, direcionados para o desenvolvimento e fortalecimento dos negócios de micro e pequenas empresas de base tecnológica. A Revista HOSP ouviu com exclusividade o sr Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, para conhecermos mais sobre a entidade. Acompanhe: Revista HOSP: Pode nos contar um pouco da história do Cietec?

Sérgio Risola : O Cietec surgiu da convergência de fatores que juntou a Secretaria de Estado de São Paulo, o Sebrae São Paulo e o IPEN. O Sebrae afirmava que São Paulo precisava de uma incubadora dentro da USP. O IPEN decidiu apoiar o Sebrae e a Secretaria de Estado também entendeu que era o momento de criar esse núcleo incubador. Foi dessa forma que surgiu o CIETEC, cuja governança é conduzida por um Conselho de Direção Estratégica constituído por membros indicados pela USP, lpen, FIESP e Anpei. Quando chegamos a esta localização, o prédio que estava abandonado há 25 anos nos foi cedido para que fizéssemos as alterações necessárias para que pudéssemos funcionar. Começamos em 1998, com sete startups, fomos crescendo e conquistando mais parcerias.

As empresas se cotizam, pagam uma taxa associativa que nos permite mantê-las incubadas aqui. Hoje, contamos com cerca de 110 a 120 startups, que geram um fluxo diário de aproximadamente 750 pessoas. Dessa forma, o Cietec nasce para ser uma porta de negócios da pesquisa da USP, do IPEN, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e da Esalq (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"), de tal forma que esses centros foram se con vergindo para receber empreendedores, não apenas empresas vindas das áreas tecnológicas, mas de todos os setores no mercado. Historicamente, 1/3 das empresas que recebemos vêm dessas instituições e 2/3 vêm do mercado. A condição para entrarem aqui é que, de fato, o empreendedor demonstre que quer desenvolver soluções que envolvam, de alguma forma, inovação. Além disso, ele precisa demonstrar que precisa do conhecimento que dispomos. A partir daí, vamos ajudá-lo nesse link com o conhecimento e toda uma gama negócios, como por exemplo, comunicação, colocá-lo na mídia, nos eventos, etc, para impulsionar o seu negócio. Contamos também com um time de advogados para dar o suporte jurídico a essas empresas, inclusive no tocante aos meandros complexos da propriedade intelectual e patentes. Temos também um time de profissionais ligados à investimentos e ávidos para investir em bons negócios. No final das contas, o que mais realizamos por aqui é networking, estabelecemos pontes.

HP: Quais são as principais diretrizes do Cietec?

SR: Nossa principal diretriz é gerar uma startup de sucesso. Ao longo dos 21 anos do Cietec, já graduamos 180 startups para o mercado, que ficaram aqui de 2 a 4 anos, algumas até mais, e passaram por todas as fases do Cietec, receberam todo tipo de apoio e ajuda, e, hoje, estão no mercado caminhando. Um exemplo dessas empresas é a Trampo, uma interessantíssima empresa do ramo de reciclagem de lâmpadas à mercúrio. Trata- se de uma startup que nasceu aqui, em um modelo de negócio inovador, inspirado em modelos observados na Suíça e na Holanda, e cujo empreendedor trouxe a ideia para o Brasil, e com a ajuda do IPT e da Poli, este projeto foi bastante melhorado e desenvolvido, até que a empresa foi vendida para os donos atuais, foi desenvolvida e agora busca se transformar numa franquia nacional ou até internacional. Outra diretriz importante para nós é perceber que a universidade começou a pensar "empreendedoristicamente", e não apenas em gerar conhecimento. Ela começa a perceber que se quiser inserção na qualidade da mão de obra que ela forma, a sua bancada tem que ser do professor/pesquisador com foco em negócio no mercado. Então é nossa diretriz, perceber que criamos valor para a universidade. Outra vertical de importância para o Cietec passa a ser o que ela transforma em negócios, em produtos, a partir das pesquisas que estão sendo realizadas aqui. Outro indicador que está na balança, neste momento, é olhar o dinheiro que a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) investe aqui. Historicamente, 14% de todo o orçamento da FAPESP está no Cietec (dos programas PITE-Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica e do PIPE - Programa FAPESP Pesquisa lnovativa em Pequenas Empresas). Ao longo do ano de 2017, a FAPESP investiu em nossas empresas cerca de 14 milhões de reais. Portanto, nosso objetivo é mostrar que cada centavo investido nas nossas empresas funciona como uma semente, atraindo grandes investidores privados. Assim, torna-se um indicador importante para a FAPESP, à medida em que mostra que o Cietec cria valor, negócios para a empresa que começou incubada, o que vale também para a Desenvolve, Finep, para o BNDES. Podemos sintetizar que nosso grande objetivo é colocar uma empresa no mercado, andando sozinha, contratando pessoal qualificado, gerando emprego, trazendo profissionais, que a partir dos trabalhos no Cietec, façam mestrado e doutorado, de forma que esse ambiente gere um ciclo virtuoso, o que é esperado de organizações ligadas às universidades.

HP: O que uma empresa precisa para ser incubada no Cietec?

SR: É fundamental que a empresa nos apresente uma ideia inovadora, qualquer que seja seu segmento de atuação. Também precisamos perceber algum valor no projeto, afinal não podemos apoiar ideias que não venham a se mostrar eficientes. Nos certificamos, a partir dos pareceres de especialistas associados, que nos indicam se a ideia do projeto se sustenta. Por isso, precisamos de uma ideia (projeto) bem elaborada, ou, muitas vezes, um protótipo bem elaborado, de forma que possamos ver na prática o que é a proposta. Ou seja, é necessário nos entregar um plano de negócios sintetizado que nos mostre a viabilidade tecnológica do projeto e a estrutura que ele tem para fazer funcionar o negócio, por um ano, antes que consigamos trazer algum investidor-anjo que traga recursos ao negócio. Além de comprovar, durante esse período, que a empresa conseguirá sobreviver pagando sua contribuição participativa para manter a fase embrionária do projeto. E assim a empresa é aceita e incluída no Cietec.

HP: Existem várias modalidades de investimento?

SR: Na verdade, o Cietec não tem modalidades de investimentos. Ele abre um leque muito grande do que é possível captar no mercado em termos de investimento. Estar incubado no Cietec significa contar com facilitação para essas startups. Ou seja, o Cietec é um facilitado r, faz a ponte entre a empresa e o investidor e também prepara a startup para se apresentar para o investidor. Estamos trazendo uma nova consultoria para trabalhar conosco com o foco da organização financeira. Já temos isso para os setores fiscal, tributário, jurídico, propriedade intelectual, design, investimento, mas nos faltava uma inteligência financeira, que estamos trazendo agora. Nosso objetivo é dar às empresas uma visão financeira, de forma a conseguir enxergar o seu desenvolvimentismo e saber fazer projeções no momento certo, uma vez que seu principal objetivo é estar na bancada criando.

HP: Quais são as maiores dificuldades que vocês vivenciam para manter o Cietec?

SR: Na verdade, o que fazemos aqui é equilibrar um fluxo de entrada de negócios, com uma sobrevida e índice de sucesso interessantes. O que seria isso: que a cada 1 O projetos que entram aqui, ao menos dois se transformem em sucesso. Se olharmos quaisquer dos índices: Finep, Sebrae, Fiesp, CNI, BNDES, BVK, mesmo internacionais, como Stanford, MIT, Berkeley, veremos que o índice de sobrevivência de negócios de startups gira em torno de 1 a 3 em cada 1 O. Então, manter essa máquina captando negócios com bom potencial de acerto, considerando o momento difícil do mercado que vivenciamos no momento, e a mentalidade brasileira que conspira contra o empreendedor, todas as dificuldades que temos em conseguir manter ou ampliar linhas de investimentos, é um verdadeiro exercício de equilibrismo. Hoje, o Cietec tem um papel extremamente importante de atuar não apenas na incubação dessas empresas, mas também na luta para manter os recursos com que já contamos.

HP: O Cietec tem outras unidades?

SR: O Cietec teve durante seis anos a unidade Mogi das Cruzes, até que divergências de visão política levaram ao seu fechamento. Depois, montamos uma unidade na Praia Grande (litoral paulista), em virtude da explosão do pré-sal. Com a convulsão que acometeu esse segmento, esta unidade também foi fechada. Hoje, o Cietec está pronto para ampliar suas fronteiras, e temos várias propostas em estudo para analisar a viabilidade dessa expansao.

HP: O Cietec tem empresas em vários segmentos, inclusive o de Saúde. Como vocês tratam as dificuldades em relação à burocracia para regulação?

SR: Desde que o Cietec nasceu, e quando passou a incluir na sua ampliação empresas do segmento fite sciences, convidamos a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que nos auxiliou a especificar como os ambientes dessas empresas precisariam ser construídos para atuar no segmento. Até hoje, o Cietec traz anualmente um profissional da Anvisa, para conhecer a realidade de uma startup e nos auxiliar a adequar nossas empresas.

HP: Vocês têm parcerias com entidades fora do Brasil?

SR: Não, mas temos parcerias, com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), Senai, Senac, Sesi, Instituto Paula Souza e Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que nos permitem estabelecer conexões importantes. Fomos, ao longo dos tempos, montando essa rede de conexões, pontes e contatos que nos auxiliam a continuar executando nosso trabalho de fomento ao empreendedorismo.

HP: Na sua opinião, o que é preciso para melhorarmos a condição do empreendedorismo no Brasil?

SR: Quando se fala em empreendedorismo há que se separar o empreendedorismo contingencial (que recebe auxílio de entidades como o Senai), como temos aqui no Cietec. O empreendedor brasileiro padece de dois males: O primeiro, é o mal de não nos enxergarmos inseridos no contexto mundial. Nosso empreendedor é míope. Como o mercado brasileiro é muito grande e sempre deu vazão para o empreendedorismo nacional, nosso empreendedor nunca precisou olhar nem para o Mercosul. Então, excluindo-se o mercado digital, que agora começa a não ter barreiras, as outras tecnologias todas tornaram o empreendedor brasileiro limitado ao território nacional, que é bastante grande. Essa crise de longo tempo que vem nos acercando tem de acordar nosso empreendedor para que ele nasça pensando grande, sem barreiras, com o objetivo de eliminar essa barreira natural que o brasileiro mesmo faz para o seu empreendedor. O segundo, é a falta de investidores de risco. Sim, temos recursos, mas eles aparecem em maior quantidade em decorrência da qualidade dos projetos que temos aqui, pela maneira com que tratamos e cuidamos dessas empresas aqui abrigadas. Nosso fluxo de capital é muito bom, apesar da crise. Eu diria que a USP, o IPEN, o IPT nos proporcionaram uma grande abertura ao conhecimento, que nos levaram a vencer um degrau importante que era a proximidade do empreendedor com a academia, mas, fora do Cietec, isso não corresponde à realidade. Além disso, há também o gargalo que faz com que o empreendedor leve de 120 a 160 dias para abrir sua empresa, numa longa e custosa burocracia.

HP: Quais são os segmentos de negócios que mais procuram o Cietec?

SR: Destacadamente, de uns quatro anos para cá, são as ciências da vida ou life sciences, seguido por projetos ligados ao meio-ambiente, porém, eu diria que nenhum projeto, seja da área que for, pode pensar isoladamente sem incluir a qualidade de vida, preservação, que são temas muito fortes, atualmente. E as outras tecnologias, como energias sustentáveis e Tecnologia da Informação -TI estão experimentando um crescimento constante, ganhando espaço e corpo. O Cietec já conta com cerca de 13 startups que desenvolvem negócios utilizando tecnologias identificadas com a Indústria 4.0. Queremos atrair negócios desse segmento mostrando que a coisa mais rica que temos é o nosso próprio ambiente. As conexões e interações dessa rede podem e vão, fatalmente, levar a novos conhecimentos, ideias e soluções.