Pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal do ABC (UFABC) desenvolveram um novo processo que utiliza o bagaço da maçã para produzir biogás. Segundo os cientistas, essa é uma forma sustentável de reduzir o uso de combustível fóssil na indústria.
Estudos mostram que a maçã é uma das frutas mais consumidas no mundo — tanto in natura, quanto processada na forma de suco, vinagre ou cidra. O problema é que os subprodutos gerados pela indústria de alimentos são descartados sem serem utilizados novamente.
“A biorrefinaria com tecnologia de digestão anaeróbia pode gerar energia elétrica e térmica, reduzir emissões de gases de efeito estufa e valorizar o resíduo da maçã convertido em adubo orgânico”, explica a professora de Engenharia de Alimentos da Unicamp Tânia Forster Carneiro, coautora do estudo.
Digestão anaeróbia
O sistema conhecido como digestão anaeróbia é um processo microbiológico que utiliza o consumo de nutrientes para produção de metano. A variante seca — com concentração total de sólidos dentro do reator acima de 15% — é considerada uma alternativa viável para o tratamento de resíduos sólidos quando comparada com aterros sanitários convencionais.
Segundo os pesquisadores, um rendimento de 36,61 litros de metano por quilo de sólidos removidos do meio ambiente pode gerar aproximadamente 1,92 quilowatt-hora de eletricidade e 8,63 megajoules de calor por tonelada de bagaço de maçã reaproveitado.
“Nosso estudo mostra que a bioenergia recuperada pela indústria durante esse processo de reaproveitamento do bagaço da maçã poderia suprir o equivalente a 19,18% de eletricidade e 11,15% de calor nos gastos operacionais de um reator”, acrescenta Carneiro.
Bom para o planeta
Os cientistas concluíram que esse sistema de reaproveitamento poderia evitar a emissão de 0,14 kg de dióxido de carbono — durante o processo de geração de eletricidade — e 0,48 kg de CO2 na produção de energia térmica por tonelada de bagaço de maçã.
Com isso, os biocombustíveis e a bioeletricidade poderiam contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas, reduzindo consideravelmente o consumo de combustíveis fósseis e a emissão de gases de efeito estufa procedentes dos resíduos orgânicos.
“A tecnologia de digestão anaeróbia é estável e pode ser implementada em indústrias de pequena e média escala, auxiliando na transição para a economia circular e oferecendo uma melhor destinação para os resíduos de frutas, o que é uma alternativa para a valorização de subprodutos, proporcionando ganhos para a cadeia produtiva”, encerra Carneiro.