Cientistas brasileiros e de outros sete países reúnem-se a partir desta segunda-feira (19), em São Paulo, para discutir o que há de mais avançado em oncologia, imunologia, neurociência e genômica. Promovido pelo Hospital A.C.Camargo, o Global Meeting A.C.Camargo of Translational Science é o primeiro encontro realizado no país com foco na ciência biomédica translacional, área que conecta aquilo que é investigado em laboratório ao tratamento dos pacientes.
Trata-se do primeiro de uma série de eventos da Escola São Paulo de Ciência Avançada, modalidade de fomento lançada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) no ano passado para estimular a interação entre grupos científicos de diferentes países.
Segundo Emmanuel Dias Neto, pesquisador do Centro de Pesquisas do Hospital A.C. Camargo e coordenador do encontro, iniciativas como esta permitem um fluxo maior de pesquisadores no país e trabalhos de colaboração científica. O Brasil evoluiu muito no número de publicações científicas, mas ainda falta um aumento qualitativo, comenta.
Dias Neto, que fez parte da equipe que em 2001 fez história com o sequenciamento do DNA da Xylella fastidiosa, acaba de voltar de uma experiência de quatro anos como professor convidado do M.D. Anderson Cancer Center, um dos mais prestigiados centros de ensino e pesquisa sobre o câncer dos EUA. O Brasil pode um dia se tornar um polo de pesquisadores do mundo inteiro, como é os EUA, acredita.
O curso, que acontece até o dia 30, terá a participação de 40 palestrantes e, na plateia, quase 120 jovens cientistas selecionados entre mais de 400 inscritos de doze países (EUA, Portugal, Canadá, Finlândia, Itália, Japão, Inglaterra, Índia, Argentina, Holanda e Alemanha, além do Brasil).
A participação no encontro conta créditos para alunos de mestrado e doutorado de universidades nacionais e internacionais. O A.C. Camargo é o único hospital privado do país que pode participar de um evento como este, pois nosso curso de pós-graduação tem nota 7 na Capes, explica o cientista Ricardo Brentani, presidente do hospital e diretor-presidente da Fapesp.
Pesquisas
Metade dos palestrantes vem de instituições internacionais. É o caso do patologista lituano Rubin Tuder, da Universidade do Colorado, que falará sobre os mecanismos que fazem com que a fumaça dos cigarros lesione os pulmões. E do português Antonio Coutinho, que criou e dirigiu por 16 anos a unidade de imunologia do Instituto Pasteur, em Paris, e atualmente comanda o Instituto Gulbenkian de Ciência da Universidade de Lisboa. Sua descoberta sobre a ação das terapias imunológicas mudou a abordagem no tratamentos dos cânceres.
Além de oncologia, outros assuntos serão destaque, como a neurociência. Um dos palestramtes da área é Ivan Izquierdo, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, que abordará suas recentes descobertas sobre a persistência da memória. Já o biólogo Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explicará como alterações no número de cromossomos das células do cérebro podem ter relação com doenças como o mal de Alzheimer.
Outra presença esperada no evento é a do casal de brasileiros Wadih Arap e Renata Pasqualini, que lidera um laboratório no M.D. Anderson Cancer Center e investiga, há uma década, o sistema vascular humano para encontrar marcadores moleculares para o câncer. A dupla chama a atenção da comunidade científica com uma terapia antiobesidade baseada na indução de apoptose (morte celular programada) na vasculatura do tecido adiposo (tecido gordo). Em outras palavras, a terapia levaria as células de gordura a cometer suicídio.
O destaque de cientistas brasileiros fora do país, como observam Dias Neto e Brentani, é uma tendência que tem trazido frutos para o próprio tratamento do câncer no Brasil. Não é à toa que o vice-presidente José Alencar foi indicado ao cirurgião brasileiro Ademar Lopes para liderar a equipe que realizou uma cirurgia de 17 horas para retirada de tumor na região abdominal. No encontro, o médico vai apresentar dados sobre a metástase na virilha, principal causa de morte nos casos de câncer de pênis.