WASHINGTON - Enquanto se saboreia sorvetes, brigadeiros, tortas e outras delicias que a permissividade das ferias torna irresistíveis, é muito comum ter uma crise de consciência. Entre uma mordida e outra, lá vem a lembrança da velha condenação do açúcar: possível porta de entrada para um carrossel de doenças, como obesidade, diabetes e hiperatividade. Nos últimos anos, porém, as conseqüências do consumo de açúcar passaram por uma profunda reavaliação científica que derrubou todos esses mitos.
Atualmente, já é possível preocupar-se menos com as tentações açucaradas que assolam a cabeça de qualquer pecador. Os pesquisadores ainda recomendam moderação, mas a maioria deles garante que, contanto que se tenha uma dieta balanceada e se mantenha em dia o peso corporal, o açúcar não representa qualquer ameaça à saúde.
Como membro oficial do Conselho de Orientação Alimentar dos Estados Unidos, o professor de pediatria Dennis M. Bier, da Faculdade de Medicina Baylor, examinou inúmeras pesquisas sobre o açúcar. Ele resume assim as conclusões do conselho: "Dentro de uma dieta saudável, não há evidências de que o consumo de açúcar em grande quantidade - como faz a maioria dos americanos - tenha qualquer conseqüência profunda."
Refinado - Segundo um estudo da FDA (órgão do governo dos EUA que regulamenta a comercialização de remédios e aumentos), cada americano come, em média, 60 gramas de açúcar adicional por dia e 20 quilos por ano. Açúcar adicional é basicamente o branco, refinado a partir da cana-de-açúcar ou milho, usado em bebidas, doces, guloseimas e milhares de outros itens.
Mas também se entende por açúcar o principal combustível que mantém tanto a vida animal quanto a a vegetal. Nos animais, o sangue carrega açúcar em forma de glicose para todas as células do corpo. Quando consideramos o açúcar naturalmente presente em grupos básicos de alimentos, como leite, frutas e vegetais, a média de consumo sobe para 100 gramas por dia, segundo as estimativas da FDA.
O consenso entre profissionais é que o açúcar já não é mais "o assassino em sua dieta", como chamava o bestseller Sugar Blues, em 1975. Dois anos depois disso, o governo dos Estados Unidos recomendava que se comesse menos açúcar. Na década de 80, os possíveis males provocados pelo elemento perderam espaço para os problemas causados por gorduras.
Nos dias de hoje, nem os dentistas guardam a severidade de outrora quanto aos doces, o governo já considera que os carboidratos (outros vilões de antigamente) são bons - e o açúcar branco pega uma carona legítima nesta mudança.
Notícia
Jornal do Brasil