Pesquisadores do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da USP em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, estão desenvolvendo pesquisas com pepinos-do-mar (holotúrias), que nas altas profundidades chegam a constituir até 90% da biomassa. Estas espécies têm importância ecológica por serem responsáveis por grande parte da reciclagem da matéria orgânica depositada no fundo do mar. Sem esse processo, a matéria estaria perdida para as cadeias alimentares marinhas.
A professora Valéria Flora Hadel e seus alunos mantêm duas espécies em câmaras de temperatura constante e aquários, sendo que alguns já têm mais de dez anos de vida. Uma das espécies estudadas, Chiridota rotifera, vive enterrada no sedimento, ingerindo areia da qual retira a matéria orgânica que contém os nutrientes de que necessita.
Estas pequenas holotúrias, que atingem no máximo dez centímetros de comprimento, são vivíparas, isto é, nascem com as características da espécie já adulta, e hermafroditas (capazes de produzir tanto óvulos como espermatozóides). Assim, os óvulos de uma holotúria podem ser fecundados pelos espermatozóides de outra ou pelos que ela mesma produziu. Elas atingem a fase adulta, sendo capazes de se reproduzir aos quatro meses de vida e as ninhadas podem chegar a 160 filhotes.
Valéria tem, em seu laboratório, cerca de 120 exemplares que exigem a troca da areia e da água do mar dos pequenos aquários onde são criados uma vez por semana. Durante esta década de criação, já foram liberados no ambiente aproximadamente 22 mil exemplares nascidos no laboratório, pois apenas quatro de cada geração são mantidos para pesquisa.
ACOMPANHAMENTO SEMANAL
Uma outra espécie de holotúria, Synaptula hydriformis, é o tema da dissertação de mestrado de Alessandra Pereira Majer, pós-graduanda do Instituto de Biociências (IB) da USP e que desenvolve seu trabalho de pesquisa no CEBIMar. Ela criou estes animais, que também são vivíparos, em laboratório e os acompanhou semanalmente: "Eu analisava os filhotes, dentro e fora dos indivíduos parentais. Olhei as gônadas e fiz um acompanhamento em termos reprodutivos, durante um ano. Ao mesmo tempo, fazia coleta em 19 pontos, interessando-me também por algas visto que esta espécie de pepinos-do-mar vive associada a elas"
Cynthia Grazziele Martins Delboni, outra pós-graduanda do IB, também estuda os pepinos-do-mar. Seu estudo enfatiza o desenvolvimento das estruturas microscópicas do esqueleto destes animais, desde a fase embrionária até a adulta. Ela utiliza a microscopia eletrônica de varredura para fotografar estes ossículos e pretende testar marcadores para a microscopia de fluorescência.
Sua pesquisa tem como objetivo acompanhar a formação dos ossículos nas diversas fases do desenvolvimento do animal e nas diversas partes do corpo. "Já encontrei várias modificações e agora observo a seqüência das formações. Analiso todos os estágios do desenvolvimento, podendo ver a diferença entre o adulto e o jovem. Observei partes da morfologia nunca descritas antes", conta.
Além de pesquisas próprias, o CEBIMar participa há quatro anos em um projeto temático do Programa Biota, da Fapesp e faz o levantamento da biodiversidade no Estado de São Paulo, abrangendo a fauna e a flora e envolvendo a maior parte das instituições públicas paulistas de ensino e pesquisa. O material identificado e preservado constitui uma coleção de referência a ser depositada no Museu de Zoologia da USP e poderá ser utilizada por outros pesquisadores no futuro.
Colaborou Miguel Glugoski, do Jornal da USP
Mais informações: (0XX12) 3862-7149 ou e-mail cebimar@edu.usp.br
Notícia
Agência USP de Notícias