Os principais especialistas mundiais em pesquisa amazônica estão reunidos a partir de hoje. em Brasília, para a III Conferência Científica do LBA - Experimento de Grande Escala da Biosfera - Atmosfera na Amazônia (do inglês, Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazônia). Como tudo na região tem dimensões gigantescas, os números do evento não poderiam ser diferentes: são 800 pesquisadores, que apresentarão 700 trabalhos, resultado de seis anos de pesquisa que envolve I57 instituições em 15 paises.
O LBA é considerado o maior projeto de cooperação cientifica internacional já criado na área ambiental e faz parte do esforço global para entender o papel da Amazônia em meio às mudanças climáticas e territoriais, e como estas, mudanças afetam - e ainda vão afetar - o clima do Planeta. Neste encontro, os cientistas que conduzem o projeto pretendem mostrar o valor estratégico das descobertas científicas que vem sendo feitas na Amazônia.
O LBA é financiado pelas principais agências de fomento brasileiras, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas conta também com recursos da Nasa (órgão oficial de pesquisas espaciais dos Estados Unidos), da União Européia e de organismos estrangeiros de países da bacia amazônica - Venezuela, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador.
Proposto e liderado desde 1998 pelo Brasil, o LBA é bianual e deverá ter sua última edição em 2006. Já tem 61 projetos concluídos e outros 59 em andamento. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) é o responsável pelo gerenciamento do projeto, enquanto o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), responde pela coordenação científica de 288 instituições parceiras.
Descobertas
Os seis anos de pesquisa sobre o funcionamento dos ecossistemas amazônicos já trouxeram uma série de conclusões importantes. Os pesquisadores comprovaram, por exemplo, que os desmatamentos e as queimadas não só aceleram o efeito estufa, como estão diretamente relacionados a mudanças drásticas na formação de nuvens. Isso pode diminuir os índices de queda de chuvas não apenas na Amazônia como nas outras regiões do País.
Os cientistas também descobriram que, nas áreas queimadas, as plantas custam a renascer principalmente por falta de nitrogênio e não de fósforo, como se pensava antes, pois o nitrogênio literalmente "vai embora" com a fumaça, o que aponta para uma possível forma de recuperação dessas áreas, com o uso intensivo de adubos com alto teor do nutriente.
Resultados assim mostram que os dados que serão apresentados em Brasília devem influenciar a discussão e servir de subsídio para a adoção de políticas públicas e de novas leis, que possam ajudar na manutenção da estabilidade do ecossistema. Também devem estar em pauta no encontro sugestões de conciliar a preservação da natureza com as necessidades das populações que vivem na Amazônia, cerca de 24 milhões de pessoas no Brasil e demais países. A proposta de um desenvolvimento sustentável para a região, que permita a evolução social sem destruir o patrimônio natural, depende das respostas que os cientistas possam dar a partir de suas pesquisas.
A conferência será aberta pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e prossegue até quinta-feira. As principais palestras podem ser acompanhadas pela internet, em tempo real, por meio do link http://stream.nc-rj-rnp.br/lba.
Notícia
Gazeta Mercantil