Os temidos cabelos brancos.
Canície é o nome científico para os famosos e temidos cabelos brancos, ou seja, o processo de despigmentação progressivo dos fios capilares.
Condição praticamente inevitável, sabe-se que ela se inicia por volta da terceira década de vida e atinge a grande maioria da população.
Enquanto algumas pessoas tratam a questão com total naturalidade, outras, no entanto, sentem arrepios só por ouvir falar.
Este problema, contudo, começa a ter seus segredos revelados!
Um estudo divulgado recentemente na revista Nature, e que durou cerca de três anos, revelou que o surgimento dos fios brancos não está, necessariamente, ligado ao envelhecimento.
A pesquisa.
Fonte da parceria entre cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e pesquisadores brasileiros vinculados à FAPESP; tal pesquisa conseguiu demonstrar de maneira clara e inédita, a relação entre situações de estresse intenso e o surgimento dos fios brancos.
A maior parte dos estudos foi realizada pela equipe da Universidade Harvard sob a coordenação da professora Ya-Chieh Hsu, especialista em células-tronco e biologia regenerativa.
A outra parte, foi realizada no Brasil através do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias da FAPESP, com sede na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP).
Segundo Thiago Mattar Cunha, integrante da equipe de pesquisadores brasileiros; embora há muito se dissesse que o estresse provoca o surgimento de cabelos brancos, não havia, até o momento, embasamento científico sobre isso.
“Comprovamos neste estudo que o fenômeno de fato ocorre e identificamos os mecanismos envolvidos. Além disso, descobrimos uma forma de interromper o processo de branqueamento por estresse”.
Como tudo começou?
“Fazíamos um estudo sobre dor em camundongos da linhagem Black-C57, cuja pelagem é negra. Nesse modelo, administramos uma substância chamada resiniferatoxina para ativar um receptor expresso nas fibras nervosas sensoriais e induzir uma sensação dolorosa intensa”, relatou o pesquisador brasileiro.
“Cerca de quatro semanas após a injeção sistêmica da toxina, um aluno de doutorado observou que os animais estavam com os pelos completamente brancos”, complementa.
Para que a equipe de pesquisadores se convencesse que o surgimento dos fios brancos estava de fato relacionado à dor provocada pela aplicação da substância tóxica, foram necessárias repetições do experimento.
“Aventamos a hipótese de que a despigmentação dos pelos seria resultado do estresse induzido pela dor. Idealizamos, então, um experimento muito simples para verificar se o fenômeno era dependente da ativação das fibras nervosas simpáticas”, relatou Cunha.
Parceria com a Universidade Harvard.
Através de uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Cunha foi passar um período sabático como professor visitante na Universidade Harvard entre os anos de 2018 e 2019.
Lá, ao comentar sobre sua descoberta com outros colegas pesquisadores, descobriu que um grupo local, também de maneira acidental, havia feito descobertas semelhantes.
A partir deste fato, Cunha recebeu um convite da professora Hsu para integrar um projeto de investigação sobre este fenômeno de maneira mais detalhada.
As conclusões do estudo.
Ao fim do estudo, os pesquisadores sacramentaram que tal fenômeno está diretamente ligado ao estresse. Apesar do estudo ter sido realizado com animais, Cunha acredita que este mecanismo também ocorra com seres humanos. Segundo ele, a equipe de pesquisadores entende que este é um mecanismo compartilhado com outras espécies.
Por fim, de acordo com Cunha, não é possível saber se as descobertas desta pesquisa implicariam, no futuro, em algum benefício para os humanos, principalmente do ponto de vista estético, como por exemplo o desenvolvimento de um fármaco voltado a inibir o surgimento de fios brancos.