Sapo-pulga, ou Sapinho da Mata Atlântica, é tão pequeno que cabe em uma moeda de 50 centavos
Cientistas da Unicamp descobriram uma nova espécie de sapo-pulga, chamada de Brachycephalus dacnis, em Ubatuba, no Litoral Norte.
Pesquisadores do Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia da universidade, revelaram que o pequeno anfíbio, com apenas 8 milímetros de comprimento em média, é o segundo menor vertebrado do planeta.
Ele é tão pequeno que pode ter seu tamanho comparado ao de uma ervilha, uma pérola pequena ou, no mundo animal, ao de uma joaninha. O estudo sobre a nova espécie foi publicado na última sexta-feira (25) na revista científica PeerJ.
Embora ainda não seja possível afirmar se há risco de extinção, os primeiros estudos sugerem que a espécie depende da floresta intacta para sobreviver, não sendo encontrada em áreas desmatadas.
A confirmação do status de conservação será feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O Sapinho da Mata Atlântica
O Brachycephalus dacnis, endêmico da Mata Atlântica, possui coloração marrom-amarelada e habita áreas de floresta entre Ubatuba e Paraty, no Rio de Janeiro.
Segundo o professor Luís Felipe Toledo, autor do estudo, a espécie, também chamada de Sapinho da Mata Atlântica, levanta questões intrigantes sobre os limites físicos dos vertebrados – animais que possuem ossos formando sua coluna vertebral.
O gênero Brachycephalus possui muitas características únicas: eles têm esqueletos com ossos fundidos, falta de dentes e ausência de alguns ossos do ouvido e do crânio, todas características que refletem adaptações extremas para corpos tão pequenos, o que a ciência costuma chamar de miniaturização.
Além das peculiaridades anatômicas, os sapos-pulga também têm um modo de reprodução curioso. As fêmeas colocam ovos maiores que o esperado para o tamanho do corpo, e os filhotes já nascem totalmente formados, sem passar pela fase de girino.
Inspiração no Projeto Dacnis
A nova espécie foi nomeada em homenagem ao Projeto Dacnis, ONG que há mais de uma década apoia pesquisas de biodiversidade e trabalha na defesa da Mata Atlântica em Ubatuba e São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos.
O trabalho de campo na reserva da ONG em Ubatuba, onde o sapo foi encontrado, incluiu métodos visuais e auditivos para localizar a minúscula espécie, já vista também em outros dois locais pela região, segundo outro estudo, de 2021, do biólogo Marcos R. Bornschein: no Corcovado, em Ubatuba, e na Trilha do Corisco, em Paraty.
Para compreender as características dessa espécie e diferenciá-la de outras, os pesquisadores utilizaram tecnologia avançada, como análises genéticas, estudos bioacústicos e tomografias computadorizadas.
De acordo com Toledo, o canto do Brachycephalus dacnis é baixo e se assemelha ao som de um grilo, o que é surpreendente para um sapo. Esse som baixo e único é possivelmente um meio de comunicação adaptado ao ambiente denso e competitivo da floresta.
Outra descoberta na região
O trabalho do LaHNAB segue a todo vapor, com novas descobertas pelo horizonte. Em Bananal, também no Vale do Paraíba, uma outra espécie de sapo-pulga vem sendo analisada pelos pesquisadores.