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Cientistas descobrem o que provoca a morte por Chikungunya (80 notícias)

Publicado em 16 de março de 2024

Pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, detectaram os mecanismos que causam mortes em pacientes infectados pelo vírus da Chikungunya. O estudo revelou que o sistema imunológico reage à infecção de maneira exagerada, diminuindo a capacidade do organismo de coagular inflamações.

O resultado da pesquisa foi publicado na última terça-feira (12), na revista científica estrangeira “Cell Host & Microbe”. O estudo aponta que essa diminuição da capacidade do organismo de coagular provoca um dano e quebra a barreira que protege o sistema nervoso central. A investigação representa um avanço no entendimento dos óbitos pelo vírus, que figura na lista de epidemias no Brasil há quase uma década.

No entanto, são baixos os índices de ocorrência grave da doença. Levantamentos apontam, portanto, que aproximadamente 30% dos pacientes sequer desenvolvem complicações. A maioria das pessoas apenas apresenta febre e dores nas articulações por cerca de dez dias. O Ministério de Saúde, registrou, entre 2015 e 2019, 593 mortes devido à enfermidade. Contudo, apenas em 2024, a pasta levantou 69 mil casos em todo o país. A contagem ainda confirma 17 óbitos, e outros 66 em investigação.

Como acontece a infecção do Chikungunya

De acordo com o professor José Luiz Módena, coordena o Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, a infecção por Chikungunya acontece no momento da picada do mosquito, que injeta o vírus com a saliva. O professor explica que, ao picar, o mosquito injeta o vírus junto com a saliva. No local da picada, o vírus vai se replicar em células que apresentam antígenos. Eles estão, portanto, distribuídos no organismo e são importantes para reconhecer corpos estranhos, que são combatidos pelo sistema imunológico. Quando essas células migram para outros tecidos, os vírus presentes ali dentro, ao se replicarem e serem liberados, podem atingir outros órgãos do corpo.

“A gente tem observado de um tempo para cá, no Brasil, que esse padrão de dor crônica e inchaço articular continua aparecendo, mas que parte dos pacientes também relatam dor neuropática. Os pacientes do estudo apresentavam alteração hemodinâmica e demonstraram um estado de fragilidade vascular que provavelmente favorece o acesso do vírus ao sistema nervoso central. Então o trabalho teve o objetivo de investigar o que estava acontecendo com eles”, explica o docente.

Descoberta da pesquisa

A princípio, os pesquisadores descobriram que o vírus da Chikungunya consegue acessar o sistema nervoso central por meio de dois mecanismos, que atuam em conjunto. No primeiro mecanismo, ele invade esse sistema ao infectar as células do sistema imunológico que têm por função a defensa do organismo contra corpos estranhos. A infecção nessas células acontece por um mecanismo semelhante ao “Cavalo de Tróia”, que transporta o vírus sem alertar o sistema imunológico. O segundo mecanismo, entretanto, consiste em uma alteração do vírus em algumas proteínas das células, impedindo o processo de adesão e troca de substâncias entre elas.

Por fim, a pesquisa traz conclusões importantes para o entendimento sobre a doença, seu processo de infecção, e o que pode ser feito para evitar possíveis pioras. “Esse estudo vem para mostrar que a gente tem de acompanhar e seguir de perto os desfechos de quem contrai Chikungunya e fazer vigilância em porta de (unidade de tratamento intensivo) UTI para manifestações normalmente não associadas ao vírus, até porque essa pessoa pode ter Chikungunya na fase aguda e não ter sintomas”, afirma Módena.

“Ela pode não ter sintoma e ainda assim evoluir para um quadro grave, que o médico vai associar com alguma doença de base, mas que foi descompensado por causa de uma infecção anterior por Chikungunya”, conclui.