Um consórcio internacional foi criado para apoiar a procura por novos medicamentos contra doença de Chagas, a leishmaniose visceral e a malária. A ação, liderada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP), será financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelas organizações sem fins lucrativos Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) e Medicines for Malaria Venture (MMV), no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).
A iniciativa terá duração de cinco anos e receberá, no período, investimentos de R$ 43,5 milhões. A Fapesp fará um aporte de R$ 7,8 milhões. Outros R$ 12,8 milhões serão investidos por DNDi e MMV. A Unicamp e a USP contribuirão com R$ 22,9 milhões em infraestrutura de pesquisa e custos de pessoal.
“O projeto tem o objetivo de descobrir novos candidatos a medicamentos para o tratamento de doenças tropicais parasitárias. Na Fapesp, valorizamos fortemente esse tipo de esforço colaborativo que envolve pesquisa básica, aplicada e também as pessoas que vão aplicar os resultados na prática”, salienta Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação, à Agência Fapesp.
Abrangência
Os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de que, em 2017, houve 219 milhões de casos de malária (2 milhões a mais do que no ano anterior). A doença foi responsável por 435 mil mortes no mundo todo, 93% delas na África.
Ainda segundo a OMS, 8 milhões de pessoas são infectadas anualmente pelo parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, a maior parte na América Latina. A organização estima ainda em cerca de 2 milhões de novos casos ao ano das diversas formas de leishmaniose.
“Malária, doença de Chagas e leishmaniose estão associadas a uma considerável morbidade e mortalidade. São doenças epidêmicas, sobretudo em países de baixa renda, com um grande peso clínico e econômico e importantes consequências tanto para os pacientes individualmente quanto para a saúde pública em geral”, explica Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e coordenador do projeto, à Agência Fapesp.
O laboratório comandado pelo docente desenvolverá estudos na área de química para desenvolver e aprimorar novas moléculas. Já os pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP realizarão os vários testes biológicos, como farmacocinética e toxicidade. Em São Carlos, os testes serão comandados pelos professores Adriano Andricopulo e Rafael Victorio Carvalho Guido.
Os pesquisadores são associados ao Centro de Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela Fapesp e coordenado por Glaucius Oliva, também docente do IFSC, da USP.
Consórcio
A DNDi e a MMV são duas organizações sem fins lucrativos que contam com parceiros para financiar pesquisas em doenças negligenciadas e em malária, respectivamente. Ambas contam com times de especialistas que colaboram nas pesquisas desenvolvidas, sempre com o objetivo de gerar novos medicamentos com ação efetiva e baixo custo.
“Estamos realmente empolgados em lançar esse projeto, que unirá cientistas do Brasil, da MMV e da DNDi na busca de novos candidatos para tratar doenças tropicais parasitárias. A parceria usará o conhecimento dos cientistas brasileiros em biologia e em química sintética em sinergia com o de especialistas associados às organizações ao redor do mundo, em centros de excelência. Estamos focados no Brasil, mas a parceria é para beneficiar pessoas do planeta inteiro”, enfatiza Paul Willis, diretor sênior na MMV, à Agência Fapesp.
“As organizações envolvidas nesse projeto compartilham uma visão: ajudar pacientes que sofrem de malária e doenças negligenciadas. Tivemos a oportunidade de unir excelentes cientistas e, por isso, construímos esse consórcio com a Unicamp, a USP em São Carlos e outros parceiros”, pontua Charles Mowbray, da DNDi, à Agência Fapesp.
Efetividade
O objetivo é que os novos candidatos a fármacos sejam efetivos com apenas uma dose. Alguns medicamentos presentes no mercado possuem efeito contra as doenças, porém as várias doses necessárias não só dificultam o tratamento como geram variedades de parasitas resistentes.
“O paciente melhora depois da primeira dose e para de tomar o medicamento. A doença não só volta como se torna mais agressiva. Para ser realmente efetivo, é preciso que o medicamento mate totalmente o parasita com uma dose única”, completa o professor Luiz Carlos Dias.
Após os cinco anos do projeto, os pesquisadores esperam contar com moléculas prontas para testes clínicos. A ideia, a partir desse ponto, é realizar novas parcerias para financiar testes clínicos e comercializar os medicamentos, que devem ser necessariamente de baixo custo.
O evento de assinatura do acordo teve ainda a presença de Sylvio Canuto, pró-reitor de Pesquisa da USP, e Daniel Martins de Souza, professor do Instituto de Biologia e assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp.