Uma substância chamada AG-490 foi identificada por pesquisadores como capaz de evitar o agravamento da doença de Parkinson. Testes mostraram que o componente preveniu 60% da morte de células cerebrais em camundongos. Os resultados foram publicados em janeiro na revista Molecular Neurobiology.
O estudo foi realizado durante a tese de doutorado da bióloga Ana Flávia Fernandes Ferreira, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), sob coordenação do professor Luiz Roberto G. Britto. A iniciativa é uma colaboração com pesquisadores do Instituto de Química da USP e da Universidade de Toronto, no Canadá.
O Parkinson causa a morte precoce ou a degeneração das células na região da substância negra do cérebro, onde é fabricado o neurotransmissor dopamina. A deficiência ou ausência da dopamina afeta o sistema motor, resultando em sintomas como tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, problemas de fala, além de alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas.
Os pesquisadores realizaram testes com camundongos injetados com 6-hidroxidopamina, composto que simula os efeitos do Parkinson. Enquanto um grupo comparativo de roedores não recebeu substância nenhuma, outros foram administrados com a AG-490, que é feita à base da molécula tirfostina. A intenção era diminuir a morte celular ao inibir o TRPM2, um dos canais de entrada de cálcio nas células cerebrais.
Após seis dias, foram realizados testes de equilíbrio e comportamento motor nos animais, que foram sacrificados em seguida. Então, os cientistas calcularam a quantidade de neurônios produtores de dopamina que ainda estavam presentes na substância negra do cérebro dos camundongos. Por fim, eles ainda estudaram o estriado, uma região de conexão cerebral.
Tanto na substância negra quanto no estriado houve maior número de células cerebrais e menos prejuízos comportamentais com a administração da AG-490. “Os camundongos que não receberam a substância apresentaram um resultado 70% pior nos testes comportamentais”, conta Britto, em comunicado enviado por e-mail.
Segundo o pesquisador, o estudo revelou que, ao bloquear o TRPM2, a degeneração de neurônios diminuiu bastante — especialmente nas áreas onde essas células são mortas pela doença. E mais: o mesmo ocorreu onde os neurônios realizam contatos sinápticos (troca de informações), ajudando a preservar a dopamina.
De acordo com o professor, o Parkinson gera a morte das células cerebrais devido a causas como disfunções metabólicas, acúmulo anormal de proteínas e ainda o aumento na atividade dos canais de entrada de cálcio — o que foi impedido parcialmente pela AG-490. “Em todas as células do organismo, quando esses canais estão muito ativos, a tendência é que ocorra uma sobrecarga de cálcio. Isso ativa uma série de enzimas que degradam as estruturas das células, levando à sua morte”, explica o especialista.
Em um estudo anterior, feito pelo mesmo grupo, uma substância chamada carvacrol foi usada para bloquear outro canal celular, o TRPM7, que faz parte da mesma família de canais para o íon cálcio que o TRPM2. Agora, antes de avançarem para testes clínicos, os cientistas consideram ser necessários mais estudos.
Ainda é preciso, de acordo com Britto, ter a certeza de que a AG-490 funciona depois da aplicação da toxina injetada nos roedores, já que, por enquanto, ela só foi administrada de modo simultâneo à substância. “Vamos também testar animais geneticamente modificados para o TRPM2, esperando que eles sejam mais resistentes em termos da morte neuronal neste modelo. Além disso, é preciso estudar as possíveis consequências colaterais da injeção da substância”, completa o professor.