Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) criaram uma luva capaz de detectar resíduos de pesticidas em alimentos. Feita de borracha sintética e munida de sensores, a luva surge como uma alternativa segura e mais barata aos processos convencionais de detecção de substâncias indesejadas.
O trabalho, liderado pelo químico Paulo Augusto Raymundo-Pereira, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A luva tem três eletrodos impressos, localizados nos dedos indicador, médio e anelar. A impressão ocorreu por meio de uma serigrafia, com uma tinta condutora de carbono. Esses eletrodos permitem a detecção de substâncias carbendazim (fungicida da classe dos carbamatos), diuron (herbicida da classe das fenilamidas), paraquate (herbicida incluído no rol dos compostos de bipiridínio) e fenitrotiona (inseticida do grupo dos organofosforados).
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A luva não tem prazo de validade e pode ser usada enquanto não houver danos nos sensores.
No Brasil, carbendazim, diuron e fenitrotiona são empregados em cultivos de cereais (trigo, arroz, milho, soja e feijão), frutas cítricas, café, algodão, cacau, banana, abacaxi, maçã e cana-de-açúcar. O uso do paraquate, por sua vez, segue banido no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A análise pode ser realizada diretamente em líquidos, basta mergulhar a ponta do dedo que contém o sensor na amostra. Também pode ser feita em frutas, verduras e legumes, bastando tocar na superfície da amostra.
O processo de verificação da presença de pesticidas é simples. Coloca-se um dedo de cada vez na amostra: primeiro, o indicador; depois, o médio e, por fim, o anelar. No caso de um suco de frutas, basta fazer a imersão dos dedos no líquido, um de cada vez. A detecção ocorre em cerca de 1 minuto.Foto: Nathalia Gomes/USP
De acordo com Raymundo-Pereira, idealizador do projeto, o custo do dispositivo é basicamente o custo da luva, sem o sensor.“Os sensores custam menos de US$ 0,1”, explicou. “Usamos uma luva nitrílica, porque é menos porosa que a de látex. Com a pandemia, o preço dela disparou. Mas, ainda assim, o dispositivo que criamos é um produto muito barato.”