Notícia

Correio Popular (Campinas, SP)

Cientistas da Unicamp estudam métodos de reciclagem

Publicado em 30 maio 2004

Por Tatiana Fávaro — tfavaro@rac.com.br
Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas têm trabalhado intensamente para desenvolver métodos de reciclagem de água. Um dos trabalhos, desenvolvido pela pesquisadora Priscila da Cunha Teixeira e coordenado pelo professor Carlos Gomes da Nave Mendes, foi apresentado a uma banca examinadora em maio do ano passado. O título da tese de mestrado sugere a reutilização da água usada para lavar veículos, depois de um tratamento específico chamado flotação por ar dissolvido. Este processo começa com a adição de um produto químico classificado como coagulante à água suja. Ele faz com que a sujeira se aglutine em flocos. "Aí é que injetamos água saturada com ar. A sujeira em flocos se aglomera nas bolhas que, por serem mais leves, vão para a superfície. Nesse local, usamos um raspador de lodo para remoção dessa camada", explica Priscila. No momento, os pesquisadores estudam o uso de microrganismos para purificar a água, com o objetivo de diminuir o uso de produtos químicos, ou mesmo, eliminá-lo. Diferentemente de boa parte das pesquisas da universidade, que recebe financiamento de agências de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e outras, o projeto de Priscila teve apoio de uma empresa privada, de Limeira, que fabrica equipamentos de lavagem de veículos. "Para lavar um veículo comum, gasta-se em média cem litros de água. Para lavar um ônibus, 300 litros. É muito. Se não houver como viabilizar o reuso da água, fica muito dispendioso para quem trabalha com isso", explica a pesquisadora. Ela apresentou seu trabalho de mestrado em 2003, mas continua trabalhando no tema, acompanhada do mestrando Alex Magalhães. "Estamos implantando uma instalação em escala real de tratamento em uma empresa de caminhões de São Paulo", conta. Escala real Para ser reutilizada a água deve ser tratada até certo ponto, explica Priscila. "Ela não fica 100% limpa, mas fica com qualidade suficiente para ser reutilizada numa nova lavagem de veículos sem causar danos a eles. A água não pode manifestar, por exemplo, um excesso de sais", diz. "A saúde das pessoas que trabalham com essa água também tem de ser preservada e, dessa forma, existe a preocupação em mantê-la livre da presença de microrganismos causadores de doenças." A tese de mestrado de Priscila foi o primeiro passo nesse sentido. Ela pesquisou para saber se era ou não possível reutilizar esse efluente, qual a qualidade que conseguiria pelo processo de flotação por ar dissolvido e se o uso desse tipo de tratamento seria viável. "Fizemos vários testes, mas em laboratório. Agora, nessa segunda fase, estamos trabalhando em campo, em escala real, na estação de tratamento que está sendo montada em uma empresa de transportes", diz. A estrutura funciona com um biofiltro aerado submerso, uma espécie de reator que contém microrganismos aderidos a um meio suporte, os quais degradam os poluentes da água. "Por um bom tempo, criamos, em laboratório, os 'bichinhos' , acostumando-os a utilizarem esse tipo de água como fonte de alimento (aclimatação dos microrganismos). Quando mais rápida é a ação dos microrganismos, menor é o tamanho do equipamento e, portanto, menores são os custos para adotá-lo", detalha Priscila. A estação montada em São Paulo é apenas um protótipo. "Ainda trabalhamos com uma margem de segurança, com uma estação maior do que ela poderia ser, mas nosso objetivo é melhorar a eficiência do processo, reduzir os custos e oferecer esse tipo de tratamento como opção, por exemplo, para postos de gasolina que têm serviço de lava-rápidos, sobretudo os que não cobram por isso", afirma. "Além de economizar dinheiro, muitos postos evitariam construir poços artesianos, muitas vezes clandestinos, os quais podem prejudicar a disponibilidade futura de água subterrânea e comprometer a sua qualidade para uso humano." Além da economia de água, o processo estudado por pesquisadores da FEC possibilita o menor uso de coagulantes e a geração de um volume menor de resíduos. Priscila, Alex e o professor Carlos Mendes trabalham nos laboratórios de Saneamento e de Tratabilidade de Águas e Efluentes da FEC. "Quando se fala em engenharia civil, muita gente pensa só em construções, porém, também somos responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologias e processos importantes nas áreas de Saneamento e preservação do ambiente. Há muitos biólogos e químicos fazendo mestrado na FEC", explica a pesquisadora, que também teve que se dedicar muito ao estudo de temas fora de sua área específica para conseguir entender o universo dos microrganismos.