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Cientistas da Fapesp estudam como ‘lagoas de soda' no Pantanal influenciam mudanças climáticas (27 notícias)

Publicado em 11 de setembro de 2024

Esses corpos d'água estão quase secando devido ao aumento da temperatura, chuvas e queimadas. Os resultados mostram que a comunidade microbiana local e outros fatores estão afetando a emissão de gases do efeito estufa

Uma pesquisa conduzida por cientistas da USP e da UFSCar investigou as emissões de gases de efeito estufa em lagoas salino-alcalinas no Pantanal, destacando a influência das variações sazonais e dos níveis de nutrientes. Essas lagoas, chamadas de “lagoas de soda” devido ao elevado pH e alta concentração de sais alcalinos, diferem das lagoas de água doce, comuns no bioma, e apresentam características microbiológicas que impactam suas emissões de gases como metano e dióxido de carbono.

Os pesquisadores ressaltam a necessidade de incluir as comunidades microbianas nos modelos de emissão de gases para compreender melhor como essas lagoas reagem a mudanças ambientais, como secas extremas e queimadas. O Pantanal tem enfrentado secas consecutivas e recordes de incêndios, com 2020 marcando o maior número de focos de calor já registrados. Em 2024, o número de incêndios já ultrapassou os totais dos últimos três anos.

O estudo, publicado na revista ‘Science of the Total Environment', identificou três tipos de lagoas salino-alcalinas no Pantanal: lagoas turvas eutróficas (ET), turvas oligotróficas (OT) e oligotróficas claras com vegetação (CVO). As lagoas eutróficas apresentaram maiores emissões de metano, associadas ao crescimento e decomposição de cianobactérias. As lagoas claras também emitiram metano, mas em menores quantidades, enquanto as turvas oligotróficas não emitiram metano, mas liberaram CO2 e óxido nitroso.

O aumento da frequência de cianobactérias nas lagoas é uma tendência preocupante, indicando que essas áreas podem se tornar emissoras significativas de gases de efeito estufa no futuro. A pesquisa iniciou-se com o foco na geologia das lagoas e na análise dos ciclos biogeoquímicos, especialmente na emissão de metano, CO2 e óxido nitroso.

A microbiologista Simone Raposo Cotta enfatiza a importância dos microrganismos no funcionamento desses ecossistemas, pois eles são fundamentais para a ciclagem de nutrientes e para manter processos ecológicos essenciais nas lagoas. Em 2022, o grupo já havia publicado um estudo sobre o estilo de vida das bactérias nas “lagoas de soda”, mostrando que as cianobactérias se adaptam às condições ambientais adversas, especialmente durante a seca.

Essas lagoas não são exclusivas do Pantanal, sendo encontradas também no Canadá, Rússia e África. No entanto, no Pantanal, elas são menos profundas. Os pesquisadores utilizaram dados metagenômicos para explorar os ciclos biogeoquímicos e a contribuição das emissões de metano desses corpos d'água.

Ainda não foi possível determinar a contribuição total das lagoas salino-alcalinas nas emissões de gases do efeito estufa do Pantanal, mas os cientistas estão desenvolvendo modelos para responder a essa questão. O grupo continua investigando o aumento das cianobactérias em algumas lagoas e como isso pode ser mitigado.

Com informações da FAPESP