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Cientistas coletam amostras de sedimento na baía de Santos para monitorar contaminação por cocaína; Vídeo (29 notícias)

Publicado em 08 de setembro de 2024

Droga se tornou um contaminante emergente na região e já afeta organismos marinhos, como ostras e mexilhões.

A baía de Santos (SP) tem sido afetada pela contaminação por cocaína, além dos poluentes das atividades portuária, industrial e de esgoto doméstico. A substância entorpecente já foi detectada na água, em sedimentos e organismos marinhos, como os mexilhões. Agora, os pesquisadores querem saber se as pessoas que consomem esses mariscos podem sofrer algum efeito na saúde.

Imagens divulgadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) mostram o processo de coleta e análise dos materiais para estudo (veja o vídeo acima). No vídeo gravado, em agosto deste ano, o biólogo e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Camilo Dias Seabra explicou que a primeira coleta foi realizada durante o carnaval de 2014. O objetivo inicial era identificar a presença de medicamentos na baía de Santos.

Para surpresa dos pesquisadores, a cocaína foi encontrada em concentrações semelhantes às da cafeína, uma substância já esperada como indicador de esgoto doméstico. Mais tarde, foi constatado que a cocaína estava presente ao longo do ano, e não apenas durante o carnaval.

"Começamos a monitorar a presença da cocaína na água, nos sedimentos e também nos mexilhões, que são mariscos, animais filtradores, e que tem a capacidade de acumular essa substância porque são animais que se fixam, com o agravante deles serem comestíveis", disse Seabra.

Em seguida, os pesquisadores iniciaram um estudo ecotoxicológico para avaliar os efeitos e influências da cocaína nos mexilhões. A coleta de sedimentos é realizada no Emissário Submarino da baía de Santos. 

Durante os estudos, os pesquisadores também encontraram amostras de ibuprofeno, paracetamol, diclofenaco e outros medicamentos, além de cocaína em concentrações semelhantes às da cafeína, aproximadamente 500 nanogramas por litro, na água.

Segundo Seabra, as maiores concentrações de cocaína nos mexilhões foram detectadas na Ilha Urubuqueçaba, localizada na divisa entre São Vicente e Santos. Na Ilha das Palmas, a concentração foi menor, mas a substância foi encontrada nos tecidos e na carne dos moluscos.

"Conhecendo as concentrações nas águas, nos sedimentos, nos animais, [...] a pesquisa vai para o lado do risco à saúde humana. Agora, com a ajuda de profissionais de saúde pública a gente quer entender se as pessoas que consomem esses mariscos podem sofrer algum efeito na saúde", disse.

O professor acrescentou que um estudo epidemiológico do esgoto da cidade poderia fornecer informações sobre o número de usuários e as principais substâncias consumidas, ajudando a nortear políticas de saúde pública.

Alteração no DNA

Em julho de 2023, o g1 divulgou uma pesquisa que revelou alterações no DNA de mexilhões expostos à cocaína na Baixada Santista, litoral de São Paulo. A pesquisa, conduzida como parte da tese de doutorado da pesquisadora Mayana Karoline Fontes, analisou cerca de 165 mexilhões.

A metade foi coletada no mar de três praias entre Santos, São Vicente e Guarujá, e apresentaram grande concentração da droga. A outra parte veio de um cultivo e, portanto, era considerada saudável. Estes moluscos foram expostos à cocaína para avaliar o impacto no organismo.

A gente viu alteração no DNA. A cocaína causou alterações no DNA dos mexilhões.

Mayana explicou que o processo para determinar a concentração de cocaína no tecido de cada mexilhão se chama liofilização. O procedimento que remove toda a água do organismo e deixa apenas um pó, que foi filtrado com um solvente orgânico para extrair a droga.

Os moluscos foram analisados entre 2018 e 2022, durante a tese de Mayana pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os resultados apontam que os mexilhões podem acumular cocaína em áreas frequentadas por moradores e turistas para banho, pesca e colheita, o que gera preocupação.