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Diário de Suzano

Cientistas brasileiros investigam vírus letal e pouco conhecido (1 notícias)

Publicado em 10 de junho de 2009

Enquanto as autoridades sanitárias estão em alerta por medo da gripe causada pelo vírus H1N1, cientistas brasileiros fazem no país o mapeamento de um vírus muito mais letal, porém bem menos contagioso, o hantavirus. Transmitida por roedores, a hantavirose (síndrome pulmonar do hantavirus) mata entre 32% e 44,5% das vítimas, dependendo da linhagem do vírus.

A forma mais letal, segundo estudos, pode ser o Hantavirus Araraquara, registrado no interior paulista e no cerrado do Planalto Central. Já a variedade mais comum é chamada de Araucária. Segundo o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, entre 2003 e 2006 foram registrados 600 casos de hantavirose no Brasil.

O estudo de mapeamento biogeográfico do hantavirus no Brasil foi realizado pela Rede de Diversidade Genética de Vírus, ligada ao Programa Genoma da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) coordenou o trabalho, que analisou a mortalidade pelo vírus nas diversas regiões: "De São Paulo ao Centro-Oeste, os vírus estão relacionados e são basicamente do tipo Araraquara".

No Sul, há mais um outro tipo, o Juquitiba. Ele e o Araucária, que estão associados à floresta de araucária e à Mata Atlântica, explica o pesquisador:

"Quando olhamos as estatísticas de mortalidade por hantavirus, percebemos que a mortalidade mais elevada está onde achamos, principalmente, o Araraquara".

De acordo com Zanotto, essa sobreposição de mapas indica que o vírus paulista é o mais letal, mas as pesquisas precisam avançar para estabelecer, ou não, a correlação entre os tipos de vírus e a taxa de mortalidade.

Roedores aumentam o risco

Na América do Sul, de acordo com a pesquisa, os hantavirus estão disseminados por Argentina, Chile e Uruguai (variedade Andes), Paraguai (Laguna Negra), Bolívia (Laguna Negra e Rio Mamoré), Venezuela (Caño Delgadito) e Brasil, principalmente Araraquara,

Juquitiba e Araucária

Para Zanotto, o que agrava a situação do hantavirus no Brasil e na América Latina é a alta concentração de roedores no continente, potencializando o contágio para seres humanos. Os roedores eliminam o vírus pela saliva, fezes e urina; os homens se contaminam pela inalação do vírus contido nesses dejetos ou por meio de água e alimentos contaminados, ou quando são mordidos: "Um terço dos mamíferos é de roedores e dois terços desses roedores do planeta estão nas Américas. Sabemos que o alastramento do hantavirus começou há cerca de 200 anos, é muito recente. Então, várias espécies de hantavirus estão sendo colonizadas. E, toda vez que o hantavirus muda de reservatório, ele se altera. Isso pode ter consequências na sua capacidade de proliferar em seres humanos".

O risco da propagação de um vírus tão letal exige monitoramento: "Na Argentina houve um foco, não surto, de hantavirus de pessoa para pessoa. Se temos o vírus passando para várias espécies de roedores, colonizando, ele muda, podendo contagiar pessoas".