Enquanto as autoridades sanitárias estão em alerta por medo da gripe causada pelo vírus H1N1, cientistas brasileiros fazem no país o mapeamento de um vírus muito mais letal, porém bem menos contagioso, o hantavirus. Transmitida por roedores, a hantavirose (síndrome pulmonar do hantavirus) mata entre 32% e 44,5% das vítimas, dependendo da linhagem do vírus.
A forma mais letal, segundo estudos, pode ser o Hantavirus Araraquara, registrado no interior paulista e no cerrado do Planalto Central. Já a variedade mais comum é chamada de Araucária. Segundo o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, entre 2003 e 2006 foram registrados 600 casos de hantavirose no Brasil.
O estudo de mapeamento biogeográfico do hantavirus no Brasil foi realizado pela Rede de Diversidade Genética de Vírus, ligada ao Programa Genoma da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) coordenou o trabalho, que analisou a mortalidade pelo vírus nas diversas regiões: "De São Paulo ao Centro-Oeste, os vírus estão relacionados e são basicamente do tipo Araraquara".
No Sul, há mais um outro tipo, o Juquitiba. Ele e o Araucária, que estão associados à floresta de araucária e à Mata Atlântica, explica o pesquisador:
"Quando olhamos as estatísticas de mortalidade por hantavirus, percebemos que a mortalidade mais elevada está onde achamos, principalmente, o Araraquara".
De acordo com Zanotto, essa sobreposição de mapas indica que o vírus paulista é o mais letal, mas as pesquisas precisam avançar para estabelecer, ou não, a correlação entre os tipos de vírus e a taxa de mortalidade.
Roedores aumentam o risco
Na América do Sul, de acordo com a pesquisa, os hantavirus estão disseminados por Argentina, Chile e Uruguai (variedade Andes), Paraguai (Laguna Negra), Bolívia (Laguna Negra e Rio Mamoré), Venezuela (Caño Delgadito) e Brasil, principalmente Araraquara,
Juquitiba e Araucária
Para Zanotto, o que agrava a situação do hantavirus no Brasil e na América Latina é a alta concentração de roedores no continente, potencializando o contágio para seres humanos. Os roedores eliminam o vírus pela saliva, fezes e urina; os homens se contaminam pela inalação do vírus contido nesses dejetos ou por meio de água e alimentos contaminados, ou quando são mordidos: "Um terço dos mamíferos é de roedores e dois terços desses roedores do planeta estão nas Américas. Sabemos que o alastramento do hantavirus começou há cerca de 200 anos, é muito recente. Então, várias espécies de hantavirus estão sendo colonizadas. E, toda vez que o hantavirus muda de reservatório, ele se altera. Isso pode ter consequências na sua capacidade de proliferar em seres humanos".
O risco da propagação de um vírus tão letal exige monitoramento: "Na Argentina houve um foco, não surto, de hantavirus de pessoa para pessoa. Se temos o vírus passando para várias espécies de roedores, colonizando, ele muda, podendo contagiar pessoas".