São muitos os estudos que relacionam o estresse com o surgimento de cabelos brancos. E agora, mais uma pesquisa recente, com participação de cientistas brasileiros, reforça essa afirmação: de que situações de fortes dores, grandes traumas e esgotamento mental aceleram o crescimento de pelos brancos.
O relatório vem do Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP), em parceria com pesquisadores de Harvard. Segundo os pesquisadores, o sistema nervoso simpático possui uma ligação muito próxima com estresse. Esse sistema é responsável por controlar respostas do organismo em situações de perigo por meio de uma onda de adrenalina e cortisol. Ele também faz o coração bater mais rápido, a pressão arterial subir, a respiração acelerar e as pupilas dilatarem. Tudo isso para que o corpo se prepare o quanto antes para elaborar uma forma de fugir ou lutar contra essas sensações.
A partir disso, eles passaram a tentar identificar possíveis formas de bloquear isso. Os cientistas identificaram a ligação entre estresse e o surgimento de cabelos brancos após injetarem uma substância chamada “resiniferatoxin”, que é extraída da planta Euphorbia resinifera, parecida com um cacto, que causa uma forte dor e, consequentemente, um grande estresse.
O teste foi realizado em camundongos com pelos pretos, e a aplicação foi feita com uma dose considerada alta pelos cientistas durante três dias consecutivos. Cerca de quatro semanas depois, os animais estavam de 30% a 40% dos pelos do corpo completamente brancos.
Para o cientista Thiago Cunha, a grande importância desse estudo é demonstrar que há uma base científica por trás de uma crença popular. Historiadores relatam, inclusive, que um grande volume de cabelos brancos surgiu na cabeça da rainha Maria Antonieta durante a Revolução Francesa, em 1793, quando ela soube que seria guilhotinada.
Tratamento
Embora o surgimento de fios brancos possa ser acelerado por estresse, os cientistas descobriram uma maneira de impedir esse processo. Eles identificaram que o estresse associado à dor causava o “amadurecimento” das células-tronco melanocíticas dentro do bulbo capilar, responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que colore os fios. Os ratos então foram tratados com “guanetidina”, um anti-hipertensivo capaz de inibir a neurotransmissão pelas fibras do sistema nervoso simpático e bloquear o embranquecimento capilar.
Em outro teste, essa neurotransmissão foi interrompida por uma cirurgia de retirada das fibras simpáticas. Isso também bloqueou o branqueamento capilar mesmo após a aplicação da injeção para indução da dor. Em contrapartida, Cunha diz que não há uma pesquisa no sentido de criação de um medicamento que evitaria o embranquecimento do cabelo.
O estudo durou cerca de três anos e passou por diversos testes laboratoriais, sendo coordenado pela professora de biologia regenerativa Ya-Chieh Hsu, em Harvard. A pesquisa será publicada na revista Nature.