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Cientistas brasileiros criam minicérebros para desvendar segredos do envelhecimento saudável (84 notícias)

Publicado em 09 de fevereiro de 2025

O Brasil pode estar mais próximo de entender os mistérios da longevidade. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo minicérebros a partir de células sanguíneas de centenários para investigar os fatores genéticos que protegem o organismo contra os efeitos do envelhecimento. O projeto é conduzido pelo Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL), vinculado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

A pesquisa busca identificar genes que preservam a função cognitiva e muscular em idosos com mais de 100 anos. Entre os participantes está a Freira Inah Canabarro Lucas, de 116 anos, considerada a mulher mais idosa do mundo pelo Gerontology Research Group. Moradora de Porto Alegre (RS), ela se recuperou da COVID-19 sem sequelas, adora chocolate e já viajou por toda a América Latina. Outro exemplo é Laura, de 105 anos, que começou a nadar aos 70 e, ao contrário do esperado, manteve e até fortaleceu sua musculatura, conquistando medalhas após os 100 anos. Já Milton, um veterinário de 108 anos de Brasília, impressiona pela memória afiada, sendo capaz de recordar nomes e eventos com precisão.

O estudo já coletou amostras de 75 centenários saudáveis e segue recrutando novos voluntários. “Queremos identificar genes protetores contra doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, além de condições associadas à perda muscular”, explica Mayana Zatz, coordenadora do CEGH-CEL. Segundo ela, enquanto o estilo de vida saudável tem grande impacto na qualidade da velhice, após os 90 anos, a influência genética se torna ainda mais determinante.

Os cientistas estão transformando as células sanguíneas dos centenários em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), permitindo a criação de organoides cerebrais. Esses minicérebros cultivados em laboratório ajudam a entender os mecanismos que retardam o envelhecimento neural. “Estamos desenvolvendo organoides mais complexos, capazes de simular melhor as condições do cérebro humano”, destaca Zatz.

Uma das inovações da pesquisa é a inclusão de micróglias, células essenciais do sistema nervoso responsáveis por eliminar patógenos e regular a homeostase cerebral. “Sabemos que a micróglia tem um papel crucial no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. Queremos entender se a dos centenários funciona de maneira diferente, conferindo proteção contra o declínio cognitivo”, afirma Raiane Ferreira, pesquisadora do CEGH-CEL e bolsista da FAPESP.

Apesar dos avanços, os cientistas enfrentam desafios. As células iPS possuem características mais embrionárias, o que torna necessário adaptar os minicérebros para que expressem os fatores de estresse presentes no envelhecimento. “Nosso objetivo é replicar condições reais do neuroenvelhecimento, permitindo que possamos estudar como o cérebro dos centenários resiste ao tempo”, explica Ferreira.

Com a evolução da pesquisa, os cientistas esperam que as descobertas possam futuramente auxiliar na prevenção e tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento, ampliando a expectativa e a qualidade de vida da população.