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Cientistas brasileiros acham maneira de evitar efeitos adversos da quimioterapia (29 notícias)

Publicado em 24 de agosto de 2022

Uma equipe de cientistas brasileiros e italianos relata ter encontrado uma maneira de evitar alguns efeitos colaterais da quimioterapia. No caso, foi estudado o paclitaxel, medicamento quimioterápico oferecido, principalmente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que pode causar dores, fraqueza muscular e falta de ar, levando à suspensão do tratamento em casos mais graves.

Publicado no periódico científico Cell Death & Disease, o estudo produzido pelos pesquisadores descobriu uma ligação entre o remédio e um receptor celular chamado C5aR1, relacionado a doenças inflamatórias e tumores. As reações adversas do paclitaxel estão ligadas a essa conexão, especialmente a neuropatia periférica, quando os nervos periféricos não se comunicam bem com o cérebro.

Combatendo efeitos adversos da quimioterapia

De acordo com os cientistas, ao entender melhor como o processo acontece, será possível bloquear as reações colaterais em humanos: alguns dos cientistas responsáveis, todos brasileiros, já estudavam o receptor C5aR1 desde os anos 2000. Em 2008, seu papel na dor inflamatória foi demonstrado com sucesso, e desde então, aprofundamentos nessa pesquisa foram sendo feitos.

Mais tarde, a empresa italiana Dompé Farmaceutici S.p.A. entrou com apoio ao empreendimento científico, bem como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com isso, foi possível descobrir que uma citocina específica - a interleucina (IL)-8 tinha um papel importante nos efeitos colaterais do paclitaxel. Restava, então, encontrar as proteínas que ativavam a IL-8.

Para isso, foram realizadas simulações de ancoragem molecular, ou seja, previsões de como uma molécula "prefere" se conectar a outra, através da plataforma Exscalate. Assim se determinou a afinidade do paclixel com o C5aR1: este último funciona como um receptor do complemento, proteínas que trabalham com o sistema imune inato - o primeiro ativado no corpo em resposta a inflamações, por exemplo.

Em camundongos, foi confirmada a ligação entre a medicação e o receptor, e monitorando a resposta nervosa dos animais, foi testada a inibição do C5aR1. Ao realizá-la, as citocinas anafiláticas, que desencadeiam reações alérgicas, tiveram sua liberação neutralizada. Isso diminuiu a hipersensibilidade da reação dos roedores, e também foi promissor em testes com macrófagos in vitro.

Segundo os cientistas, a próxima etapa da pesquisa envolverá ensaios clínicos com medicamentos já disponíveis no mercado que sejam potencialmente inibidores do C5aR1 e anticorpos, embora estes últimos sejam mais caros. Além de avaliar as capacidades de diminuição dos efeitos adversos em humanos, será preciso verificar se isso não prejudicará o efeito do paclitaxel no combate aos tumores.