Notícia

Terra

Cientistas avaliam resultados de transplante facial

Publicado em 04 julho 2006

Por Agência FAPESP

O grupo de cientistas franceses responsável pelo primeiro transplante de rosto, realizado em novembro de 2005 em uma mulher de 38 anos, avalia os resultados do histórico procedimento em artigo publicado nesta terça-feira, na edição eletrônica da revista médica The Lancet. Durante a cirurgia, foram reconstituídos os lábios, nariz, queixo e partes de ambos os lados da face da paciente, que havia sido atacada por um cachorro, cujas mordidas danificaram seus tecidos até o nível do esqueleto e dentes.
"Como a reconstrução convencional de tecido exigiria pelo menos quatro ou cinco operações para recuperar as quatro unidades anatômicas perdidas e provavelmente acarretaria em resultados estéticos e funcionais ruins, o alotransporte de tecido composto foi escolhido como opção terapêutica para reconstruir o rosto do paciente", explicam os autores no artigo, liderados por Bernard Devauchelle, do Departamento de Cirurgia Maxilofacial, conforme divulgado pela Agência Fapesp.
O transplante foi bem-sucedido. Os médicos fizeram implante de pele, gordura e vasos sangüíneos, que foram removidos de uma doadora com morte cerebral. Segundo os autores, o rosto resultante é um híbrido, diferente do da paciente e do doador.
No artigo, os pesquisadores, liderados por Bernard Devauchelle, do Departamento de Cirurgia Maxilofacial do Hospital Universitário em Amiens, descrevem o detalhado processo que envolveu antes, durante e os quatro meses seguintes à inédita cirurgia.
"As conseqüências demonstram a viabilidade do procedimento. O resultado funcional será mais bem avaliado no futuro, mas a montagem pode ser considerada bem-sucedida em relação à aparência, sensibilidade e aceitação por parte do paciente", acrescentaram os pesquisadores.
Em comentário sobre o artigo publicado no mesmo dia, Patrick Warnke, da Universidade de Kiel, na Alemanha, considera o transplante um novo marco na medicina, mas alerta para problemas potenciais, especialmente de rejeição. "A técnica do alotransplante exige uma imunossupressão vigorosa e por toda a vida. Falhas no regime escolhido podem se mostrar devastadoras, com a possível perda do rosto transplantado a qualquer momento", disse.
A paciente, posteriormente identificada como Isabelle Dinoire, atualmente consegue falar e se alimentar. Ainda sob vigilância médica, a francesa exibe cicatrizes e um pequeno problema de simetria facial. Em abril, o segundo transplante facial parcial foi feito na China, em Li Guoxing, 30 anos, que havia sido atacado por um urso. O procedimento envolveu dois terços do rosto.