A biodiversidade, fortemente impactada pelas alterações climáticas, desempenha um papel crucial no combate à crise climática. Eventos climáticos extremos têm causado deslocamento e redução de espécies, mas os serviços ecossistêmicos e soluções baseadas na natureza – ambos dependentes de uma biodiversidade saudável – podem assegurar as transformações necessárias nas agendas de adaptação e mitigação climática.
A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, destaca a importância da biodiversidade para manter os serviços ecossistêmicos vitais, como a regulação da água, clima, solo, polinização e segurança alimentar. Ela enfatiza que a biodiversidade está intrinsecamente ligada à mitigação e adaptação climática, além de estar relacionada à justiça climática, considerando que os impactos das mudanças climáticas afetam diferentes grupos sociais de formas desiguais.
Durante a conferência "Contribuições para a COP-30: A Biodiversidade na Agenda Climática", realizada em 28 de março, Alencar ressaltou que os ecossistemas desempenham um papel fundamental na absorção de CO2 da atmosfera. A preservação e restauração desses ecossistemas não apenas ajudam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também contribuem significamente para a mitigação das mudanças climáticas.
No contexto da adaptação climática, Alencar mencionou que ações como a restauração de encostas protegem contra desastres, assegurando água de qualidade e promovendo uma produção de alimentos sustentável, minimizando o uso de herbicidas e, consequentemente, os impactos na saúde humana.
O evento também reuniu especialistas de vários programas temáticos da FAPESP, como o Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica (PROASA), o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e o Programa FAPESP de Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA). O objetivo foi discutir estratégias para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que ocorrerá em novembro em Belém (PA).
Simone Vieira, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Nepam-Unicamp) e membro do BIOTA, destacou que a palavra "biodiversidade" é mencionada apenas três vezes na carta enviada pelo presidente da COP-30, André Corrêa do Lago, à comunidade internacional. No documento, de 11 páginas, ele convoca todos os países a colaborarem no combate às mudanças climáticas.
Vieira alertou que a interdependência entre clima e biodiversidade é crucial: “O clima não existe sem biodiversidade. A biodiversidade produz o clima e o clima molda a biodiversidade. É impossível tratar um sem o outro.”
Carlos Joly, professor emérito da Unicamp, observou que, há pelo menos 20 anos, há um consenso sobre a necessidade de integrar as discussões sobre clima e biodiversidade. Ele afirmou que a diferença de financiamento entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, estabelecida na Rio-92, gera disputas nas negociações climáticas, mas é preciso igualmente abordar a biodiversidade.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) organizaram um workshop conjunto que evidenciou a intersecção das duas agendas. Entretanto, a resistência do Brasil à aprovação do relatório que integrou ambos os temas demonstra os desafios enfrentados nas discussões ambientais.
Alencar ainda chamou atenção para a ausência de contabilização dos incêndios florestais no inventário de gases de efeito estufa do Brasil, frisando que, embora muitas vezes considerados naturais, esses incêndios em florestas tropicais são frequentemente exacerbados pelas mudanças climáticas. Com o aumento dos incêndios na Amazônia, que representam 65% das emissões tardias, essa questão precisa ser discutida com urgência na COP-30.
Outras cinco Conferências FAPESP estão programadas para este ano, com destaque à COP-30. O evento realizado em 28 de março pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=rcn9iQTnccE
A conexão entre biodiversidade e mudanças climáticas é essencial para garantir um futuro sustentável e resiliente.
Informações da Agência FAPESP