Notícia

Gazeta Mercantil

CIÊNCIA: Patente torna própolis mais competitiva (1 notícias)

Publicado em 20 de janeiro de 2003

Por Cláudia Marques - de São Paulo
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pesquisadores da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), patentearam um processo de análise e classificação que deve tornar a própolis brasileira mais competitiva no mercado farmacológico. Segundo explica a professora Maria Cristina Marcucci Ribeiro, responsável pela pesquisa, o processo de determinação dos tipos de própolis, segundo marcadores químicos, nas principais regiões produtoras brasileiras - como Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - permitirá a elaboração de um levantamento que estabelecerá padrões para a própolis obtida em cada região, "facilitando a produção de medicamentos". Os trabalhos resultaram em duas patentes registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e financiadas, em 2002, pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento de Tecnologia (Nuplitec) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Como resultado, a primeira patente, denominada pela pesquisadora de "patente-mãe", trata especificamente do processo da análise. "Já a segunda se refere à utilização da própolis para uso odontológico", afirma Maria Cristina. TESTES COM BACTÉRIAS A formulação patenteada é elaborada à base dessa resina vegetal, sem álcool. "Esse processo torna a própolis completamente diferente dos produtos similares disponíveis no mercado." Segundo a pesquisadora, para chegar ao antisséptico bucal dissolvido em água, que tem patente pedida no Brasil, foram feitos testes em bactérias cariogênicas (causadoras de cáries) com mais de 2 mil amostras de própolis. Os procedimentos tiveram a participação do professor Walter Bretz, da Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos. Os testes consistiram em recolher saliva com alta concentração de bactérias, que foi incubada com o enxaguatório bucal. "A formulação com a própolis inibiu todas as bactérias cariogênicas", descreve Maria Cristina. Coube a Bretz estudar a aplicação da própolis nos tecidos inflamados da gengiva e na recuperação de dentes. "Conseguimos excelentes resultados." O estudo de estabilidade está sendo conduzido na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). "Esse teste, uma das últimas etapas do processo, é fundamental para avaliar por quanto tempo o produto permanece estável, sem criar fungos", relata a professora. FATURAMENTO POTENCIAL Reconhecida primeiramente pelas terapias alternativas e depois pela indústria farmacêutica internacional como um poderoso cicatrizante e antibactericida, a própolis é considerada subutilizada no Brasil - oitavo maior produtor mundial do produto, com mais de 150 toneladas anuais . Para Maria Cristina, o País ainda não descobriu todo o potencial alimentar e medicamentoso da própolis. "Enquanto nossas empresas do setor são de micro e pequeno porte, com faturamento médio de cerca de R$ 20 mil mensais, o Japão, cujo mercado interno foi incentivado por empresas brasileiras, movimenta anualmente US$ 300 milhões", compara. A explicação, segundo produtores do setor, para a falta de agressividade comercial, seria o fato de a própolis nacional, de modo geral, não se enquadrar nos padrões e exigências de classificação por propriedade química. As formulações utilizadas pelas empresas nacionais baseiam-se principalmente na cultura popular, que emprega quase que exclusivamente o mel na formulação de remédios caseiros. O setor no Brasil, por exemplo, é responsável por cerca de 70% do faturamento. O que as empresas pretendem é valer-se destes conhecimentos adquiridos no decorrer de muitos anos fornecendo produtos já prontos à população que os consome de longa data. Hoje, a própolis já é muito utilizada como pomada e em cremes, géis, soluções hidro-alcóolicas e sabonetes. Atualmente, Maria Cristina trabalha na relação da composição química da própolis com a respectiva atividade biológica. "Estabelecidos os tipos químicos, estamos colocando dentro os modelos experimentais biológicos para ver qual tipo serve para determinada doença", relata. A pesquisa, por exemplo, pode apontar definitivamente a própolis como o medicamento mais indicado para a Helicobacter pylori, a bactéria responsável pelo desenvolvimento de úlcera gástrica e de tumores no aparelho digestivo. "Criamos instrumentos para que a própolis possa ser transformada em medicamento pela indústria farmacêutica", explica a pesquisadora. BAIXO CONSUMO Os produtores brasileiros são responsáveis pela colocação no mercado de cerca de 35 mil toneladas de mel e aproximadamente 150 toneladas de própolis por ano. Segundo empresários da região de Rio Claro, o Brasil é um dos países com o mais baixo consumo de mel per capita dentre as nações produtoras. A média brasileira é de 70 gramas por habitante ao ano, enquanto nos países do Hemisfério Norte o índice é de 1,3 mil gramas anuais por habitante. O crescimento nacional tem ocorrido exatamente na área de misturas de própolis com outras ervas medicinais, e tem sido inclusive copiado por países como Argentina, Austrália. Nova Zelândia, Estados Unidos e França. claudiamarques@gazetamercantil.com.br