Com investimentos previstos de R$ 1,4 bilhão, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançou oficialmente na última quinta-feira (06/06) 17 novos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes. O evento contou com a presença do governador Geraldo Alckmin e de diversos representantes da área cientifica, entre eles, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader.
Os recursos serão investidos ao longo de 11 anos, na realização de pesquisas competitivas em áreas estratégicas, com aplicação nos setores industrial e público, e difusão do conhecimento gerado para a sociedade, por meio de programas envolvendo, inclusive, alunos do ensino médio. "São Paulo investe mais em pesquisa que a Itália, o México, o Chile e a Argentina", disse Alckmin.
O governador de São Paulo classificou o lançamento como "um dia histórico para São Paulo". Ele destacou a importância de ter uma política estadual interagindo com os institutos de pesquisa das várias secretarias, as universidades, a Fapesp e os 17 parques tecnológicos do estado. "Se existe orgulho justo, um desses orgulhos justos são as nossas universidades e a Fapesp, que é um paradigma para as instituições similares existentes em todo o País", ressaltou.
A presidente da SBPC também elogiou o lançamento do programa. "Os Cepids são muito importante para o São Paulo e, consequentemente, para o País", disse Helena."A SBPC espera que este investimento gere um grande impacto nacional e que eleve a pesquisa do País para um novo patamar." Ela também exaltou a liberação de recursos de forma continuada. "Haverá uma avaliação periódica e isso trará tranquilidade para que os pesquisadores se dediquem aos seus projetos".
Ela ainda enalteceu o modelo bem sucedido da Fapesp e a importância dela para a ciência, a tecnologia e a inovação de São Paulo. "Seu papel tem sido bem sucedido e trazido benefícios para a sociedade do Estado de São Paulo e para o País como um todo", disse. Do total que será investido, R$ 760 milhões são da Fapesp e R$ 640 milhões estimados em salários pagos pelas instituições sede aos pesquisadores e técnicos. A iniciativa envolve 499 cientistas do Estado de São Paulo e 68 de outros países, como pesquisadores principais ou associados.
Alckmin também destacou o investimento no programa e afirmou que este aporte mostra o quanto São Paulo está à frente de muitos países da América Latina e Europa quando o assunto é pesquisa. "Nós temos um investimento proporcional ao nosso PIB, um dos mais elevados do mundo", disse."Temos recursos humanos nas universidades do Estado de São Paulo, que são extremamente importantes para o investimento em inovação e pesquisas pela iniciativa privada. Cerca de 61% das pesquisas de São Paulo são financiadas pelo setor privado. E isso é essencial para o desenvolvimento do Brasil."
A presidente da SBPC ressaltou a diversidade das áreas contempladas no programa. "Fico muito feliz já que a ciência foi olhada como um todo,pois diversas áreas foram contempladas, entre elas, as da saúde, de ciências humanas e sociais e de engenharia, ciências naturais e matemática", disse. Celso Lafer, presidente da Fapesp, por sua vez, ressaltou os avanços realizados pelos 11 Cepids lançados em 2000. "Os primeiros 11Cepids tiveram um impacto importante para o avanço do conhecimento no Estado de São Paulo", declarou."Agora, eles são 17, com o expressivo número de dez em cidades do interior, o que representa um processo harmônico de descentralização da geração de conhecimento."
Lafer também ressaltou a preocupação da Fundação em trabalhar projetos com concepção semelhante à dos Cepids, mas adaptados às necessidades do setor produtivo, com o intuito de aproximar as empresas privadas das universidades e institutos de pesquisa e criar centros cofinanciados por indústrias e pela Fapesp. "Um desses projetos já resultou num acordo de cooperação com a companhia automobilística Peugeot-Citröen, que vai criar um Centro de Pesquisas em Engenharia por pelo menos dez anos", contou."O objetivo é desenvolver projetos sobre motores de combustão interna, adaptados ou desenvolvidos especificamente para biocombustíveis. Outros estão em negociações, um deles com a empresa farmacêutica GSK, numa demonstração de entrosamento entre o setor produtivo e a Fapesp, em benefício do nosso estado."
Parcerias
Segundo o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, mais da metade do dispêndio em pesquisa e desenvolvimento no Estado de São Paulo é feito por empresas, diferentemente do que acontece no restante do País, onde a participação da iniciativa privada é menor. "Isso só ocorre em lugares onde tem vitalidade e força no setor acadêmico", disse."É impossível acontecer sem boas universidades e boa formação de pessoal. Por isso, mais da metade das patentes registradas no Brasil se originam de São Paulo."
Ao apresentar os 17 centros, Brito Cruz contou que o processo de seleção durou 20 meses, da apresentação dos 90 pré-projetos à escolha dos aprovados. Mobilizou 150 revisores brasileiros e estrangeiros e um comitê internacional formado por 11 cientistas convidados, além dos comitês internos da Fapesp. Segundo ele, as propostas apresentadas foram avaliadas pelo mérito científico, ousadia, originalidade, competitividade internacional e pela qualificação das equipes e suas lideranças. Cada um dos Cepids contará com um comitê consultivo internacional. Eles terão sua continuidade avaliada pela Fapesp no segundo, quarto e sétimo anos.
Ele também ressaltou outras características importantes dos Cepids. "Estes centros podem ainda criar condições para que cientistas no Brasil trabalhem em problemas de grande complexidade, tendo tranquilidade e certeza sobre o financiamento que irá receber nesse período de 11 anos", explicou."Eles também vão dar oportunidades de agregar cientistas em grupos de pesquisas com várias especialidades,que podem gerar impacto econômico e social."
O diretor científico da Fapesp também acredita que este grande investimento servirá para incentivar novos pesquisadores. "Essa iniciativa indica estabilidade na área de pesquisa e isso ajuda a criar, entre os jovens, a ideia de que a carreira de cientista é recompensadora", disse."Que é uma carreira onde há recursos para que ele possa fazer as descobertas que ache que dá para fazer."
A presidente da SBPC também acredita que este investimento irá estimular a adesão de pessoas à área científica. "Isso já vem acontecendo", afirmou."Mas com esse investimento sistemático, ainda é possível atrair pesquisadores estrangeiros. Principalmente nos dias de hoje, em que diversos países têm realizado cortes em algumas áreas." Helena disse ainda que mesmo com este investimento expressivo, ainda há espaço para novos aportes. "Temos investimentos no CNPq, mas é preciso mais, visto que houve uma grande demanda de propostas, ao todo 90, e só 17 foram contempladas", explicou."Quem sabe esse programa incentive o Governo Federal a ampliar os investimentos na área cientifica e contemple outros projetos."
(Fonte: Jornal da Ciência – 07/06/2013)