Notícia

Jornal da USP

Cidades globais para o século 21

Publicado em 10 novembro 2014

Por Sylvia Miguel

“Esta conferência é o amadurecimento de uma iniciativa de dois anos atrás, quando fixamos alguns tópicos de pesquisas em áreas como neurociências e cidades globais. Temos uma variedade de pesquisas nesses campos, tanto na Universidade de Toronto quanto na USP, mas muitas não estão sincronizadas. Um programa comum ajudará a sincronizar pesquisadores e áreas multidisciplinares”, afirmou o reitor da USP, Marco Antonio Zago, durante a “Internacional Global Cities Joint Conference USP & UofT”, realizada nos dias 22 a 24 de outubro na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Com o tema “Cidades Globais, Universidades e Inovação”, o evento reuniu mais de cem pesquisadores das duas instituições. A sessão do dia 23, aberta ao público, apresentou no auditório da FEA as linhas de pesquisa que nortearão os projetos bilaterais: a universidade e a cidade; infraestrutura, resiliência e sustentabilidade; cidades saudáveis; e questões socioeconômicas.

O encontro deu continuidade ao workshop Brainstorming on Global Cities, realizado em dezembro de 2012 entre acadêmicos das duas instituições, que delineou alguns interesses de pesquisa para as duas universidades, suas cidades e seus problemas. “Naquele encontro inicial, rapidamente identificamos uma série de temas e interesses comuns. Esta conferência internacional é a evolução daquelas discussões e uma oportunidade real de reunir colegas e planejar projetos conjuntos”, disse ao Jornal da USP o professor Meric Gertler, presidente da Universidade de Toronto (UofT, na sigla em inglês), cargo equivalente ao de reitor.

Durante a conferência, o presidente da UofT ressaltou que as duas instituições e as cidades em que estão inseridas têm muito em comum. As duas cidades são centros econômicos e culturais e também as maiores referências na área médica, além de clusters acadêmicos e de pesquisa, lembrou. Além disso, as duas universidades contribuem para o desenvolvimento local e regional e ao mesmo tempo se beneficiam do crescimento que proporcionam, disse Gertler.

O encontro realizado há dois anos, também na FEA, resultou num edital em que as duas universidades colocaram recursos em projetos de cooperação mútua. “Queremos fortalecer essa ação com projetos mais ambiciosos e financiamentos mais vultosos. Esperamos que ao final desta conferência tenhamos grupos bilaterais que irão elaborar projetos para buscar financiamentos junto à Fapesp e aos órgãos de fomento do Canadá”, disse o reitor da USP.

Gertler espera que projetos comecem a ser submetidos às agências de fomento “já nos próximos meses”, a fim de que a agenda de trabalhos “possa avançar rapidamente”, disse ao Jornal da USP.

Segundo o presidente, ainda não há valores determinados quanto aos recursos que serão direcionados para essa parceria. “As contribuições virão das duas universidades e também de órgãos de financiamento governamentais e não governamentais do Brasil e do Canadá”, disse Gertler.

“A USP e a UofT possuem aproximadamente quatro anos de uma relação muito especial, que é essencialmente multidisciplinar, pois cobre uma variedade de áreas e temas. Esperamos, ao final deste evento, a integração entre esses professores para que possam aplicar em breve uma linha de financiamento que a Fapesp tem à disposição da Universidade de Toronto”, disse ao Jornal da USP o presidente da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani), professor Raul Machado Neto.

Inovação – Cerca de 90% dos financiamentos de pesquisas na Universidade de Toronto vêm de recursos governamentais, não-governamentais e fundos internacionais de vários países. Os 10% restantes correspondem a pesquisas feitas com recursos da indústria. A universidade investe anualmente 1,2 bilhão de dólares canadenses em pesquisas, mostrou o presidente da UofT.  Como resultado, a instituição é uma das mais inovadoras, alcançando a marca de 200 patentes e aproximadamente 60 novas empresas por ano, as chamadas startups.  As informações são do vice-presidente de pesquisa e inovação da UofT, o bioquímico Peter Lewis.

“Queremos formar parcerias também para inovação. No ano passado recebemos uma pessoa da Agência USP de Inovação que durante duas semanas teve a oportunidade de saber como fazemos inovação em Toronto, uma área em que estamos muito bem”, disse Lewis.

“Visitei o novo centro de inovação e tecnologia na USP em Ribeirão Preto e percebo que poderá haver muitas oportunidades de cooperação nessa área”, disse Lewis, referindo-se ao Supera Parque de Inovação e Tecnologia, inaugurado em março de 2014. O parque está localizado no campus da USP em Ribeirão Preto. A expectativa é que deverá impulsionar o desenvolvimento científico e tecnológico da região e atrair empresas principalmente da área da saúde.

Somadas as produções científicas da USP e da UofT, as duas instituições publicam o total aproximado de 25 mil trabalhos científicos por ano, contabilizou o presidente da UofT. “Esse total indica que essas duas instituições são grandes centros produtores de conteúdo acadêmico. Portanto, podem estabelecer uma relação muito frutífera”, acrescentou Gertler.

Transportes – Há décadas, a UofT está na vanguarda da investigação sobre água e mantém parcerias nacionais e internacionais para estudar o assunto, mostrou o professor Eric Miller, do Departamento de Engenharia Civil da instituição. O professor destacou aexpertise do seu departamento em temas como purificação de água potável, planejamento de infraestrutura para sistemas hídricos e energéticos e design para otimização de sistemas de distribuição de água, entre outros.

Além de sistemas hídricos e energéticos, Miller mostrou outras especialidades de seu departamento: transportes, infraestrutura urbana sustentável, resiliência crítica em infraestrutura, design urbano, infraestrutura social, governança e finanças.

Segundo Miller, São Paulo e Toronto, assim como outras metrópoles, terão no século 21 o desafio de estruturar sistemas inteligentes de transportes sustentáveis capazes não só de otimizar a capacidade viária urbana mas também reduzir os impactos ambientais. Aponta que as cidades precisam de soluções “completas” de mobilidade para seus moradores e para o transporte de mercadorias. Outro desafio é melhorar o que chamou de “transporte ativo” voltado para pedestres e ciclistas.

Além de engenharia e arquitetura, a conferência contou com cientistas das mais diversas áreas, como medicina, saúde pública, sociologia, ciência política, geografia, relações internacionais, economia, gestão ambiental e administração.