Notícia

Folha de Pernambuco online

Cidade paulista inicia vacinação em massa em estudo inédito sobre eficiência da CoronaVac (64 notícias)

Publicado em 17 de fevereiro de 2021

Por Portal Folha de Pernambuco com Agência Fapesp

Toda a população maior de 18 anos deverá ser vacinada nos próximos dois meses

O Instituto Butantan inicia, nesta quarta-feira (17), em Serrana, município paulista com 48 mil habitantes, estudo inédito com o objetivo de avaliar o impacto da vacinação no combate á pandemia de Covid-19. Toda a população maior de 18 anos deverá ser vacinada nos próximos dois meses.

Os primeiros resultados devem ser conhecidos em maio. A vacina utilizada será Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.

Por meio desse estudo – denominado Projeto-S – os pesquisadores vão medir o impacto da vacinação na transmissão do vírus e na redução da sobrecarga no sistema de saúde, bem como outros efeitos indiretos da imunização na economia, na circulação de pessoas e também sobre as novas variantes do Sars-CoV-2. O estudo tem a parceria do Hospital Estadual de Serrana e da administração municipal.

“Não se trata de uma vacinação em massa pura e simplesmente. O estudo tem por objetivo acompanhar a efetividade da vacinação em uma comunidade e, com isso, identificar até que ponto a imunização individual tem efeito coletivo. Isso quer dizer que queremos identificar a queda da taxa de transmissão do novo coronavírus com a vacinação ou o número de pessoas que é necessário vacinar para que o vírus pare de circular e para que aquelas pessoas que não puderem tomar a vacina também fiquem protegidas”, diz Ricardo Palácios, diretor de Estudos Clínicos do Butantan.

Palácios afirma que as informações obtidas em Serrana servirão de base para o planejamento da campanha de vacinação. “Esse tipo de estudo é muito difícil de ser realizado. Ele demanda uma grande preparação prévia de logística, exige também o envolvimento de vários atores e da própria população que é a protagonista do estudo. Só conseguiremos os dados que buscamos se a população aceitar e se engajar na vacinação”, diz.

No primeiro dia de cadastramento da população de Serrana, na quinta-feira (11), cerca de 23 mil pessoas fizeram a inscrição, o que equivale a 76% do público-alvo do projeto. Uma nova etapa de inscrição será iniciada nesta quarta-feira.

Para analisar os efeitos da vacinação, a cidade foi esquadrinhada e dividida em 25 setores ou aglomerações (clusters). Por meio de um sorteio, foi estabelecida a ordem de vacinação de cada setor nos próximos dois meses. A única priorização é a de que setores vizinhos não sejam vacinados ao mesmo tempo, justamente para avaliar o impacto da vacinação de um aglomerado no outro. O Instituto Butantan vai monitorar por meio de testagens a redução do contágio da Covid-19 conforme os moradores adultos da cidade forem vacinados.

“A ideia é vacinar o maior número de pessoas da população adulta. Nós estamos prevendo uma vacinação que pode chegar a 30 mil pessoas. E, com isso, a gente acompanha a evolução da epidemia. Tem aspectos técnicos que vão permitir fazer cálculos, fazer projeções e calcular se a vacina é capaz de diminuir a transmissão do vírus”, explica o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas.

Critério de escolha

A escolha de Serrana se deu por três motivos principais: trata-se de uma cidade pequena, com um alto índice de contaminação (o que permite avaliar a diferença entre imunidade obtida pela doença e adquirida pela vacina) e está próxima a um polo de pesquisa, como é o caso da cidade de Ribeirão Preto.

“Com isso, é possível verificar como se dá a evolução da vacinação e acompanhar variáveis importantes, levando-se em conta que a distribuição etária da população e a maneira como se deu a epidemia, com altas taxas de transmissão, internação e óbitos são representações do que ocorreu no Brasil como um todo”, diz.

A preparação para a realização do Projeto-S começou em setembro de 2020, quando os casos da doença e os contatos dos infectados em Serrana passaram a ser monitorados. Há testes disponíveis para toda a população em clínicas, hospitais e postos de saúde da cidade. Foi realizado ainda uma espécie de recenseamento (Censo da Saúde) que buscou informações em cada endereço sobre número de moradores, rotina de contato e disposição para se vacinar.

Antes disso, em junho de 2020, na primeira fase do inquérito epidemiológico, testes sorológicos e de RT-PCR realizados em 160 endereços mostraram que 8,75% dos habitantes tinham tido contato com o vírus e 5% estavam com a infecção ativa.

Também será realizado, com o apoio da Fapesp, uma ampla análise de imunidade prévia nos 30 mil habitantes que receberão a vacina, com o objetivo de identificar quem já tinha sido infectado e se ainda estão circulando no sangue os anticorpos para o Sars-CoV-2. O objetivo é ajudar na interpretação dos dados do estudo.

Para a realização do estudo, além das doses distribuídas como parte do plano nacional de vacinação iniciado em 17 de janeiro em todo o Brasil, foram destinadas mais 60 mil doses da Coronavac importadas pelo Instituto Butantan para a pesquisa.

“A cidade não é uma ilha. Diariamente pessoas saem de lá e vão trabalhar em outras cidades ou recebem visitas de moradores de fora. Isso é extremamente importante para o nosso estudo, pois poderemos mensurar o impacto desses deslocamentos e contatos no efeito da vacinação coletiva. Temos casos na história dessa pandemia da Nova Zelândia e de Taiwan em que foi possível barrar o vírus sem a vacina por serem ilhas e também, claro, pelo excelente trabalho de contenção da transmissão. Esse não é o caso do Brasil. Analisar o efeito desses contatos e deslocamentos em uma população vacinada é de extrema importância para o planejamento da imunização”, diz.