Doutora Shirlene Telmos Silva de Lima (foto) e doutor William Marciel de Souza são dois dos responsáveis pelo Artigo Científico 'Dinâmica Espaço Temporal 10 anos e Recorrência do Vírus Chikungunya no Brasil: um Estudo Epidemiológico'.
O Artigo Científico 'Spatiotemporal Dynamics and Recurrence of Chikungunya Virus in Brazil: an Epidemiological Study' ('Dinâmica Espaço Temporal 10 anos e Recorrência do Vírus Chikungunya no Brasil: um Estudo Epidemiológico') acaba de ser divulgado, na Revista The Lancet Microbe, uma das publicações internacionais mais lidas no Mundo Científico.
O Artigo Científico 'Dinâmica Espaço Temporal 10 anos e Recorrência do Vírus Chikungunya no Brasil: um Estudo Epidemiológico' é resultado de uma Pesquisa, que é reverenciada pela importância de apoio para tomadas de Ações da Vigilância em Saúde Pública do Brasil. A Pesquisa teve a participação de 26 cientistas brasileiros e estrangeiros pertencentes ao:
Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE).
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Ministério da Saúde do Brasil.
Universidade de Campinas (Unicamp).
Universidade de São Paulo (USP).
Universidade Federal de Roraima (UFRO).
Universidade do Texas dos Estados Unidos.
Imperial College do Reino Unido.
O Estudo Epidemiológico publicado, na Revista The Lancet Microbe aponta, que o Ceará é o Estado Brasileiro, que mais registrou casos de Chikungunya desde as primeiras notificações da Doença no País. Ao todo, são 77.418 casos confirmados durante as três maiores Ondas Epidêmicas em 2016, 2017 e 2022. Isso causou mais mortes pela Chikungunya (1.300), que por Dengue (1.100) comparando o período de Estudo (2013-2022).
SHIRLENE TELMOS - Doutora Shirlene Telmos Silva de Lima é formada em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com Especialização em:
Análises Clínicas.
Bioquímica.
Biologia Molecular.
Doutora Shirlene Telmos é:
Mestra em Saúde Pública, pela UFC.
Doutora em Ciências Médicas, pela UFC.
Pesquisadora do Lacen-CE.
Pesquisadora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (IBUnicamp).
USP - A disseminação do Vírus Chikungunya (CHIKV) no Brasil desde sua introdução no País há dez anos é detalhada em um Estudo Internacional com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
A partir da Análise de 253.545 casos confirmados em Laboratório entre 2013 e 2022, a pesquisa sugere que a doença se distribuiu pelo Território Brasileiro de forma heterogênea, Cidades mais afetadas apresentaram alguma proteção a novos Surtos, enquanto municípios menos expostos a ondas anteriores permaneceram mais suscetíveis. As informações levantadas pela Pesquisa são apresentadas em Artigo da Revista Científica The Lancet Microbe, publicado em 6 de abril de 2023.
- O CHIKV é uma grande ameaça à Saúde Pública Global, e o Vírus é transmitido principalmente entre humanos por Mosquitos da espécies Aedes aegypti e Aedes Albopictus, os mesmos vetores da Dengue e da Zika.
- Durante os últimos 20 anos, a Chikungunya teve mais de 10 milhões de casos relatados em mais de 125 países e territórios”, afirma ao Jornal da USP o virologista William Marciel de Souza, da University of Texas Medical Branch (Estados Unidos), primeiro autor do artigo.
- A Chikungunya é uma Doença Febril tipicamente caracterizada por sinais e sintomas humanos agudos e crônicos, geralmente com Artralgia Grave [dor nas articulações], muitas vezes crônica e incapacitante, mas também incluindo algumas Complicações Neurológicas e Morte. Atualmente não há vacinas licenciadas ou Medicamentos Antivirais disponíveis para prevenir ou tratar a Infecção”.
De acordo com Souza, estima-se que 1,3 bilhão de pessoas vivem em áreas de risco para transmissão do Vírus Chikungunya, e o Brasil é o País com maior ocorrência de casos da Doença nas Américas.
- Neste Estudo Epidemiológico, usamos dados deSsequenciamento Genômico, informações do Vetor do Vírus, o Aedes Aegypti, e dados clínicos agregados de casos de Chikungunya no Brasil, o que representa mais de 250 mil casos confirmados por Exames Laboratoriais”, relata.
- Em seguida, avaliamos a dinâmica espaço-temporal da Chikungunya no Brasil por meio de séries temporais, mapeamento, distribuição de idade e sexo, letalidade e Análises Genéticas, entre outros fatores”.
A Pesquisa mostra que entre três de março de 2013 e quatro de junho de 2022, foram notificados 253.545 casos de Chikungunya confirmados em Laboratório em 3.316 (59,5%) dos 5.570 Municípios, distribuídos principalmente em sete Ondas Epidêmicas de 2016 a 2022.
- O Ceará foi o mais afetado, com 77.418 casos durante as três maiores Ondas Epidêmicas, ocorridas em 2016, 2017 e 2022”, aponta o pesquisador.
- Assim, sequenciamos os Genomas do Vírus e identificamos que a recorrência de Chikungunya em 2022 no Ceará, após um hiato de quatro anos, foi associada a uma nova introdução de uma linhagem Leste-Centro-Sul-africana, provavelmente originária de outros estados brasileiros. O Estudo também estima que essa nova linhagem de CHIKV foi introduzida no Estado entre meados e final de 2021”.
- Com base na Análise Epidemiológica, identificamos que as recorrências de Chikungunya no Ceará, Tocantins e Pernambuco foram limitadas a municípios com poucos ou nenhum caso relatado nas Ondas Epidêmicas anteriores, indicando que a heterogeneidade espacial da disseminação do CHIKV e a imunidade da população pode explicar o padrão de recorrência no País”, destaca Souza.
- Nosso Estudo sugere, que as populações dos municípios mais afetados pelas Ondas Epidêmicas de Chikungunya apresentaram algum nível de Proteção Imunológica contra a Doença e Transmissão, que impediu temporariamente a recorrência de Surtos Explosivos. Em contraste, as populações de Municípios menos expostos a ondas anteriores permaneceram mais suscetíveis. Isso resulta na heterogeneidade geográfica da dinâmica de Chikungunya no Brasil”.
Segundo o pesquisador, as métricas de densidade populacional do principal mosquito vetor do CHIKV no Brasil, o Aedes aegypti, não foram correlacionadas com locais de recorrência de Chikungunya no Ceará e Tocantins.
- O Trabalho demonstra que as mulheres são afetadas desproporcionalmente [1,5 vezes mais]”, enfatiza.
- Estimamos a Taxa de Mortalidade em 1,3 mortes por mil casos confirmados, o que é maior do que outros Arbovírus Endêmicos em Países Tropicais, como Dengue e infecções pelo Vírus Zika.”
- Nosso Estudo mostra que as Epidemias de Chikungunya provavelmente continuarão a ocorrer se nenhuma intervenção for implementada, causando grandes Ondas Epidêmicas com milhares de casos e mortes devido à heterogeneidade geográfica associada à disseminação ou recorrência do Vírus”, alerta Souza.
- Por fim, destacamos que esses resultados serão úteis para informar o setor de saúde pública para antecipar e prevenir futuras Ondas Epidêmicas no País".
- Nós contribuímos com o desenvolvimento do protocolo de sequenciamento genético e com a analise dos dados”, afirma a professora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que está entre os autores do Artigo.
- A Epidemia de Chikungunya no Brasil está evoluindo de forma muito diferente do que aconteceu na América Latina, e a pesquisa busca descrever em detalhes como isso está acontecendo”.
Souza acrescenta que:
- Por exemplo, surtos em países na América Central foram explosivos, infectaram a maioria da população em um curto espaço de tempo, mas no Brasil persistem por mais de dez anos”.
- Participamos do Estudo com as análises dos dados brutos gerados a partir do Sequenciamento Genômico em amostras provenientes do Surto de CHIKV no Ceará, em 2022”, afirma Ingra Morales Claro, do Imperial College London, que também assina o Artigo.
- O Estudo sugere que o CHIKV continuará a causar grandes Ondas Epidêmicas devido à heterogeneidade geográfica associada à sua disseminação e à imunidade da população levando ao padrão de recorrência no País”.
Chikungunya no Mundo - De acordo com relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), os mosquitos que transmitem o Chikungunya são encontrados em quase todos os Continentes, e picam principalmente durante o dia. Até o momento, 115 Países relataram a Transmissão do CHIKV.
- A principal carga da Chikungunya se deve às incapacidades crônicas e ao grave impacto na qualidade de vida. As manifestações clínicas variam de acordo com a idade e os recém-nascidos e idosos têm maior risco de Doença mais grave. Condições pré-existentes também foram identificadas como um fator de risco para desfechos piores da Doença. Surtos atuais de Chikungunya ocorrem no Paraguai, Argentina e Bolívia”, diz a OMS.
Apesar de atípicos, foram relatados casos de Meningoencefalite Aguda e Mortalidade em Recém-Nascidos associada à Chikungunya.
- Quase 70% das mortes são na População com mais de 60 anos, principalmente com condições como Diabetes, Hipertensão e Imunocomprometidos. Vinte por cento das mortes são em Recém-Nascidos Infectados Intraparto”, destaca o Documento da OMS, que aponta preocupação com o aumento de casos de Chikungunya nas Américas e o risco de introdução e disseminação em áreas onde o Vírus não circulava antes, mas que têm a presença do Mosquito Aedes Aegypti.