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Jornal da Cidade (Bauru, SP) online

Cerrado vira fragmento de mata em Botucatu

Publicado em 30 outubro 2006

Estudo feito por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Unesp de Botucatu (100 quilômetros de Bauru), em parceria com outras universidades, revela que a vegetação nativa da região do município está reduzida a fragmentos de cerrado e floresta.
Preocupados com a situação atual da vegetação de cerrado da região de Botucatu, a equipe de pesquisadores, encabeçada por Maria das Graças Sajo e coordenada pela professora Silvia Rodrigues Machado, ambas do Instituto de Biociências (IB) da Unesp de Botucatu, elaborou o projeto de pesquisa visando estudar a diversidade morfológica e as adaptações das plantas do cerrado para aprofundar os conhecimento botânicos sobre este bioma.
Segundo os estudos concluídos este ano, a vegetação original da região de Botucatu, que era constituída de cerrado e pequenas áreas de floresta, atualmente encontra-se reduzida a pequenos fragmentos.
A diminuição da vegetação de cerrado ocorreu, de acordo com os estudos, devido ao excessivo desmatamento da área para o plantio. No Estado de São Paulo, nas áreas onde antes era coberta por vegetação de cerrado, hoje existe o plantio de soja, milho, arroz, árvores (como pinus e eucalipto) e monocultura extensiva (como da citricultura e cana-de-açúcar).
A pesquisa revela que atualmente restam fragmentos isolados (cerca de 8.300) que, juntos, somam apenas 1% da vegetação original do cerrado paulista. "Se esta situação persistir, prevê-se a extinção do cerrado nas próximas décadas, juntamente com uma enorme diversidade de plantas, animais e outros organismos ainda pouco conhecidos. Então, se não tomarmos atitudes efetivas, o cerrado pode acabar", alerta a coordenadora da pesquisa.

Cerrado hoje
Remanescentes da mata nativa, com diferentes graus de perturbação, são encontrados no entorno do município de Botucatu, principalmente nos arredores do Conjunto Habitacional Humberto Popolo (Cohab 1), Bairros Demétria, 24 de Maio, Jardim Aeroporto, Distrito de Rubião Júnior e margens de estradas que ligam Botucatu à rodovia Castelo Branco (SP-280), aos Distritos de Vitoriana e Rio Bonito.
Levantamentos da flora realizados pelos pesquisadores da Unesp mostraram que a diversidade de espécies é grande nesses fragmentos, com um elevado potencial em plantas ornamentais, medicinais, comestíveis, aromáticas, taníferas, entre outros.
Os estudos mostram ainda que apesar da grande diversidade e do elevado potencial econômico das espécies vegetais nativas, sua utilização é bastante restrita e, freqüentemente, extrativista e predatória.
"O potencial econômico dessas espécies pode se constituir numa alternativa futura de renda para pequenos e médios agricultores. Além do mais, a utilização racional dessas espécies pode ser um mecanismo eficiente de valorização e conservação da biodiversidade do bioma cerrado", lembram os pesquisadores.
A pesquisa foi realizada no período de dezembro de 2001 a setembro de 2006 e envolveu 82 pessoas entre pesquisadores, colaboradores e estudantes de diferentes níveis. O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e envolveu pesquisadores e estudantes da Unesp de Botucatu e Rio Claro, da Unicamp e da ESALQ-USP.

Preservação
Uma das alternativas para a conservação do cerrado, sugerida na pesquisa, é a atuação das Organizações Não-Governamentais (ONGs). Os pesquisadores concluíram que "a conservação e o uso sustentável da biodiversidade do cerrado têm se dado com sucesso em algumas regiões do País por meio de diferentes iniciativas, principalmente de ONGs que assessoram e apóiam associações comunitárias e pequenos produtores rurais. A interação promove práticas que favoreçem a preservação ambiental, promove ações que combinem as necessidades das populações locais com o uso e recuperação dos recursos naturais do cerrado", sugere o estudo.
A disponibilização de recursos através de órgãos federais como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério de Ciência e Tecnologia, segundo a coordenadora Silvia Rodrigues Machado, propiciam a criação de programas específicos para pesquisas sobre o uso sustentável dos recursos do cerrado.
"Algumas ações do governo federal têm incentivado a difusão do conhecimento sobre o cerrado, por exemplo a instituição do Dia Nacional do Cerrado (11 de setembro) e a criação de um portal na Internet (cerra-dobrasil.cpac.embrapa.br), onde estão disponíveis informações sobre eventos, política e legislação, cultura popular, produtos e uso sustentável", acrescenta.