Notícia

Jornal da Ciência online

'Cérebros' brasileiros que trabalham nos EUA querem voltar ao país (1 notícias)

Publicado em 11 de maio de 2001

Juan Árias escreve do RJ para "El País", de Madri: O Brasil é um caso raro entre os países exportadores de 'cérebros' para os EUA: a grande maioria de seus cientistas e pesquisadores deseja voltar. A maioria dos países, e não só do Terceiro Mundo, sofre a perda de muitos cientistas que não querem deixar os EUA, mas no Brasil acontece o contrario: está aumentando a volta dos que se formam no chamado país das oportunidades. As cifras falam claro: se por exemplo 70,4% dos cientistas colombianos que trabalham nos EUA não querem voltar a seu país, assim como 61,2% dos argentinos e 51,3% dos chilenos, somente 25,2% dos cientistas brasileiros preferem ficar nesse país. Os demais (cerca de 75%) querem voltar ao Brasil. E os números também são altos fora da América Latina: no caso da Índia ficam nos EUA ou na Europa 82,5% dos cientistas emigrados; no da China são 81,9%, e mesmo entre os pesquisadores canadenses 64,9% preferem continuar trabalhando nos EUA. Os especialistas em pesquisas de opinião se indagam sobre esse curioso fenômeno. Na Ultima década, mais de 80% dos cientistas brasileiros que se doutoraram nos EUA voltaram a seu país. É o numero mais alto conhecido, segundo um estudo da Fundação Nacional de Ciências. Embora haja a interpretação de que os brasileiros simplesmente gostam de viver em sua terra, sem duvida ha1 outros motivos. Como afirmou José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP (Fapesp), à melhor forma de garantir que nossos cérebros nao emigrem ou que possam voltar e oferecer-lhes projetos à altura de seu talento. E é o que ocorre no Brasil, onde se criaram bons programas de pesquisa. Um caso interessante é o de Soraya Leal, doutoranda na Universidade de Nottingham (GraBretanha) de 92 a 96. De volta ao Brasil, hoje é responsável pelo laboratório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 'Trabalho em um centro privilegiado, onde contamos com massa critica e bons equipamentos técnicos', afirma. A cientista não apenas voltou ao Brasil, como levou consigo o destacado biólogo inglês David John Bertiole, hoje catedrático na Universidade Católica de Brasília. O Ministério de C&T criou recentemente um programa de verbas setoriais com um orçamento de US$ 376 milhões (RS 800 milhões) destinados a vários centros de pesquisa científica. O Brasil é quase um continente, o sexto país mais populoso do planeta, com 164 milhões de habitantes, em sua grande maioria jovens e adolescentes, e suas complexidades e contradições são proverbiais. Se por um lado as injustiças sociais ganham todas as sondagens mais negativas, por outro está à altura do mundo desenvolvido em muitos aspectos, por exemplo na medicina privada. No campo da prevenção do câncer, o Brasil conta com um dos maiores especialistas do mundo. Jacob Kligennan, membro da Academia de Medicina, cuja presença é disputada por todos os congressos mundiais de oncologia. Graças a sua campanha na imprensa nacional, ele conseguiu que o Congresso aprovasse uma das leis mais estritas do mundo sobre a publicidade de cigarros. O mesmo se pode dizer do desenvolvimento científico: o Brasil é, por exemplo, um dos países mais avançados na pesquisa do genoma humano. (Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves) (El País, Madri, 11/5) JC e-mail