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Cerco ao comércio de trabalhos acadêmicos (8 notícias)

Publicado em 08 de dezembro de 2021

Por Fabrício Marques | revista Pesquisa FAPESP

“Fábricas de ensaios” podem se tornar ilegais no Reino Unido, em estratégia para combater fraudes disseminadas no ensino remoto

O governo do Reino Unido propôs uma reforma na legislação educacional que, se for aprovada, tornará ilícita a venda de trabalhos acadêmicos. A Câmara dos Comuns começou a discutir em outubro uma nova regulação para as instituições de ensino superior, com o objetivo de garantir formação de alta qualidade a profissionais em áreas consideradas estratégicas, como engenharia, energias limpas e manufatura. Um dos dispositivos do projeto propõe transformar em crime as atividades das chamadas “fábricas de ensaios”. São sites da internet que, em troca de dinheiro, produzem trabalhos encomendados por estudantes, comprometendo, assim, a integridade do processo de avaliação de desempenho acadêmico. “Essas empresas são completamente antiéticas. Depreciam o esforço realizado pela maioria dos alunos e ainda lucram com isso”, afirmou à BBC Alex Burghart, subsecretário de Estado para Aprendizagem e Competências, subordinado ao Departamento de Educação do Reino Unido.

A detecção desse tipo de fraude é difícil. Muitos serviços oferecem garantias de que os trabalhos são bem escritos e imunes aos softwares antiplágio, mas, quando o embuste é identificado pelos professores, os estudantes são punidos. Já as fábricas de ensaios não sofriam nenhuma consequência no Reino Unido, dada a ausência de legislação sobre seu funcionamento.

Durante a pandemia, as universidades investiram na supervisão remota das provas online. Muitas contrataram serviços de empresas especializadas em monitorar estudantes durante a realização de exames, bloqueando seus navegadores da internet e vigiando-os pelas câmeras de seus notebooks. Mas há evidências de que a cola ganhou espaço com a migração do ensino presencial para o online e que as opções para trapacear ficaram mais numerosas. A Agência de Garantia de Qualidade para a Educação Superior, um órgão fiscalizador das universidades do Reino Unido, contabilizou 932 fábricas de ensaios em operação atualmente, ante 638 em 2018. Um levantamento recente feito pelo jornal Financial Times mostrou que um trabalho de história de mil palavras encomendado por um aluno de graduação sai por £ 124, o equivalente a pouco menos de mil reais, e demora uma semana para ficar pronto. Já uma dissertação de mestrado com 15 mil palavras é cotada a £ 4 mil, o equivalente a R$ 30 mil – é preciso, nesse caso, fazer a encomenda com dois meses de antecedência. Segundo o diário, já houve casos de sites que chantagearam estudantes, ameaçando denunciá-los aos professores, por causa de atrasos no pagamento.

Veja o texto na íntegra: Revista Pesquisa Fapesp