Em entrevista ao CBN São Paulo, o chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, doutor Alexandre Naime, explicou que proliferação do mosquito e a chegada de novos sorotipos tornam o cenário da doença cada vez mais preocupante.
Uma pesquisa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo com 97 hospitais privados do estado revelou que 89% deles registraram aumento nas internações por dengue no mês de março. A maioria dos hospitais apontou um crescimento de até 10% nos leitos clínicos e de até 5% nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Em entrevista ao CBN São Paulo , o chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, doutor Alexandre Naime, analisou esse cenário. Segundo o especialista, o aumento não é surpresa, considerando as condições climáticas favoráveis à proliferação do mosquito e a circulação de novos sorotipos do vírus da dengue.
"Nenhuma surpresa, infelizmente. Nós já vínhamos discutindo há muito tempo, desde o começo do ano, sobre as condições bastante satisfatórias em relação à proliferação do Aedes aegypti. Uma tempestade perfeita para o mosquito, porque nós estamos vivendo uma onda de aquecimento global já há alguns anos. Um verão agora com outono bastante chuvoso e os flocos de Aedes não param de crescer e também tem a questão de circulação de novos sorotipos."
O aumento no tempo médio de internação também chama atenção, variando entre 5 e 10 dias, tanto nos leitos clínicos quanto nas UTIs. O médico explicou que o agravamento dos casos está relacionado ao aumento do número de internações entre grupos de risco, como idosos e pessoas com comorbidades. Esses pacientes tendem a desenvolver quadros mais severos da doença, o que resulta em internações mais longas.
A vacinação contra a dengue também tem sido uma questão importante. Embora ela já esteja disponível para algumas faixas etárias, a oferta de doses ainda é restrita. De acordo com Naime, a vacinação em larga escala é essencial para reduzir o impacto da doença. No entanto, os resultados mais expressivos só serão sentidos quando uma grande parte da população estiver imunizada.
"Nós só teríamos impacto, em termos de saúde pública e em termos de redução importante do número de casos, do número de hospitalização e, principalmente, o mais importante, do número de óbitos, a partir do momento em que 50%, 60%, 70% da população estivesse vacinada. A gente está muito, mas muito, aquém disso. Se a gente for considerar as doses da vacina Takeda , da Qdenga que foram disponibilizadas em 24 e 25, nós não chegamos, talvez, a 3% a 4% da população brasileira."
O doutor Alexandre Naime também especulou que, caso a vacina do Butantan seja aprovada e disponibilizada em larga escala no próximo ano, o cenário pode começar a mudar. Contudo, a produção e distribuição ainda enfrentam desafios logísticos e de aprovação.
Ouça a entrevista completa.