Inúmeras possibilidades de aplicação das ciências matemáticas a processos industriais e seus produtos estão à disposição do setor no Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP. Há ao menos 26 parcerias em andamento e os pesquisadores planejam uma série de medidas para ampliar a interação com o mercado em 2015.
Entre as empresas e instituições parceiras do CeMEAI, sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, estão a Embraer, a Eletrobras, a Oxiteno e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
De acordo com Francisco Louzada Neto, diretor executivo de Relações Externas e coordenador de Transferência de Tecnologia do CEPID, há mais de 30 projetos sendo desenvolvidos pelos pesquisadores do CeMEAI com a indústria.
Nossa meta em 2015 é criar novas parcerias e formalizar algumas que já existem entre a universidade e organizações diversas, disse à Agência FAPESP.
Os projetos são agrupados em quatro grandes áreas: otimização aplicada e pesquisa operacional; inteligência computacional e engenharia de software; mecânica dos fluidos computacional; e avaliação de risco.
Entre os projetos está o de desenvolvimento de um sistema computacional aplicado a processos de refino e escoamentos na Petrobras. O objetivo é a simulação numérica do escoamento de fluidos para auxiliar a resolução de problemas de grande porte. Parte do sistema já está desenvolvida e sendo submetida a testes pela Petrobras.
Empresas de menor porte também mantêm parcerias com o CeMEAI. Com a Fultec Inox, de São Carlos, o CEPID busca definir melhores formas de produzir peças com ligas metálicas diversas. Para isso, os pesquisadores desenvolveram um software que otimiza o aproveitamento das cargas dos fornos.
O software diminuiu o tempo de decisão de duas horas para aproximadamente 10 minutos. Dos planos propostos pelo programa de computador na fase de avaliação, apenas 5% precisaram ser alterados pelo planejador da produção, disse Franklina Toledo, pesquisadora do CeMEAI e coordenadora da parceria com a Fultec Inox.
Todos os projetos passam por um processo de teorização matemática para aplicação de metodologias já utilizadas pelo CEPID ou desenvolvidas especificamente para o problema em questão. A partir daí se dá a transferência de tecnologia para a empresa ou instituição parceira, explicou Louzada.
Clínica matemática
Para Louzada, o CeMEAI atua como um facilitador das relações entre os pesquisadores do centro e as instituições interessadas em parcerias. Esses relacionamentos, de alguma forma e em graus diferentes de intensidade, já existiam, porque é da natureza do pesquisador buscar novos desafios e o mercado está cheio deles, não só no desenvolvimento de produtos, mas também no melhoramento dos seus serviços e processos.
De acordo com o pesquisador, o CeMEAI funciona como uma clínica matemática. Esse nosso ambiente de interação com empresas e instituições se dá à semelhança de uma clínica médica, em que um especialista se debruça sobre determinada queixa e busca tratamentos específicos para ela. Da mesma forma, os pesquisadores do CeMEAI fazem um diagnóstico dos produtos ou serviços da empresa e desenvolvem abordagens que melhorarão seu desempenho, disse.
Em 2015, o centro pretende ampliar sua interação com o mercado, que abrange soluções em diversos campos da matemática entre eles, estatística, computação, matemática aplicada e otimização.
Para isso, serão realizados ao longo do ano workshops científicos envolvendo os pesquisadores do CeMEAI e representantes de empresas e instituições interessadas em parcerias. Segundo Louzada, o primeiro deverá ocorrer em fevereiro, no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto.
Também está sendo planejado um workshop de transferência tecnológica entre os CEPIDs sediados na região de São Carlos.
A experiência bem-sucedida do CeMEAI pode servir de exemplo a outros centros com igual potencial de interação com os diversos setores relacionados às suas pesquisas. Também podemos aprender com iniciativas de outros pesquisadores. O importante é criar e fortalecer canais de diálogo com o mercado, a gestão pública e a sociedade em geral, afirmou Louzada.
A área de Educação e Difusão do Conhecimento do CeMEAI também receberá atenção especial no período. Entre as iniciativas está a criação de um laboratório de matemática industrial, em que os estudantes poderão acompanhar experimentos e entender com mais facilidade alguns conceitos fundamentais da matemática aplicada.
Os pesquisadores pretendem ainda levar materiais didáticos manipuláveis para escolas, faculdades e outros ambientes de ensino e aprendizagem. A ideia é tornar a matemática mais convidativa para os jovens, evidenciando tudo o que há de interessante na área e suas inúmeras possibilidades, explicou Louzada.
Diego Freire
Agência FAPESP