No ano passado, a agropecuária brasileira movimentou 163,5 bilhões de reais, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse valor foi alcançado através do trabalho de pessoas que, em algum momento, tiveram que decidir, por exemplo, o tamanho da área em que plantariam para a próxima safra ou os investimentos que fariam para comprar maquinário. Dar suporte a decisões como essas é um dos principais objetivos das pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP.
Para Geraldo Sant’Ana, coordenador científico do Cepea, o país está bem servido de estatísticas sobre o agronegócio, elaboradas por instituições como o IBGE, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Mas o centro se diferencia por divulgar dados com uma periodicidade menor, fornecendo “informações com o mínimo de atraso, de forma que produtores, indústrias, distribuidores e governo possam contar com informações bem atualizadas (a maioria do mesmo dia) e possam decidir mais prontamente quais as ações que devem realizar.”
O Cepea desenvolve pesquisas contínuas sobre 25 cadeias produtivas do agronegócio. Seus indicadores de preços, muitos dos quais são atualizados diariamente, orientam produtores na comercialização de seus produtos e também têm sido utilizados para a formulação de programas governamentais de sustentação de preços e de financiamento. Além disso, desde 1994, o Indicador do Boi, elaborado pelo centro, liquida os contratos realizados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
Ana Paula Silva, coordenadora do Laboratório de Informação do centro, explica que os indicadores são calculados com base em informações coletadas diretamente com os agentes econômicos. “Para o levantamento de informações, o Cepea aplica o conceito de comunidade de informação. Produtores agropecuários, agroindústrias, supermercados, cooperativas, corretores e tradings participam dessa comunidade, prestando informações individualizadas (mantidas sob sigilo) e recebendo informações coletivas processadas e agregadas.” Atualmente, o centro conta com cerca de 4500 colaboradores.
Os pequenos agricultores também se beneficiam dos dados divulgados pelo Cepea. “A divulgação sistemática de preços e análises regionais dos mercados de tomate, cebola, batata, etc, reduziu significativamente a assimetria de informações que, em geral, prejudicava os produtores, sobretudo os menores”, afirma Ana Paula.
Para divulgar essas informações, o centro possui parcerias com a Agência Estado e a Bloomberg, além de disponibilizar as pesquisas em seu site e editar duas publicações que são distribuídas gratuitamente entre os colaboradores: a revista Hortifruti Brasil e o Boletim do Leite.
Mas não é apenas de cotações que vive o Cepea. Também são elaboradas estatísticas macroeconômicas como o Índice de Exportação do Agronegócio e o PIB do Agronegócio, este em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Há ainda pesquisas sobre economia ambiental, economia social e administração rural, entre outros assuntos.
História
O Cepea surgiu em 1982, dentro do Departamento de Economia, Administração e Sociologia Rural da Esalq, ao qual está vinculado até hoje. Os primeiros projetos do centro foram solicitados por instituições públicas como a Secretaria de Indústria e Comércio de São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Banco Mundial.
Geraldo Sant’Ana acompanhou o crescimento do centro, do qual faz parte desde sua criação. “Inicialmente cuidávamos basicamente de preparar e distribuir uma brochura com dados sobre pecuária bovina. Com o tempo, mais e mais cadeias produtivas foram sendo incorporadas pelo Cepea, que acabou desenvolvendo metodologia própria para levantamento de dados num país das dimensões do Brasil e com crônica escassez de recursos.”
Para o futuro, Sant’Ana planeja uma maior presença internacional, já que o agronegócio brasileiro ocupa uma posição de destaque na economia mundial. “O Cepea já atrai frequentes visitas de técnicos e pesquisadores de instituições internacionais e recebe rotineiramente estudantes de outros países para aqui desenvolver suas pesquisas.” Ele também espera que o centro estenda seus estudos para as regiões mais remotas do país e a seus principais parceiros comerciais.