Localizadas em diferentes regiões do Brasil, unidades serão voltadas ao desenvolvimento de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação orientadas à resolução de problemas em áreas como a da saúde, agricultura, indústria e cidades inteligentes
Dez Centros de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial constituídos pela FAPESP em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) têm a missão de impulsionar as aplicações da nova tecnologia no país, em diversos setores.
Localizados em diferentes regiões do Brasil, desenvolvem pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação orientadas à resolução de problemas que possam ser resolvidos por meio de inteligência artificial em áreas como saúde, agricultura, indústria e cidades inteligentes.
A parceria da FAPESP com o MCTI e o CGI.br tem origem num acordo, assinado em 2013, que possibilitou a utilização de recursos remanescentes do período em que a Fundação gerenciou atividades de registro de domínio e alocação de endereços IP para projetos de pesquisa que contribuíssem para o desenvolvimento de tecnologias digitais no Brasil.
Os dez centros já implantados reúnem 95 pesquisadores principais e 739 associados, vinculados a universidades e instituições de pesquisa, além de parceiros privados e órgãos de governo.
Ações coordenadas
A fim de coordenar ações, representantes dos dez novos centros participaram de reuniões de trabalho na FAPESP nos dias 1 e 2 de outubro.
“Essa é a maior iniciativa relacionada à inteligência artificial em execução no país. Por meio de dois grandes editais, foram selecionados esses dez centros avançados em tecnologias digitais e inteligência artificial cujo valor total investido é da ordem de R$ 100 milhões, com contrapartida equivalente de empresas”, disse Marco Antonio Zago , presidente da FAPESP, na abertura do encontro.
A FAPESP, o MCTI e o CGI.br disponibilizarão anualmente R$ 1 milhão para cada um dos novos centros por um período de até dez anos. Valor idêntico será aportado pelas empresas parceiras, totalizando R$ 20 milhões por unidade de pesquisa.
“Esses Centros de Pesquisa em Inteligência Artificial são, de certa forma, o embrião de políticas que estão sendo desenvolvidas em nível nacional, como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial [PBIA]”, avaliou Renata Vicentini Mielli, coordenadora do CGI.br.
Apresentado durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que aconteceu entre o final de julho e início de agosto em Brasília, o PBIA prevê investimentos da ordem de R$ 23 bilhões nos próximos quatro anos.
A proposta está dividida em cinco eixos estruturantes: infraestrutura e desenvolvimento; difusão, formação e capacitação; IA para melhoria dos serviços públicos; para inovação empresarial; e apoio ao processo regulatório e de governança.
“Foi feito um esforço grande no plano para identificar as fontes de recursos para financiar as ações, mas que estão muito concentradas na parte que é factível, que são os recursos públicos, como o FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Mas em qualquer lugar do mundo o grosso do investimento em inteligência artificial é privado”, ponderou Carlos Américo Pacheco , diretor do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP.
“No caso dos Centros de Pesquisa em Inteligência Artificial, todos eles têm parceiros privados, que contribuem com a contrapartida dos recursos públicos. Mas é preciso um esforço adicional para promover maior participação e investimento de empresas no Brasil nessa área”, avaliou.
Integração com indústrias
Um dos centros que podem contribuir nesse sentido é o Hub de Tecnologias Digitais (H4I), constituído em parceria com o Senai Cimatec, em Salvador, na Bahia, apontou o dirigente da FAPESP.
Integrado por universidades, empresas como a HP e a Intel e federações de indústrias, o objetivo do centro é desenvolver uma plataforma digital, aberta e multiusuário de ciência de dados e IA para o desenvolvimento, alavancagem e modernização da indústria brasileira, aproveitando a capilaridade do Senai em nível nacional.
A ideia é que a plataforma disponibilize para micro, pequenas e médias empresas ferramentas capazes de acelerar seus processos de inovação e de manufatura inteligente.
“Apesar de as atividades do centro iniciarem agora, já temos duas ferramentas que serão adicionadas à plataforma”, afirmou Davidson Martins Moreira , coordenador do H4I.
A primeira ferramenta, batizada WebGRIPP, é voltada para a otimização e resolução de problemas inversos – um conjunto de problemas matemáticos cujo objetivo é determinar a causa de um fenômeno particular. E a segunda, nomeada WebDomus, é aplicada na regulamentação de eficiência energética em edificações, conforto térmico e simulações de poluição em ambientes fechados. “Essas ferramentas já podem ser adicionadas à plataforma”, disse Moreira.
Outra iniciativa direcionada para os desafios da indústria é o Centro de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial para a Evolução das Indústrias para o Padrão 4.0.
Um dos objetivos do centro, sediado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no campus da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, e com participação da Bosch, Braskem, Siemens, Klabin e Stellantis, será construir coletivamente uma plataforma de conhecimento em IA de modo a promover o aumento da produtividade e competitividade de empresas brasileiras.
As linhas de pesquisa do centro serão integradas aos problemas que impactam a competitividade da indústria brasileira, como monitoramento e controle em tempo real, sistemas autônomos de robótica e máquinas-ferramentas e interoperabilidade e controle de cadeias de produção, entre outros.
“A ideia é desenvolver a plataforma com um conjunto de pessoas para trabalhar com questões relacionadas à inteligência artificial desde o chão de fábrica até alto nível”, explicou Jefferson de Oliveira Gomes , coordenador do projeto.
Qualificação de recursos humanos
Um dos principais desafios para promover aplicações da inteligência artificial em larga escala no Brasil, a exemplo de outros países, é a qualificação e requalificação de recursos humanos, apontaram os participantes do encontro.
Esse problema tem sido observado até mesmo no meio acadêmico, afirmou Fabio Cozman , coordenador do Centro de Inteligência Artificial (C4AI), o primeiro centro de pesquisa aplicada na área lançado pela Fundação e a IBM, em 2020, no âmbito do programa FAPESP Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE).
“Talvez a maior dificuldade que tivemos ao longo desses anos foi a falta de gente no mercado acadêmico”, disse Cozman.
A fim de promover o interesse pelo tema, os pesquisadores do C4AI ligados à área de difusão do conhecimento têm promovido seminários, cursos e aulas on-line. Um dos cursos a distância teve a participação de mais de 100 mil inscritos.
Outros centros, como o de Inovação em Inteligência Artificial para a Saúde, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, pretendem desenvolver plataformas para letramento digital em inteligência artificial para a saúde voltada para profissionais de saúde, estudantes, docente e idosos, por exemplo.
“Precisamos de instrumentos de formação de recursos humanos em inteligência artificial que sejam muito mais diferenciados do que os que estamos acostumados a usar”, avaliou Pacheco.
Elton Alisson | Agência FAPESP