Notícia

Gazeta Mercantil

Centro de pesquisa abriga empresar

Publicado em 01 outubro 1997

Os donos da empresa In Vitro, de Brasília, decidiram em 1992 produzir micromudas. Mas faltavam pelo menos R$ 100 mil para investimentos em tecnologia. Esse dinheiro seria gasto apenas em pesquisa de laboratório para desenvolver plantas (banana, abacaxi) imunes a doenças. Mas de onde tirar esses recursos? Para 780 empresas como a In Vitro, o caminho menos acidentado tem sido-uma das 60 incubadoras que funcionam hoje no País. Trata-se de um "berçário" para novos empreendimentos. "Esse sistema minimiza bastante os custos. Seria muito difícil criar uma escala de produção em menos de dois anos", explica o biólogo Marcus Venícius Pires, de 28 anos, que passou três anos com sua empresa na incubadora da Universidade de Brasília (UnB). As incubadoras no Brasil encontraram um ambiente saudável dentro dos "campi" universitários, que concentram os centros de pesquisas. As empresas privadas também começam a destinar mais recursos para o desenvolvimento de tecnologias. Hoje elas são responsáveis por 25% dos investimentos nesse setor, estima o Ministério de Ciência e Tecnologia. Esse quadro já foi mais desequilibrado. Em 1990, o setor privado bancava apenas 10% da pesquisa desenvolvida no País. Algumas prefeituras começam a usar o sistema de incubação para geração de emprego e renda fora das universidades. As "incubadas" empregam 2.400 pessoas no Brasil. Mas como se monta uma incubadora? Basicamente, é necessário um conjunto de salas com telefone. Mais importante é estar próximo de laboratórios, onde vai ser gerado o produto. A Universidade de Brasília, por exemplo, cobra das empresas uma taxa de R$ 250 mensais, nos moldes de um condomínio. O custo total de manutenção para a UnB fica na casa dos R$ 15 mil por mês. As incubadoras utilizam editais para a escolha das empresas. "Se alguém oferecer um projeto com energia nuclear, não poderei aceitar porque não temos capacidade para isso. Apenas 10% das propostas acabam sendo viabilizadas", afirma Luís Bermudez, vice-presidente da Associação Nacional de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec) e diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB, onde ficam instaladas as empresas. A Anprotec agrupa as incubadoras brasileiras. Mas a aprovação apenas virá depois de um estudo de viabilidade de mercado. Caso seja aprovada, a empresa traçará um plano de negócios. Vão estar aí desde as previsões sobre faturamento e até de lançamento do protótipo. O tempo médio de incubação no Brasil varia de três a cinco anos. O dinheiro para as pesquisas provém de duas fontes. Para investimentos mais volumosos, existem os financiamentos através da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Mas são as bolsas, em especial as do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) que garantem mão-de-obra qualificada. Quatro bolsistas da UnB auxiliam o engenheiro eletrônico Rudi Henri Van Eis, de 33 anos, na construção de um sistema digital de telefonia para edifícios. "Meus custos seriam proibitivos sem essas pessoas", afirma Rudi, que está há um ano e meio com sua empresa Controlware Automação na incubadora. Enio Vieira Brasília Anprotec: (061) 347-0722 In Vitro: (061) 352-1891 Controlware: (061) 347-5309 Incubadora na UnB: (061)348-8648 EMPRESÁRIOS SÃO PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS As incubadoras vêm possibilitando o surgimento de um novo tipo de empresário. São pesquisadores e professores universitários que não sentem mais um frio na espinha quando ouvem a palavra mercado. "Começamos a romper com a idéia de que a universidade jamais pode se relacionar com o setor empresarial", afirma Luís Bermudez, da Anprotec. Ele acredita que pelo menos metade dos "empresários incubados" fizeram pós-graduação ou dão aulas na universidade. O professor de Educação Gilberto Lacerda, de 33 anos, encontrou na incubadora da UnB uma maneira de explorar sua especialização em informática. Desde abril deste ano, ele e uma professora de Comunicação vêm projetando softwares e CD-ROMs educativos em sua empresa, a Omni Multimídia. "Fizemos uma pesquisa de mercado e foi detectada uma demanda grande por esses tipos de produtos. O problema vai será distribuição. Quem está na universidade, não está familiarizado com negócios", diz Lacerda, que calcula um rendimento mensal em torno de R$ 15 mil, com dois projetos por ano. Muitos empresários-doutores se queixam da dor de cabeça que é o mundo dos negócios. "São pessoas muito técnicas. Elas não têm uma vivência empresarial de vender algo", analisa Sheila Oliveira, gerente da incubadora da UnB. Para contornar essa situação foi contratada este mês uma assessoria de marketing. As 18 empresas que estão na Universidade de Brasília atuam, principalmente, nas áreas de informática (a maioria em multimídia), biotecnologia e automação. Quem necessita estar atualizado, pode continuar associado. É o caso dos dois sócios da In Vitro que atualmente estudam um projeto com hortaliças. O biólogo Marcus Venícius, de 28 anos, e o agrônomo Cleyson Duval, de 32 anos, esperam atingir uma produção de 1 milhão de plantas por ano. Hoje as micromudas rendem um faturamento anual de R$ 600 mil. REAL FAVORECE INCUBADORAS Experiências bem-sucedidas estimulam disseminação do modelo por todo o País Aproximar a tecnologia de seus usuários tem sido a principal preocupação das 60 incubadoras tecnológicas - mecanismo de fomento que oferece estrutura logística e suporte técnico àqueles que estão começando - espalhadas pelo País. Em Fortaleza, dois empresários apostaram no sucesso de um projeto incubado e já conseguiram elevar seu faturamento de R$ 10 mil em 1 995 para R$ 6 milhões em 1997, conforme afirma Francisco Baltazar Neto, um dos sócios. Engenheiro elétrico e administrador de empresas, Neto, de 40 anos, juntamente com seu parceiro, se interessaram pelo projeto de um sistema de controle de infração de trânsito desenvolvido pela empresa Fotosensores Tecnologia Eletrônica, incubada no Parque de Desenvolvimento Tecnológico ligado à Universidade Federal do Ceará. A viabilidade econômica do produto, que além de registrar infrações por excesso de velocidade, registra avanço de semáforo, parada sobre faixa de pedestre, contramão e estacionamento proibido, foi logo percebida pelos empresários que investiram em 1995 cerca de R$ 10 milhões na compra da empresa recém desincubada. Baltazar Neto não informa quanto investiu no negócio, mas destaca que todo o lucro está sendo reinvestido na própria empresa, que já vendeu sua tecnologia a 14 cidades brasileiras. Capitais como Fortaleza e Salvador e cidades importantes como Campinas estão utilizando a tecnologia cearense no controle do trânsito. O produto é comercializado em sistema de comodato a agentes operadores e franquias, que vendem as informações aos órgãos contratantes. As infrações são registradas em filmes e digitalizadas, gerando relatórios. No outro extremo do País, cinco engenheiros gaúchos, com média de 26 anos, formaram, na Incubadora Empresarial Tecnológica de Porto Alegre (Ietec), a Mentor Tecnologia, onde desenvolveram redes de chão-de-fábrica, sistema de automação industrial que permite a comunicação de dados, controlando a produção de toda a fábrica através de dois fios. Ao contrário da experiência do Ceará, ganhadora do prêmio Empresa Incubada, entregue durante o 7° Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras, em Salvador, na semana passada, os cientistas porto alegrenses decidiram estender sua atividade para o setor comercial. Com a empresa recém desincubada, os engenheiros devem fechar 1997 com um faturamento de R$100 mil. No ano passado, o grupo, que vem reinvestindo todos seus lucros, recebeu o Prêmio Inovação do Sebrae e um crédito para realizar uma pesquisa de mercado, cujo resultado será um plano de negócios para a empresa. Henrique Vanzim, um dos sócios, festeja o "presente", destacando que esse tipo de ação é importante para uma empresa, mas muito cara para ser feita por quem está no início do empreendimento. No Brasil, as incubadoras estão concentradas na região Sudeste. Só o Estado de São Paulo sedia 20% do total. Nos Estados Unidos, berço desse sistema, iniciado na década de 50, há 500 incubadoras e o número cresce semanalmente com a abertura de uma nova a cada sete dias, informa Luis Afonso Bermudez, vice-presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec). Apesar da diferença em relação aos EUA, o dirigente é otimista. "O movimento no Brasil está bom. Temos que levar em consideração o desenvolvimento econômico do País, que é bem menor do que o dos Estados Unidos", argumenta. A estabilidade econômica obtida desde o início do Real, em 1994, tem permitido o desenvolvimento de novas incubadoras. Só em São Paulo, há um programa oficial para que 50 novas incubadoras sejam abertas nos próximos cinco anos. Única incubadora de Santa Catarina, o Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), administrado pela Fundação Centro de Referências em Tecnologias inovadoras (Certi), é também o primeiro a receber o prêmio "Incubadora do Ano", também lançado pela Anprotec este ano. Para receber a premiação, a incubadora foi avaliada pela própria Anprotec, pelo Sebrae, CNPQ e CNI. Além do reconhecimento ao trabalho iniciado em 86, o diretor executivo do Celta, José Eduardo Fiates, comemora o fato de ter recebido um espaço no Centro de Comercialização Tecnológica do Sebrae, em São Paulo, onde as 36 empresas incubadas poderão mostrar suas criações. "É um importante ponto de negócios", explica. As empresas que se candidatam a uma vaga em uma incubadora têm seus projetos avaliados de acordo com a viabilidade econômica e mercadológica. Para iniciar, o futuro empresário precisa ter seu próprio capital inicial, considerado por Bermudez, o principal gargalo para a expansão da atividade. Uma vez selecionado para a incubadora, o empreendedor pagará uma taxa mensal pela utilização do espaço físico. No Celta, esse valor é de R$ 9 por metro quadrado. A utilização de telefone, fax, fotocópia e outros serviços medidos é paga de acordo com o uso. "Funciona como um condomínio", explica o vice-presidente da Anprotec. Inês Figueiró Salvador Celta: (048) 234-3000 Mentor: (051) 311-4402 Fotosensores: (085) 261-1007