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UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Centro de Estudos Avançados da Unicamp aprende com a experiência pioneira da USP

Publicado em 15 outubro 2010

O Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp, criado em março de 2010, organizou na tarde desta sexta-feira (15) o simpósio "Desafios de um Instituto de Estudos Avançados na Universidade Brasileira". O objetivo foi aprender com a experiência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o primeiro formado em ambiente universitário no Brasil, em 1986. "A Unicamp está buscando um modelo próprio, mas também se inspirando em institutos e centros que já existem e deram certo. Nossa grande referência no país é o IEA da USP, além de outras ligadas a universidades no exterior", afirmou o professor Pedro Paulo Funari, coordenador do CEAv.

Na recepção ao público e aos convidados, o reitor Fernando Costa lembrou que a proposta de criação do CEAv da Unicamp surgiu quando era coordenador geral da Universidade. "Nos fóruns interdisciplinares sobre problemas diversos - tecnologia, humanidades, saúde, educação - veio a ideia de se criar um espaço diferente, em que assuntos estratégicos pudessem ser abordados por tempo mais prolongado e que houvesse um produto como uma publicação ou mesmo a formação de um novo curso de pós-graduação. O simpósio faz parte deste estudo inicial sobre qual deve ser o modelo".

O professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP e ex-diretor do IEA, enumerou três grandes benefícios que o instituto trouxe à sua universidade. "O primeiro foi criar um espaço favorável aonde especialistas de várias áreas pudessem se reunir e discutir temas de interesse comum. Outro foi a possibilidade de empreender projetos complexos, transdisciplinares e organizados em cima de equipes com talentos reconhecidos internacionalmente. O terceiro benefício foi permitir o convívio com professores vindos de outras universidades e países".

Na opinião de Marcovitch, cada universidade possui sua história e deve formar uma área de estudos avançados em função de seus objetivos e necessidades. "A USP criou o IEA num momento em que professores aposentados compulsoriamente, expulsos da universidade por causa de suas convicções ideológicas, precisavam de uma oportunidade para retomar as atividades na universidade, já que era muito difícil retornar a seus departamentos. E a partir daí surgiu toda uma reflexão sobre grandes temas de interesse nacional".

Antes de expor no seminário as conquistas e desafios do IEA da USP, o professor César Ades, seu atual diretor, observou que o instituto vai festejar 25 anos no próximo ano e se mantém bastante ativo, abrigando hoje mais de 200 pesquisadores. "Temos trabalhado basicamente em dois setores: o incentivo ao pensamento científico (a pesquisa) e à reflexão sobre problemas sociais e políticas públicas. Nesse sentido, nosso instituto estabelece uma interface com a sociedade, atendendo à queixa que se faz da universidade fechada em si, pensando apenas teorias. Sou pesquisador e aprendo muito quando levado a refletir sobre questões amplas como as étnicas ou ambientais".

Convidado a falar sobre as perspectivas dos estudos avançados na universidade, o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, ex-reitor da Unicamp e atual diretor científico da Fapesp, elogiou a criação do CEAv. "Ao lado da excelência que a Unicamp mantém na pesquisa disciplinarmente orientada, o centro cria a oportunidade de agregar diferentes áreas do conhecimento e valorizar a pesquisa de natureza interdisciplinar que trata de grandes problemas enfrentados pela sociedade. A Unicamp tem muito a contribuir, por exemplo, em questões como de biodiversidade e mudanças climáticas. A Fapesp vê com interesse o aumento da capacidade de pesquisa e a entrada de novas áreas de estudos, estando disposta a apoiar todo projeto de excelência que lhe seja enviado".

As humanidades e a China - Para o professor Edgar Salvadori De Decca, coordenador geral da Unicamp, os institutos e centros de estudos avançados já têm relevância na história brasileira. Ele lembrou o Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), que desenhou a política desenvolvimentista a partir da década de 1950 até ser extinto no golpe de 64, e o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), criado por intelectuais atingidos pelo recrudescimento do regime militar. "Em 1986, no período de redemocratização, veio a iniciativa inovadora de criar o IEA dentro da USP. Este simpósio permite que nos debrucemos sobre o passado e vejamos o que um instituto de estudados avançados tem a oferecer para a sociedade, hoje".

O CEAv da Unicamp surgiu com dois grupos de pesquisa constituídos, um deles voltado ao ensino superior e o outro, ao esporte. O coordenador, Pedro Paulo Funari, adianta que até o final do ano e início de 2011, o centro terá dois temas adicionais: o desafio das humanidades e as relações com a China e o oriente. "A China é um tema estratégico a ser desenvolvido pelo grupo de pesquisa e pouco explorado nas universidades brasileiras, principalmente em seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais. Já a necessidade de uma formação humanista para as pessoas de todas as áreas da universidade, é a grande questão do momento".