Projeto tem como objetivo preservar idiomas ameaçados de extinção e difundir a diversidade cultural dos povos originários
Na última terça-feira (20), foi inaugurado em São Paulo o primeiro Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Brasil. Criado pelo Museu da Língua Portuguesa em conjunto com o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), o projeto tem como objetivo pesquisar e documentar os idiomas falados por povos originários, contribuindo para sua preservação e para a valorização da diversidade cultural indígena.
Com investimento de R$ 14,5 milhões da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o projeto também busca fomentar estudos inéditos e promover o intercâmbio entre pesquisadores e comunidades indígenas. Uma das principais ferramentas será um acervo digital de acesso gratuito, que reunirá textos, áudios e vídeos com registros de manifestações linguísticas e artísticas dessas populações.
Embora o português seja a única língua oficial do Brasil, o país abriga mais de 274 idiomas falados por cerca de 305 povos diferentes, segundo dados do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010. Estima-se que 20% dessas línguas nunca tenham sido estudadas e estejam em risco de desaparecer.
Além das pesquisas na área da linguística, a estrutura do acervo incluirá estudos antropológicos voltados ao registro das manifestações culturais e dos saberes ancestrais indígenas em diversas áreas do conhecimento.
Vale ressaltar que os trabalhos do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Brasil serão liderados por pessoas indígenas, que terão autonomia para decidir quais conteúdos e materiais poderão ser acessados publicamente.
Evento de inauguração
A cerimônia de inauguração foi realizada no dia 20 de maio, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, com a presença de representantes das instituições responsáveis pelo projeto e de autoridades dos Poderes Executivo estadual e federal. Na ocasião, a FAPESP e o Ministério dos Povos Indígenas firmaram um acordo de cooperação para fortalecer as pesquisas e a difusão de conhecimento sobre os povos originários no Brasil.
O evento também contou com apresentações culturais de comunidades indígenas.
“O centro nasce do encontro de instituições que compreendem o valor que os povos indígenas carregam. Língua não é só estrutura gramatical. É território, é identidade, é forma de viver e sentir o mundo. Por isso, este centro nasce como semente que vai germinar conhecimento, políticas públicas, materiais pedagógicos e, acima de tudo, reconhecimento”, declarou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, em entrevista para a Agência FAPESP.
Por Otávio Augusto Rodrigues