PORTO ALEGRE - Os telefones celulares usados no Brasil podem fazer mal à saúde. O professor Álvaro Salles, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), denunciou ontem que a maioria dos aparelhos está fora das normas internacionais de potência dos campos eletromagnéticos, aumentando o risco de danos aos neurônios (células do cérebro) e outros tecidos.
O pesquisador critica a qualidade dos aparelhos usados no país. "Cerca de 60% da potência é absorvida pela cabeça e apenas 40% é usada na transmissão e recepção da energia", diz Salles. O maior perigo, segundo o professor, é o aquecimento provocado pelos campos eletromagnéticos. São os chamados efeitos térmicos. Entre as conseqüências, Salles cita a degeneração dos neurônios e o surgimento de catarata (opacificação do cristalino dos olhos).
Carros - "Telefone celular é para ser usado na rua, não em carros ou residências", advertiu Álvaro de Salles, que na próxima quarta-feira fará uma palestra na UFRGS, sobre efeitos térmicos e não-térmicos dos celulares. Salles explica que os veículos são "uma espécie de blindagem que exige um aumento de potência dos celulares". Ele defende que esses telefones deveriam ser equipados com uma espécie de tela blindada, chamada leque de Faraday, já usada nos fornos de microondas para reduzir a exposição humana às ondas eletromagnéticas.
Além disso, existem os efeitos da contaminação não-térmica, ou biológica, dos campos eletromagnéticos. Diversos estudos associam este efeito a alterações dos cromossomos e do processo de transferência de cálcio nas células nervosas. Mas não há resultados definitivos. "Ninguém sabe quais os efeitos biológicos do uso intensivo de celulares nos próximos 10 ou 20 anos", diz o pesquisador.
"Mas no caso dos efeitos térmicos - aquecimento das células pela proximidade de transmissão e potência dos campos eletromagnéticos - as conseqüências já são bastante conhecidas", disse Salles.
Limite - Para regular os efeitos térmicos, os especialistas estabeleceram normas internacionais de proteção. O limite máximo de potência é de 1,6 miliwats por grama de tecido humano no caso de telefones celulares. "No Brasil, os aparelhos ultrapassam esse limite", frisou o engenheiro gaúcho.
As proteções técnicas são menores no Brasil. Entre outras razões, isto ocorre porque a forma de transmissão no país é analógica, ao contrário da digital americana. Por isso, o brasileiro recebe mais potência térmica dos campos eletromagnéticos. Os aparelhos aqueceriam as células do sistema nervoso.
Além disso, as células eletrônicas dos aparelhos americanos são menores e estão mais próximas das antenas de recepção e transmissão. Ou seja, emitem menos potência eletromagnética para transmitir os telefonemas.
Nos Estados Unidos, a distância média dos telefones em relação às antenas-base é de dois quilômetros contra 10 quilômetros, em média, no Brasil. "Como aqui è necessário mais potência na transmissão, a cabeça do usuário recebe mais energia eletromagnética", disse o professor gaúcho.
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Jornal do Brasil