Notícia

JC e-mail

Célula-tronco combateria epilepsia

Publicado em 26 agosto 2004

Equipe da Fiocruz desenvolve terapia que promete ajudar a tratar distúrbios neurológicos Roberta Jansen escreve para 'O Globo': Cientista do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, da Fiocruz, na Bahia, Beatriz Monteiro Longo desenvolve um projeto inédito no país, para avaliar a eficácia do uso de células-tronco maduras no controle das crises epiléticas e no tratamento da epilepsia. Resultados preliminares, obtidos em animais, mostram que o tratamento seria viável, pelo menos na fase aguda, pois as células ajudariam a regenerar o tecido cerebral. Previsto para terminar no fim de 2006, o projeto está sendo desenvolvido no Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia do centro, ligado à Fiocruz, sob a coordenação de Ribeiro dos Santos e em parceria com Luiz Eugênio Mello, da Unifesp. Beatriz falará sobre seus estudos na XIX Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, em Águas de Lindóia (MG), que termina no próximo dia 28. Em entrevista exclusiva ao Globo, ela adiantou alguns pontos da pesquisa, que considera promissora para o tratamento da epilepsia e de outros distúrbios cerebrais. A Pesquisa: "Na primeira etapa do projeto, vamos investigar o papel das células-tronco provenientes da medula óssea nas crises epiléticas e determinar se o número dessas células aumenta na corrente sanguínea, se elas migram para o cérebro durante a crise aguda, se se diferenciam (e em que tipos de célula), e em que área cerebral isto acontece. Na segunda etapa, vamos verificar a possibilidade de tratar animais epiléticos crônicos com essas células-tronco e avaliar se haverá diminuição da freqüência e alteração no padrão das crises." Objetivo: "Nossa hipótese é que células-tronco da medula óssea possam contribuir para a regeneração do tecido nervoso após crises epiléticas." Resultados: "Induzimos uma crise convulsiva em camundongos que haviam recebido células de medula óssea de animais geneticamente modificados para expressar uma proteína fluorescente em todas as suas células. Observamos que essas células fluorescentes injetadas na corrente sanguínea migraram para o cérebro em grande quantidade durante ou logo após a crise convulsiva (fase aguda). Sabemos que uma pequena porcentagem dessas células são células-tronco, que podem se diferenciar em neurônios ou glia." Esperança: "É um resultado interessante que indica que o tratamento com células-tronco de medula óssea seria viável, pelo menos na fase aguda. Ele sugere que um tratamento baseado em transplante de células-tronco seria possível em outras doenças ou traumatismos cerebrais." Ambiente: "O que determina a diferenciação de uma célula-tronco é o ambiente em que ela se encontra. Por um motivo desconhecido, essas células se voltam para áreas que estão sofrendo algum estímulo ou estresse, no caso, a crise epiléptica." Otimismo: "Sei que pacientes e suas famílias acompanham ansiosos notícias de resultados positivos. O melhor a se fazer é deixar tudo claro. Temos muito trabalho pela frente. É preciso continuar pesquisando pois há muitas questões a responder. Mas estou entusiasmada e muito otimista, pelo menos em relação a este projeto. Acho que os resultados iniciais abrem perspectivas para se pensar numa possível terapia celular não só para tratar epilepsia, mas para outros distúrbios do sistema nervoso, como o AVC (acidente vascular cerebral)." (O Globo, 26/8) JC e-mail 2594, de 26 de Agosto de 2004.