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Célula de defesa tem papel importante na regulação da inflamação causada pela obesidade, aponta estudo (25 notícias)

Publicado em 19 de maio de 2023

Por André Julião, da Agência FAPESP

Um tipo de célula de defesa que se encontra em todo o corpo, mas em baixa quantidade, pode ser a chave para entender como se desenvolvem a obesidade e os danos hepáticos causados ​​pelo excesso de medicamentos ou pelo acúmulo de gordura no órgão.

Em estudo divulgado na revista Relatórios de Célulasum grupo liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que um tipo de linfócito T, conhecido pela sigla iNKT, contribui para regular a obesidade e está envolvido em danos ao fígado.

“Essa célula é encontrada em vários órgãos, mas no tecido adiposo parece ter uma função reguladora, o que ajuda a controlar a obesidade. Enquanto no baço e no fígado, está envolvido no controle da inflamação. Agora, podemos entender melhor como isso acontece”, explica. Cristhiane Favero Aguiarprimeiro autor do estudo e companheiro de pós-doutorado da FAPESP no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

“Os iNKTs ocorrem em uma frequência muito baixa, menos de 1% dos nossos leucócitos circulantes são desse tipo. No entanto, eles respondem rápida e intensamente a patógenos ou a moléculas que demandam uma resposta e, portanto, desempenham um importante papel antiinflamatório em alguns contextos, como no tecido adiposo”, diz. Pedro Moraes-Vieira See Moreprofessora do IB-Unicamp suportado pela FAPESP e coordenadora do estudo.

A pesquisadora explica que, até então, sabia-se que, conforme você fica obeso, o número dessas células diminui. No entanto, como isso aconteceu ainda era um mistério. O grupo então utilizou a técnica do transcriptoma, que mostra tudo o que é expresso em determinado tecido ou célula. Com isso, ele encontrou diferentes genes no iNKT do tecido adiposo, baço e fígado que poderiam ter um papel importante em sua função.

Mesma célula, funções diferentes

Em experimentos com camundongos, os pesquisadores observaram que os iNKT encontrados no fígado e no baço são semelhantes do ponto de vista metabólico, dependendo da glicose a ser ativada. Ao desativar, no iNKT encontrado nesses órgãos, o gene Pkm2ligados à produção de glicose, eles tinham capacidade prejudicada de mitigar uma lesão hepática aguda.

Por outro lado, as mesmas células encontradas no tecido adiposo dependem de outro gene, o AMPK, para cumprir sua função naquele tecido. Quando o gene foi desativado, impedindo a produção de uma proteína ligada ao metabolismo lipídico, as células perderam a capacidade de manter seu próprio funcionamento em equilíbrio. Como resultado, eles não conseguiam mais regular a inflamação causada pela obesidade no tecido adiposo.

Em outras análises, os pesquisadores mediram o conteúdo de mitocôndrias – organelas que produzem energia para a célula – e observaram que no fígado e no baço era semelhante. No entanto, no tecido adiposo iNKT, as mitocôndrias apresentaram menor massa e formato mais esférico.

Outras medições mostraram ainda mais espécies reativas de oxigênio no tecido adiposo iNKT, o que pode ser um sinal de desequilíbrio do sistema. Além disso, detectaram maior presença de proteínas provenientes do metabolismo dos ácidos graxos, ligadas à obesidade.

Esses resultados sugerem que o microambiente ao redor das células influencia o perfil imunometabólico do iNKT, o que pode ter consequências diretas em sua funcionalidade.

Os pesquisadores então injetaram iNKT saudável retirado do tecido adiposo em camundongos obesos, o que fez com que os animais perdessem peso. O efeito não foi observado quando iNKT que não produz AMPK foi injetado.

“Pudemos aprofundar nosso conhecimento sobre a regulação imunometabólica específica de cada um desses tecidos pelas células iNKT. Isso impacta diretamente no curso da inflamação causada por danos no fígado e obesidade”, conclui Aguiar, atualmente pós-doutorando no Trinity College Dublin, na Irlanda.

O estudo contou com a colaboração do professor Alexandre Keller, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e grupos da Universidade de São Paulo (USP). Também recebeu apoio da FAPESP por meio de outros oito projetos (07/13607-815/15626-819/25973-819/19435-319/06372-319/11490-521/11/2000-7 Isso é 18/21018-9).

O artigo O perfil metabólico específico do tecido impulsiona a função das células iNKT durante a obesidade e lesão hepática pode ser lido em: www.cell.com/cell-reports/fulltext/S2211-1247(23)00046-3.

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Originalmente publicado em https://agencia.fapesp.br/celula-de-defesa-tem-papel-importante-na-regulacao-da-inflamacao-causada-pela-obesidade-aponta-estudo/41415/