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Catálogo on-line registrará acervo cultural de fazendas paulistas (1 notícias)

Publicado em 17 de outubro de 2014

A expansão cafeeira na região central de São Paulo, nos séculos 18 e 19, legou um valioso patrimônio artístico, mobiliário, bibliográfico e arquitetônico ao Estado. Boa parte desse acervo está dispersa por dezenas de antigas fazendas do interior e ainda não foi catalogado. A sua identificação é importante para o registro, gestão e preservação e para torná-lo conhecido pela sociedade, diz Luzia Sigoli Fernandes Costa, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

 

A catalogação desses fragmentos da história paulista exige metodologia específica para seu inventário. Seu compartilhamento, por sua vez, demanda o desenvolvimento de um sistema de software que torne essas informações acessíveis via web. A tecnologia de informação e comunicação é ferramenta fundamental para a preservação, ela argumenta. E, por tratar-se de patrimônio privado, a catalogação tem de prever que especialistas e proprietários ou responsáveis pelas fazendas compartilhem responsabilidade no inventário de seu patrimônio em ferramentas específicas para esse fim.

 

O projeto Critérios de metodologias para a realização de inventários do patrimônio cultural paulista buscou responder aos desafios da catalogação, desenvolvendo uma metodologia que atendesse ao Padrão de Descrição da Informação (PDI) e ao provimento de conteúdos para o sistema web Memória Virtual Rural (MVR).

 

Apoiado pela FAPESP no âmbito de convênio de cooperação científica com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), da Secretaria Estadual da Cultura, o projeto envolveu o grupo de pesquisa Patrimônio cultural: memória, preservação e gestão sustentável, da UFSCar, coordenado por Costa.

 

A equipe multidisciplinar, com representantes das áreas de Ciências Humanas, da Informação e da Computação, Arquitetura e Urbanismo, incluiu também pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP), além das universidades estaduais de Campinas (Unicamp) e Paulista (Unesp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

 

Padrão de descrição da informação A metodologia baseada em PDI possibilita a indexação de todo e qualquer tipo de bem patrimonial, de natureza material (arquitetônicos, arqueológicos, arquivísticos, bibliográficos, entre outros) ou imaterial (depoimentos, receitas, festas etc.), incluindo sua representação textual, imagética e sonora.

 

O ponto de partida foi o estudo de códigos, normas e recomendações nacionais e internacionais e as experiências de desenvolvimento de inventários patrimoniais com o uso de tecnologias apropriadas para o armazenamento de dados e a disponibilização via web, explica a pesquisadora.

 

O segundo passo foi a identificação de uma instituição de memória a ser inventariada. Começamos com 17 fazendas para ter ideia da variedade do acervo que poderíamos encontrar, reduzimos depois para cinco e elegemos finalmente três para completar o levantamento de dados, afirma Costa. O grupo contou com a colaboração de proprietários para a autorização da pesquisa e consulta do acervo.

 

O levantamento orientou a criação de fichas de indexação de bens, divididas em 11 grupos de atributos, com informações desde as mais gerais até descrições detalhadas do bem patrimonial, como, por exemplo, o estado de conservação e preservação e o registro de intervenções eventualmente já realizadas.

 

Esse conjunto de atributos relacionados aos bens patrimoniais passíveis de serem cadastrados arquitetura, mobiliário etc. constituíram mais de 63 campos de informações que abastecerão a base de dados do sistema MVR.

 

Memória Virtual Rural O MVR começou a ser desenvolvido em 2003 pelo ICMC/USP para a catalogação e disseminação de informações de acervos históricos de várias instituições, no contexto do projeto Memória virtual de São Carlos, coordenado por José Carlos Maldonado e apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas. Trata-se de um software livre, ou seja, qualquer instituição que desejar utilizá-lo pode fazê-lo de forma gratuita.

 

Os primeiros esforços para a padronização de conteúdo, adoção de linguagem controlada e integração e intercâmbio entre sistemas foram desenvolvidos ainda no projeto Patrimônio Cultural Rural: espaço privilegiado para pesquisa, ensino e turismo, também apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas, coordenado por Marcos Tognon, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e encerrado em 2012. Na época, os pesquisadores realizaram estudos dos campos e subcampos de diferentes sistemas nacionais em uso para fundamentar a necessidade de desenvolvimento de um PDI.

 

No projeto atual, os pesquisadores buscaram consolidar esse padrão, ainda em caráter piloto. Quando a análise de compatibilidade do sistema MVR e do PDI tiver sido concluída, os interessados em cadastrar seus bens patrimoniais poderão usar esse sistema de forma amigável e gratuita. As informações serão validadas por comitês técnicos e de conteúdo antes de serem disponibilizadas para um público mais amplo, afirma a pesquisadora.

 

Há, ainda, desafios na área de segurança dos dados mantidos na base de dados do sistema MVR. Caso seja de interesse [do proprietário], a própria instituição pode transformar essa base de dados em um sistema privativo, de modo a ocultar dados de sua localização, reduzindo a exposição, sublinha a coordenadora do projeto. (Fonte: Agência FAPESP)