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Caso raro de gambá com raiva indica circulação do vírus em áreas urbanas (33 notícias)

Publicado em 29 de dezembro de 2023

Em 2021, no Parque Bosque dos Jequitibás, em Campinas, foi encontrado o corpo de um gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris). A causa da morte, determinada por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de São Paulo (USP), foi meningoencefalite causada pela raiva.

Este caso, publicado na revista Emerging Infectious Diseases, levanta preocupações sobre a presença do vírus da raiva, que é fatal para os humanos, em ambientes urbanos.

Eduardo Ferreira Machado, que liderou o estudo durante seu doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP), alerta: “É importante monitorar outros mamíferos que possam ser vetores do vírus, principalmente animais negligenciados por esse tipo de vigilância, como os gambás”.

Os sintomas neurológicos observados no animal sugerem que a doença causa paralisia e é transmitida por morcegos. A detecção de partículas virais em outros órgãos indicou que a infecção estava na fase de disseminação sistêmica.

Em 2021, a equipe testou 22 gambás e 930 morcegos para raiva e outras doenças. Entre os morcegos, 30 testaram positivo para a raiva.

A transmissão entre morcegos e gambás pode ocorrer devido à interação entre os animais, que competem por habitats naturais e aqueles fornecidos pelos humanos.

Em 2014, um caso de raiva em um gato foi notificado em Campinas (SP). O vírus era de uma variante encontrada em morcegos. Assim como os gatos, os gambás também podem predar esses animais, o que leva à hipótese mais provável para a transmissão.

Dos 22 gambás analisados, 15 foram mortos por ataques de cães. “Os cães poderiam ser uma ponte entre os gambás e nós, trazendo a raiva e outras doenças para os humanos. Por isso, a importância de monitorar os animais silvestres que vivem nas cidades”, completa Machado.

Os gambás são estratégicos para esse tipo de vigilância, pois se adaptam bem a ambientes urbanos, sem necessariamente deixar de interagir com áreas silvestres.

Os pesquisadores continuam investigando animais mortos que chegam ao Centro de Patologia do Instituto Adolfo Lutz, tanto para monitorar a presença de raiva como de outras doenças.

Uma das ideias para continuar os estudos é firmar parcerias com instituições em outros países que realizem a vigilância de marsupiais como os gambás, por exemplo, a Austrália.