Encontrado em 2021, no Bosque dos Jequitibás, região central de Campinas, o corpo de uma fêmea de gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), mamífero também conhecido como saruê ou sariguê, teve a causa da morte determinada por um grupo de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de São Paulo (USP), além de profissionais da saúde de instituições públicas dos municípios de São Paulo e Campinas: meningoencefalite causada por infecção pelo vírus da raiva.
Publicado na revista Emerging Infectious Diseases , o resultado acende um alerta sobre a presença do vírus, mortal para humanos, no ambiente urbano.
Os sinais neurológicos da doença detectados no animal sugerem a forma que causa paralisia e é transmitida por morcegos. A detecção de partículas virais em outros órgãos indicou, ainda, que a infecção estava na fase de espalhamento sistêmico.
O gambá foi um dos 22 testados para raiva e outras doenças pela equipe em 2021, no âmbito de um projeto de vigilância epidemiológica realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e o Centro de Controle de Zoonoses de Campinas.
Ponte para os humanos
A transmissão entre morcegos e gambás pode se dar pela interação entre os animais, que competem por hábitats tanto naturais (como alto de árvores) quanto aqueles fornecidos por humanos (sótãos de casas, por exemplo).
Os pesquisadores destacam ainda que, dos 22 gambás analisados, 15 haviam sido mortos por ataques de cães. “Os cachorros poderiam ser uma ponte entre os gambás e nós, trazendo a raiva e outras doenças para os humanos. Por isso, também, a importância de monitorar os animais silvestres que vivem nas cidades”, completa Machado.
Os autores lembram que um estudo dos anos 1960 sugeriu que os gambás seriam resistentes ao vírus da raiva, um argumento que ganhou força pelo fato de haver relatos escassos de casos da doença nesses animais. (Agência Fapesp)