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Cartilha mostra dependência do uso de dados pessoais para estratégia de divulgação de produtos (1 notícias)

Publicado em 12 de dezembro de 2024

Rosely Figaro comenta a respeito de cartilha que ajudou a formular e que procura informar sobre a coleta e trajetória de utilização de dados pessoais pelas empresas de tecnologia

Um dos pontos apresentados na cartilha analisa o método e aplicação realizados após a coleta dos dados pessoais – Foto: Pexels

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A coleta e utilização de dados pessoais por empresas de tecnologia através das redes sociais é um dos temas mais discutidos em meio à contemporaneidade de um mundo intensamente tecnológico. Frente a esse questionamento, pesquisadores e grupos de intelectuais procuram saber o real impacto de tal atividade e esse é o caso da professora Rosely Figaro, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT).

Rosely Figaro – Foto: usp-br.academia.edu

Como um projeto temático com o apoio da FAPESP, o grupo de pesquisa coordenado pela professora é responsável pela formulação da pesquisa intitulada Datificação da Atividade de Comunicação e Trabalho dos Comunicadores . O projeto consiste na formulação de uma cartilha , logo, um material educativo com finalidade de contribuir para o esclarecimento da população sobre o uso de ferramentas digitais.

“Nós estudamos os documentos da Meta, do Google, do X, do Tik Tok e de outras, com o objetivo então de compreender o que acontece no passo a passo dos nossos dados. E, quando nós concluímos esse estudo, nós ficamos muito admirados, estupefatos mesmo, da gravidade do problema. E pensamos que não podíamos deixar isso só na nossa pesquisa na universidade, só nos testes científicos, só na divulgação voltada para a área de comunicação dos profissionais. Então nós resolvemos abrir no projeto uma atividade de cultura e extensão, muito focada na escola, na família, na juventude e nas crianças”, explica a professora.

Mercantilização dos dados

Rosely destaca a gravidade da situação ao reforçar o caráter comercial atribuído aos dados pessoais coletados pelas grandes empresas de tecnologia. Ela ressalta, como introduzido na cartilha educativa, a dependência do mercado dessas informações privadas, que orientam tanto a produção de mercadorias quanto as estratégias de divulgação de produtos.

“Temos que entender que vivemos uma época em que o modo de produzir valor, de conseguir produzir lucro, além de produzir produtos, uma mercadoria, ela está unida ao ato de produzir informação. Então, os meios de informação foram todos digitalizados e as relações das pessoas para produzir qualquer coisa, desde uma fala, como nós estamos fazendo aqui, até um produto, um sapato, uma peça de roupa, dependem de informação. Então, esse processo todo foi digitalizado e hoje é controlado no mundo por alguns grandes oligopólios.”

Trajetória da informação

Um dos pontos apresentados na cartilha analisa o método e aplicação realizados após a coleta dos dados pessoais. Turvo e longo, Rosely relata que os documentos jurídicos disponibilizados pelas empresas são filas sem fim de instruções cansativas e não esclarecidas. “O primeiro documento é simples, bonitinho, tem uma hashtag para você entender mais. Então você clica para outro documento e assim sucessivamente. Para você entender todo o caminho dos seus dados, no caso do WhatsApp, eu levei oito horas para ler todos os documentos. E tirar dele a compreensão de como sair, de onde ia o meu dado, entende? Então, é impossível, de fato, a pessoa ler tudo.”

Para ela, tal processo facilita a criação de um perfil para cada usuário, expondo informações sensíveis, como origem racial e étnica, sexualidade, opiniões políticas e outros.

Exposição infantil

A professora também denota a insegurança da exposição infantil nas redes sociais. Segundo ela, a exposição das crianças não se atribui apenas aos pais, mas às empresas também, responsáveis pela criação de táticas para impulsionar determinado comportamento.

Para a professora, é necessário apresentar atitudes preventivas para determinada exposição. “Você pode tomar uma atitude em nível pessoal, os pais também, com as crianças, desabilitar certas notificações, instalar plugins de bloqueio de cookies e de anúncios, revisar configurações para ver se você está abrindo demais, ou seja, aquelas atitudes individuais do manuseio do próprio aplicativo”, explica.

Além disso, ela enfatiza a importância em utilizar a legislatura a favor dessa proteção, como a Lei de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) ou a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (NPD). “Nós colocamos na nossa cartilha uma série de entidades, de associações que atuam fortemente, esclarecendo sobre as plataformas, esclarecendo sobre a inteligência artificial, e atuando também frente aos órgãos governamentais e mesmo as plataformas, no sentido de que a gente possa garantir os nossos direitos de cidadão.”

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