Iniciativas e manifestações de empresários além da esfera dos seus negócios não são frequentes, mas se multiplicaram nos últimos três meses
Um mês antes, os presidentes do Itaú Unibanco, Candido Bracher, do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, e do Santander, Sérgio Rial, haviam lançado o Plano Amazônia, de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável da região. “Não é a primeira vez que digo isso nem será a última: o Brasil é a nossa casa e precisamos cuidar muito bem dela. Vários indicadores mostram que não estamos cuidando bem da Amazônia. Somos atores empresariais relevantes e precisamos agir”, declarou Bracher. O Plano Amazônia, prosseguiu, “expressa a nossa preocupação e responsabilidade, como bancos, para promover o desenvolvimento socioeconômico da região e a conservação ambiental. Bradesco, Itaú Unibanco e Santander têm forças complementares e vemos grande potencial de geração de impacto positivo na Amazônia se trabalharmos em conjunto”, sublinhou o presidente do Itaú Unibanco.
Brasil patina e perde terreno num mundo que avança cada vez mais rápido por estar este ancorado na Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação, diz Horácio Piva Faz tempo que alguns bancos e empresas expressam preocupação com o meio ambiente, mas a união de grandes instituições financeiras em iniciativas do gênero é novidade e indica a gravidade da situação naquela área. “Esse plano une Bradesco, Itaú e Santander para contribuir na luta pela preservação da Amazônia. Sabemos que o problema é complexo e por isso decidimos atuar em diferentes frentes que convergem no propósito de valorizar a Amazônia, abrangendo as cadeias biológica, ambiental e produtiva”, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. Em termos práticos, detalhou, a agenda das três instituições “contempla enfrentar o problema do desmatamento e apoiar financeiramente o cultivo, a regulamentação fundiária, a bioeconomia e o desenvolvimento das economias locais. Poderemos contribuir com recursos financeiros e apoio tecnológico para empresas e ONGs que atuam na preservação da Amazônia. Acredito que o ato de proteger a Amazônia significa investir em um mundo melhor e menos desigual, com crescimento econômico sustentável, consumo consciente e respeito ao planeta”.
O Plano Amazônia traduz a preocupação de três grandes bancos O presidente do Banco Santander, Sérgio Rial, explicou a relação com a sociedade buscada pelo trio de instituições financeiras e falou sobre os desafios à frente, nesta declaração: “É do interesse de toda a sociedade recolocar o Brasil no caminho do desenvolvimento sustentável e de longo prazo. Como instituição financeira, somos capazes de conectar diferentes camadas do tecido social, fazendo os recursos fluírem para onde são mais necessários e, muitas vezes, não chegam como deveriam. A dimensão dos desafios que enfrentamos hoje impõe uma atuação mais firme e veloz, o que tem nos levado a unir esforços em nossa indústria e ampliar o alcance das iniciativas, impactando outros setores e agentes econômicos de diferentes portes”.
As ações prosseguiram neste mês com a decisão do presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, considerado pelos seus pares o executivo mais inovador do País, de lançar um programa detraineeexclusivo para negros, medida combatida por grupos disseminadores de ódio, mas que teve repercussão positiva no mercado, como mostrou a valorização de 2,6% nas ações da companhia no dia do anúncio da novidade. Dias depois, o grupo Votorantim divulgou a promoção de debate sobre a cidadania, a cultura democrática e os rumos da consciência política dos brasileiros.
A mobilização de empresários aumentou no fim de setembro com o anúncio de chapa para concorrer às eleições para a renovação da diretoria da Federação das Indústrias de São Paulo. Os candidatos são, pela primeira vez em décadas, influentes no mundo corporativo, dirigentes e também acionistas de grandes grupos industriais. Liderado por Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, o maior grupo têxtil do Brasil e um dos principais da América Latina, dono das marcas Santista, Artex e Calfat, entre outras, a chapa seria composta também por André Gerdau, do grupo Gerdau, José Ermírio de Moraes, da Votorantim, Salo Seibel, da Duratex, Marcelo Ometto, da São Martinho, Flávio Rocha, da Riachuelo, e Dan Ioschpe, da Ioschpe-Maxion. Os atuais presidentes das entidades empresariais dos setores de fabricantes de veículos, máquinas e equipamentos, têxtil, eletroeletrônica, de higiene e gráfica compõem o segundo escalão. Gomes da Silva e demais empresários mencionados fazem parte do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, entidade dedicada ao desenvolvimento de pesquisas e de propostas para o avanço da indústria e da economia.
Grandes industriais disputarão a Fiesp pela primeira vez em décadas A mobilização de empresários corresponde ao retrocesso simultâneo sem precedentes nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, indústria, meio ambiente e direitos. Elemento central ao progresso das nações desenvolvidas, a pesquisa científica e tecnológica e a inovação são a base da competitividade, área em que o Brasil está defasado faz muito tempo. Há anos o País é o penúltimo colocado em competitividade e só ganha da Argentina, em amostra representativa de países acompanhada pela Confederação Nacional da Indústria. As dificuldades do setor, em crise crônica, tendem a aumentar ainda mais com o congelamento dos recursos do orçamento de 2021 e os cortes drásticos das verbas para pesquisa, desenvolvimento e inovação nas esferas federal e estadual.
Trump tem melhora substancial, mas ainda não está fora de perigo, diz boletim médico Corte no MEC pode tirar R$ 1 bilhão da educação básica e atingir também livros didáticos Como a China poderia ter chegado às Américas sete décadas antes de Colombo
Os danos são cumulativos. Neste ano, 88% do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico foi contingenciado. Os financiamentos do BNDES para desenvolvimento tecnológico e inovação das empresas caíram de 2,5 bilhões em 2013 para 164,1 milhões em 2019 e a Embrapii, com contrato prestes a ser encerrado com o MCTI, recebeu um terço dos recursos previstos. São Paulo segue o governo federal com o projeto que ameaça com cortes de verbas a Fapesp, uma das principais instituições de fomento à pesquisa no País, e as universidades públicas do estado, que figuram entre as mais avançadas do Brasil.
A indústria, principal geradora de aumento da produtividade e da inovação, recuou 12,3% no segundo trimestre, em queda histórica registrada pelo IBGE, e foi o setor que mais sofreu no tombo de 9,7% no PIB durante o período que corresponde ao auge da pandemia no País. O ramo de média-alta tecnologia caiu 42,8% e o de alta tecnologia, 15,3% no período.
A produção mundial da indústria de transformação cai no mundo há três anos, mas a participação brasileira encolheu ainda mais do que a média e desceu da 15ª posição para a 16ª entre 2018 e o ano passado, registra a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Em 2010, quando o País ocupava a 10ª posição do
ranking, a produção doméstica respondia por 2,05% do valor adicionado da transformação mundial, caindo para 1,24% em 2018 e 1,19% em 2019. O recuo espelha a queda da participação do setor no PIB, que atingiu 11% no ano passado, o menor nível da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. No ponto mais alto desta série, em 2004, a fatia no PIB foi de 17,8%. Os 11% de 2019 são também o percentual mais baixo desde 1947, calcula o economista Paulo Morceiro, da USP. O pico, de 27,3% de participação da indústria manufatureira no PIB, ocorreu em 1986, segundo o especialista.
Brasil é a nossa casa e precisamos cuidar muito bem dela. Vários indicadores mostram que não estamos cuidando bem da Amazônia, diz Candido Bracher A indústria não vai bem, mas o agronegócio não está a salvo. Ataques do governo a grandes parceiros comerciais, cortes de verbas e subutilização de recursos para o combate a incêndios florestais, estímulo à mineração em áreas indígenas e condescendência diante da agropecuária realizada à custa de devastação da cobertura vegetal geram problemas para o setor. As ameaças de países europeus de rejeitar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul por causa do descaso em relação à Amazônia, o crescimento do boicote a produtos exportados e a multiplicação de fundos de investimento com restrições a aplicações de recursos em ativos nacionais por causa do mesmo problema põem em risco o conjunto da economia e deveriam acionar alarmes em Brasília.
Não é o que ocorre, entretanto, a julgar pela decisão do ministro do Meio Ambiente na segunda-feira 28 de acabar com a proteção aos manguezais e às restingas, para promover turismo e privilegiar a instalação de hotéis em 1,6 milhão de hectares de áreas de preservação. A iniciativa foi sustada, ao menos por enquanto, pela Justiça, devido ao “evidente risco de danos irrecuperáveis ao meio ambiente”.
Trump tem sintomas “muito preocupantes” e as próximas horas são críticas, diz chefe de Gabinete Evento de nomeação da nova juíza do Supremo dos EUA deixa rastro de contágios de covid-19 Ex-Menudo Anthony Galindo morre aos 41 anos
A profusão de indicadores preocupantes inclui o aumento do desemprego em 13,8%, para 13,1 milhões de indivíduos, segundo o IBGE, e a aceleração da saída de dólares de investidores estrangeiros. O conjunto da obra, incidente sobre uma economia estagnada há seis anos, mobiliza os empresários.
Muito obrigado por ter chegado até aqui...... Mas não se vá ainda. Ajude-nos a manter de pé o trabalho deCartaCapital.Nunca antes o jornalismo se fez tão necessário e nunca dependeu tanto da contribuição de cada um dos leitores. Assine