Subsidiária da Embraer, a Eve Air Mobility planeja iniciar a venda do eVTOL em 2026
A startup Eve Air Mobility, subsidiária da fabricante brasileira Embraer com foco no ecossistema de mobilidade urbana aérea, deu um importante passo para tirar do papel seu futurista eVTOL, acrônimo em inglês para veículos elétricos que decolam e pousam na vertical.
A empresa anunciou a conclusão dos testes em túnel de vento de seu carro voador. Os ensaios foram conduzidos em uma instalação próxima à cidade de Lucerna, na Suíça.
“O teste em túnel de vento é uma importante ferramenta de engenharia no desenvolvimento de uma aeronave. Permite que a equipe monitore o fluxo de ar em torno do eVTOL e de cada uma de suas partes individualmente”, informou a Eve em comunicado à imprensa. Túneis de vento são utilizados para simular os efeitos do ar sobre protótipos de aviões, automóveis, pás eólicas, pontes, entre outros dispositivos e estruturas.
No caso específico da Eve, o teste serviu para medir as forças aerodinâmicas que atuam sobre a aeronave em desenvolvimento, permitindo que os projetistas avaliem sua sustentação, eficiência, qualidade de voo e desempenho. Um modelo em tamanho natural do eVTOL foi usado durante os testes, informou a companhia.
“A realização desses ensaios é um passo importante para refinar o projeto de uma aeronave. Só se faz esse tipo de teste quando há um protótipo em estado avançado”, avalia o engenheiro mecânico com ênfase em aeronáutica , da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (FEM-Unicamp). “As informações coletadas são repassadas ao time de engenharia para que possa aprimorar o projeto.”
O principal objetivo do teste realizado na Suíça, de acordo com a Eve, foi investigar e validar o desempenho de diversos componentes do eVTOL (fuselagem, rotores, asas, cauda) durante o voo. “Esse ensaio proporciona uma visão única do comportamento da complexa geometria [do eVTOL] e oferece uma validação de alto nível das características do design”, anunciou a empresa.
Os testes em túnel de vento, segundo especialistas, são considerados uma etapa essencial para a obtenção das certificações do aparelho com as autoridades regulatórias e uma sinalização para o mercado do status do projeto.
Concluída essa etapa do desenvolvimento, a Eve espera finalizar ainda no primeiro semestre deste ano a escolha dos principais fornecedores de partes e equipamentos. No segundo semestre deve ser iniciada a construção do primeiro protótipo em escala real. Testes adicionais estão previstos para 2024 e 2025. A empresa planeja iniciar a operação comercial de seu eVTOL em 2026.
Desafios a serem superados
Depois de passar alguns anos abrigada na incubadora de tecnologias disruptivas Embraer X, a Eve foi criada em 2020 pela fabricante brasileira de aviões para atuar no mercado de mobilidade urbana aérea, segmento que tem cada vez mais atraído a atenção da indústria aeronáutica e automotiva. Airbus, Google, Uber e Toyota têm projetos de eVTOL em andamento.
O conceito do eVTOL brasileiro foi apresentado pela Embraer em 2018. Em julho de 2020, seus engenheiros realizaram o primeiro voo em um simulador, aparelho que recria em ambiente virtual aeronaves em voo, usado principalmente para o treinamento de pilotos.
“Há uma corrida no mundo entre os desenvolvedores de eVTOL, mas não se sabe quem exatamente está na frente”, diz Wolf. Segundo o engenheiro, vários desafios ainda precisam ser superados para que essas aeronaves comecem a operar, entre eles o estabelecimento de um eficiente sistema de gestão de tráfego aéreo.
Sediada em Melbourne, na Flórida (EUA), a Eve contabiliza até o momento quase 2,8 mil intenções de compra de sua aeronave, segundo a agência de notícias Reuters. A companhia aérea norte-americana United Airlines é uma das principais apoiadoras do projeto.
Voos autônomos
O eVTOL da Eve será 100% elétrico, terá um alcance (distância percorrida sem precisar abastecer) de 100 quilômetros e está projetado para transportar quatro passageiros.
Deverá operar como uma espécie de táxi voador, fazendo deslocamentos no perímetro urbano ou pequenas viagens entre cidades próximas. Em um primeiro momento, o eVTOL será conduzido por um piloto, mas a expectativa da empresa é de que no futuro faça voos autônomos com passageiros, sem a presença de uma pessoa na cabine de comando.
As companhias aéreas brasileiras estão investindo no mercado de carros voadores elétricos. Em 2021, a Gol divulgou um protocolo de intenção de compra de 250 eVTOL do modelo VA-X4 da empresa britânica Vertical Aerospace. No mesmo ano, a Azul revelou planos de obtenção de 220 aparelhos da companhia alemã Lilium. Em ambos os casos, a expectativa, na ocasião, era de entrada em operação em 2025.
YURI VASCONCELOS
jornalista
Revista FAPESP
> Com informação da Eve Air Mobility