Aniversário de Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de despejo
Carolina Maria de Jesus nasceu num 14 de março de 1914, na cidade mineira de Sacramento. Em 1937, após a morte da mãe, migrou para São Paulo, sem imaginar que na sua casa na favela do Canindé, registrando seu cotidiano e da comunidade em que vivia, viria a se tornar uma das mais populares e importantes vozes da literatura brasileira. Seu diário de anotações, iniciado em 1955, se transformou no livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.
Carolina, com seu trabalho, deu voz a muitos silêncios, muitos silenciados. Quarto de despejo esgotou sua primeira edição e continua a conscientizar leitores mundo afora da imensas desigualdades vividas no Brasil. O registro de Carolina vai fundo no corte e nos transporta para suas vivências, descortina a cegueira cotidiana que reina sobre uma enorme parcela da população brasileira. E ainda hoje, 61 anos depois de sua publicação, Quarto de despejo ainda é significativo, ainda fala com força e nos faz escutar. E não podemos escutar calados.
Carolina Maria de Jesus ainda publicou outros livros e teve também edições póstumas de seus escritos, um trabalho que deixa claro que a literatura não é posse das elites, que a literatura, que se faz e que se lê, pode e deve ser popular, ao alcance de toda gente.
´´´
Hoje, no dia do seu aniversário, celebramos Carolina e sua escrita potente, que se desdobra, que abre olhos e mentes a um Brasil que está aí, colado na gente.
A trajetória de Quarto de despejo é incrível e muito merecida. Na noite de autógrafos foram vendidos 600. E ao longo do seu primeiro ano, com várias edições, suas vendas ultrapassaram 100 mil exemplares. Um best-seller que chegou a colocar Carolina à frente de Jorge Amado em determinado período.
Quarto de despejo foi traduzido para mais de 13 idiomas e publicado em mais de 40 países desde o seu lançamento e já vendeu mais de 1 milhão de exemplares.
Em fevereiro desse ano a UFRJ concedeu a Carolina Maria de Jesus título de Doutora Honoris Causa. Na justificativa, a comissão destaca a relevância da escritora, nascida na década de 1910 e falecida em 1977, que é tema de 58 teses e dissertações nos últimos seis anos, de acordo com o Portal da Capes.
O documento afirma a importância da concessão do título honorífico pela necessária “reparação histórica do apagamento não de uma personalidade mas de um segmento étnico que historicamente foi negado o lugar na cultura nacional”. Ainda de acordo com as justificativas apresentadas, o papel da Universidade, nesse sentido, seria “não apenas no reconhecimento de injustiças do passado”, mas, sobretudo, o da “construção de novas possibilidades e percursos para mulheres negras, cuja marca de subalternidade, que alijou Carolina Maria de Jesus do espaço público e literário, ainda precisa ser superada”.
Fonte: Conexão UFRJ
Vídeos
Cinquenta e cinco anos depois da publicação de Quarto de despejo, o interesse pela obra da escritora Carolina Maria de Jesus continua se desdobrando. Carolina hoje é revisitada sob diversos ângulos, dada a riqueza de sua produção inédita e de sua vida de altos e baixos. No vídeo produzido pela equipe de Pesquisa Fapesp, a historiadora Elena Pajaro Peres fala sobre aspectos da vida e obra da escritora, ressaltando a importância de verificar aspectos que vão além dos livros e do período em que a autora viveu em São Paulo. Veja como seu trabalho continua a instigar pesquisas. — Pesquisa FAPESP
A reportagem que revelou Carolina Maria de Jesus ao Brasil [ Revista O Cruzeiro, 20 de junho de 1959]