Acredito que todos os que trabalham na área de TI e governo estão ainda indignados com a demissão sumária de Daniel Annenberg, superintendente dos postos Poupatempo de São Paulo. Os postos recebem aprovação de 99% dos usuários, segundo o Ibope, o que supõe notável mudança no relacionamento do Estado com a sociedade civil, já que não é comum ter um índice tão alto de aprovação dos serviços públicos.
Os postos Poupatempo trouxeram um aumento na condição de cidadania. Isso significa de fato que pessoas que não tinham a condição básica de cidadania assegurada passaram a tê-la pela facilidade que os postos trazem ao usuário. Além disso, os postos Poupatempo também mostraram enorme ganho à sociedade. Ao ter seu horário de atendimento ampliado, os cidadãos não precisam perder horas de trabalho para realizar trâmites. Estudos realizados por nossa empresa, e que estão no site www.relogiodaeconomia.sp.gov.br, apontam no Estado de São Paulo uma economia de 190 milhões de reais desde a abertura do sistema.
Mas todas essas conquistas se basearam fundamentalmente num fator: a profunda mudança de gestão e de concepção do atendimento ao cidadão. E houve uma pessoa-chave nesse processo: Daniel Annenberg. Sua determinação, dedicação, convicção e decisão incansável de mudar e melhorar a gestão pública são algumas das suas características, evidentes para todos que o conhecem. Daniel construiu um estilo de liderança enérgico, mas altamente compartilhador. Sabemos o quanto é difícil construir uma homogeneidade de filosofia de trabalho, e isso ele conseguiu. Essa filosofia eu mesma presenciei quando fui ao Poupatempo de Itaquera e estava chovendo. Vi funcionários pegarem guarda-chuvas para buscar pessoas no metrô. Esse é um valor totalmente intangível, imensurável, e realmente faz a diferença.
Sabemos que ele conduziu a construção de uma cultura diferenciada de gestão, na qual sorrir para o cidadão, tratar a todos por igual, nunca favorecer alguém nas filas, vão perdurar, porque a mudança cultural foi profunda em todos os funcionários, que continuam sendo públicos, mas com um perfil diferenciado.
Mas o que mais nos deixa indignados é a demissão sem nenhuma causa, por motivos não justificados. Se Daniel simboliza o novo estilo do gestor público, a mudança estrutural na forma de governar, sua demissão é uma interrupção brusca nesse processo e é algo com o qual não podemos compactuar. Gestores têm de ser avaliados por resultados e demitidos pela falta deles, o que não se encaixa no caso Daniel.
Não posso deixar de citar a velha máxima de Bertold Brecht: "Há homens que lutam um dia e são bons; há homens que lutam um ano e são melhores; há aqueles que lutam muitos anos e são muito importantes; porém, há aqueles que lutam por toda a vida, estes são imprescindíveis."
Algumas poucas pessoas por si só conseguem produzir mudanças significativas, que fazem a diferença em uma organização. Sua garra, determinação e clareza realmente fizeram essa diferença. Sei que onde Daniel estiver trabalhando vai continuar introduzindo excelência ao seu redor. Continuarei apoiando seu trabalho e admirando seu empenho.
Florencia Ferrer é doutora em sociologia econômica, coordenadora do Ned-Gov da FUNOAP-FAPESP e CEO de FF Pesquisa & Consultoria / estratégia pública www.estrategiapublica.com.br, florencia@e-strategiapubIica.
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