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Gazeta Mercantil

Carência de remédios para combater os "supermicróbios" (1 notícias)

Publicado em 02 de fevereiro de 1996

Por Neil Gross e John Carey - Business Week
É uma idéia que causa calafrios: bactérias mortais que os remédios não conseguem matar. Estes "supermicróbios" quase tiraram a vida, há alguns meses, de um paciente diabético de 55 anos, que estava sendo tratado de uma infecção sangüínea no centro médico da Veterans Association de East Orange, no estado americano de Nova Jersey. Os médicos usaram seus antibióticos mais poderosos, mas nenhum conseguiu derrotar o inexorável micróbio. Felizmente, Lisa Dever, chefe da clínica de doenças infecciosas do hospital, estava testando uma droga experimental da Rhône-Poulenc Rorer, chamada Synercid. Ela o administrou ao doente enfraquecido, que, depois de duas semanas de injeções, estava curado. Dever diz que o composto pode derrotar outros assassinos, aparentemente invulneráveis, causadores, entre outras moléstias, da pneumonia e da meningite. Novas parcerias Depois de anos de poucos progressos no combate aos supermicróbios, as grandes indústrias farmacêuticas estão se empenhando em contra-ataques orçados em centenas de milhões de dólares. A Rhône-Poulenc e outras empresas, incluindo a Upjohn, Pfizer, Schering-Plough e Eli Lilly, estão melhorando alguns de seus antibióticos mais antigos, realizando testes clínicos com outros e aprimorando os métodos para identificar e testar novos medicamentos mais depressa. A fim de impulsionar seus esforços, essas empresas estão estabelecendo parcerias com laboratórios científicos e centros de biotecnologia especializados em microorganismos resistentes a drogas. Em dezembro, por exemplo, a Schering-Plough Corp, informou que investiria US$ 44 milhões na empresa Genome Therapeutics, de Waltham, Massachusetts, que está pesquisando genes capazes de penetrar a membrana protetora das bactérias. A necessidade de novos medicamentos não poderia ser mais urgente. Em 1985, apenas 0,02% das infecções registradas nos EUA se mostrou resistente a penicilina, diz o microbiólogo Alexander Tomasz, da Universidade Rockefeller, que foi um dos primeiros a acionar o alarme. Em 1993, infecções resistentes a antibióticos estavam matando dez mil americanos por ano. O que tornou impotentes a penicilina e outros antibióticos reconhecidamente eficazes? Os cientistas atribuem a explosão dos micróbios resistentes a medicamentos a muitos fatores, desde o uso abusivo dos antibióticos na medicina e na agricultura até a disseminação de procedimentos cirúrgicos invasivos e à densidade populacional dos grandes centros urbanos. Os próprios fabricantes de medicamentos merecem alguma crítica. De acordo com a revista Scrip, dirigida ao setor, 50% dos fabricantes de antibióticos dos EUA e do Japão interromperam o desenvolvimento de novos produtos em meados dos anos 80, acreditando que tinham vencido a batalha contra os micróbios. Na corrida para recuperar o terreno perdido, a primeira droga nova de importância a chegar às prateleiras deverá ser o Synercid, da Rhône-Poulenc. O medicamento pode receber a aprovação do Food and Drug Administration (FDA), o departamento dos EUA responsável pelo controle e liberação de alimentos e medicamentos, já em 1997, para alguns usos, se o departamento concordar em uma liberação rápida. Logo depois, pode ser a vez de um grupo de compostos chamados oxazolidinones, que a Upjohn desenvolveu com o fim de barrar a habilidade de multiplicação dos supermicróbios. E a Lilly está melhorando a vancomicina, um dos poucos antibióticos eficazes contra os supermicróbios. A Lilly aguarda a aprovação do FDA para uma nova versão da vancomicina, que seria até cem vezes mais potente do que a atual. Por mais premente que seja a necessidade das novas drogas, porém, seu potencial de gerar lucros é incerto. Normalmente, o desenvolvimento de um medicamento custa cerca de US$ 200 milhões. Richard Vietor, analista da Merrill Lynch & Co., diz que a relação entre a dosagem do medicamento tomada pelo paciente e o capital investido pela empresa para desenvolvê-lo é desigual; as doses tomadas pelo paciente podem ser pequenas demais para representar uma recompensa financeira às empresas. O paciente talvez precise tomar o novo remédio durante apenas quinze dias para derrotar uma bactéria resistente aos antibióticos, ao passo que no combate a doenças crônicas, como a hipertensão, pode ser necessário tomar o remédio durante anos a fio. Dever diz que um único antibiótico de espectro amplo, como o Primaxin, da Merck & Co., pode representar até 10% ou 20% de tudo quanto um hospital gasta na compra de medicamentos — e, nem sequer é eficaz contra muitas variedades resistentes de bactérias. E as indústrias conseguem cobrar um preço mais caro pelas substâncias novas e mais poderosas que produzirem. Uma tecnologia mais desenvolvida também deveria reduzir os custos. Na batalha das indústrias farmacêuticas contra o reino dos micróbios, os bons soldados ganharam algum terreno. Mas a guerra ainda não está ganha.