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G1

‘Canto de agonia': estudo registra uso de ultrassom por rã da Mata Atlântica na defesa contra predadores (28 notícias)

Publicado em 15 de abril de 2024

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) registraram pela primeira vez na América do Sul, o "canto de agonia". O ultrassom emitido pela rã-do-folhiço (Haddadus binotatus), espécie endêmica da Mata Atlântica, auxilia na defesa contra predadores.

Segundo o mestrando Ubiratã Ferreira Souza, primeiro autor do trabalho, alguns potenciais predadores dos anfíbios (como morcegos, roedores e pequenos primatas) conseguem emitir e ouvir sons nessa frequência. Uma das hipóteses é que o canto seja direcionado para algum deles.

O pesquisador também explica que é possível que a ampla frequência - registrada entre 7 a 44 quilohertz - seja generalista, o que poderia espantar o maior número possível de predadores. A partir dos 20 quilohertz, o som é inaudível para humanos.

O pesquisador também explica que é possível que a ampla frequência - registrada entre 7 a 44 quilohertz - seja generalista, o que poderia espantar o maior número possível de predadores. A partir dos 20 quilohertz, o som é inaudível para humanos.

Outra hipótese é que o canto seja usado para atrair outro predador, que por sua vez atacaria o animal que estivesse em vias de predar o anfíbio, no caso, a rã-do-folhiço.

Durante o canto, segundo Ubiratã, a rã-do-folhiço faz uma série de movimentos típicos de defesa contra predadores, como foi visto pelos biólogos.

O animal levanta a parte frontal do corpo e abre a boca jogando a cabeça para trás. Depois, fecha a boca parcialmente, emitindo o canto com parte da frequência audível por nós, de 7 a 20 quilohertz, e parte inaudível, de 20 a 44 quilohertz.

Captação do comportamento

Além do apoio pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o artigo teve suporte do Projeto Dacnis, durante um dos estudos de campo que proporcionaram a descoberta, realizado em Ubatuba.

"Nós já tínhamos alguns indícios que a espécie pudesse cantar em um ultrassom, principalmente por causa de um trabalho de doutorado do Felipe Toledo, que foi publicado em 2009", diz Ubiratã. Luís Felipe Toledo é orientador do estudo e professor do Instituto de Biologia da Unicamp.

O animal do vídeo foi localizado durante uma coleta de autores do artigo do Projeto Dacnis. "Quando estavam coletando lá na região de Ubatuba, viram o animal pulando na serrapilheira, que é essa camada de vegetação que fica acima do solo. Então fizeram os estímulos simulando predadores e acabaram por captar o comportamento de defesa e o canto ultrassônico", conta o mestrando.

Indícios de ultrassom por outra espécie

A pesquisadora da Unicamp Mariana Retuci Pontes, coautora do estudo, observou comportamento semelhante em outra espécie, possivelmente uma rãzinha-da-floresta (Ischnocnema henselii), no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar) em 2023.

Enquanto tentava fazer uma foto do anfíbio, o animal realizou o mesmo movimento corporal de defesa enquanto emitia um som parecido com o da rã-do-folhiço. Ambas as espécies não estão ameaçadas de extinção.

Segundo Mariana, cerca de um metro distante da rã, estava uma jararaca (Bothrops jararaca), o que reforça a evidência de que o comportamento é realizado diante de predadores. No entanto, não foi possível constatar a presença de ultrassom no ruído da espécie.

Luís Felipe Toledo, não descarta a possibilidade da rãzinha-da-floresta emitir também o canto de agonia, já que as espécies vivem em ambientes parecidos (camada de folhas sobre o solo) e têm predadores similares.

Os outros registros de uso de ultrassom por anfíbios foram feitos em três espécies da Ásia. No entanto, a frequência é usada para comunicação entre indivíduos da mesma espécie. Em mamíferos, o ultrassom é comum entre baleias, morcegos, roedores e pequenos primatas. O uso para defesa contra predadores era algo inédito até então entre anfíbios.

Por Giovanna Adelle, Terra da Gente