Quase duas Itaipus estão adormecidas nos canaviais do Brasil. Embora conhecido, esse potencial de geração de energia só não avança porque faltam incentivos e sobram problemas estruturais.
Hoje, a biomassa supre 39% da demanda por energia na indústria e 17,5% do consumo de biocombustíveis nos transportes a partir da cana (15,7%), da lenha e do carvão vegetal (8,1%), entre outros.
Por falta de investimento, a energia não escoada está represada em metade das 355 usinas termelétricas do país movidas com a queima de bagaço da planta, afirma Zilmar de Souza, gerente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
“O problema está na conexão das usinas com a rede. Há casos em que a fiação precisa ser levada a até 70 km de distância e quem assume esse custo é o empresário.”
Mesmo assim, o setor gerou 20,2 TWh de energia em 2015, o suficiente para abastecer 10 milhões de casas por um ano, segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
A usina Ferrari, em Porto Ferreira (a 228 km de SP), investiu R$ 250 milhões em 2009 para produzir energia com bagaço e palha da cana. O retorno do investimento anda lento, diz o gerente Hênio Respondovesk. “Temos intenção de dobrar nossa produção, mas ainda não é o momento.” A usina tem capacidade instalada de 80 MWh.
FÔLEGO
Usar o bagaço da cana para produzir energia é estratégico para o país, segundo especialistas. A atividade sucroalcooleira é um dos cobertores das hidrelétricas, quando estas estão com seus reservatórios em estado crítico.
“A energia de biomassa deve servir de fôlego aos entraves ambientais e jurídicos que as hidrelétricas passam”, afirma José Goldemberg, presidente da Fapesp (agência de fomento à pesquisa de SP).
Segundo o Greenpeace, o consumo da fonte passará dos atuais 27% para 49% na metade do século.
Elizabeth Farina, presidente da Unica, acha esse crescimento pouco provável. Ainda mais, diz, em um cenário de recuperação de uma crise iniciada em 2009 e que ainda não terminou. “Cerca de 80 usinas fecharam. Os preços dos leilões de energia flutuam muito e só tornam o futuro ainda mais imprevisível”.
(Folha de S.Paulo, 26/8/16)